De repente, por volta de meia-noite, já no trevo da cidade natal, uma van surgiu no breu tentando entrar no mesmo acesso. O veículo em que estavam bateu na lateral. “Estava numa rede social quando vi o outro carro entrando na nossa frente de uma vez. O motorista da nossa van tentou frear, mas não conseguiu. A batida foi muito forte, assustadora. Achei que alguém tinha se machucado, porque estava todo mundo dormindo e acabou sendo uma confusão dentro do carro, com muita gente gritando.”
A situação de trabalho exaustivo durante o dia e enfrentamento de vários quilômetros para frequentar aulas em outras cidades é semelhante à do ônibus que transportava 34 estudantes e tombou na rodovia Mogi-Bertioga, em São Paulo, no último dia 8, deixando mortos o motorista e 17 alunos, em acidente que comoveu o país. Um abaixo-assinado apócrifo foi encontrado entre os pertences dos passageiros, pedindo a troca de motoristas por motivo de imprudência, mas não se sabe se o apelo era referente àquele veículo e ao condutor.
Os perigos enfrentados nesse tipo de transporte são ainda maiores devido ao serviço clandestino ofertado em municípios da Grande BH. Em levantamento feito pela reportagem do Estado de Minas com apoio de motoristas credenciados pelo Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), para o transporte intermunicipal de estudantes foram encontrados, em sete instituições de BH, 31 vans sem permissão, entre 81 estacionadas nos arredores de faculdades avaliadas. O número representa 38% do total, ou quase dois a cada cinco veículos.
O serviço clandestino traz ainda mais ameaças devido à falta de garantia pelo DER-MG de vistorias no veículo e acompanhamento do motorista. São perigos que se somam a situações enfrentadas por todos os estudantes que encaram as estradas mineiras à noite, como o grande tráfego de veículos pesados de transporte de carga, que dominam o trânsito no horário, neblina que encobre as pistas, estradas ruins e sem duplicação.
O susto sofrido pelos estudantes de Matozinhos foi a materialização do medo que sentem vários jovens que precisam deixar a Grande BH e os municípios do entorno para cursar à noite uma faculdade. “A gente sabe que é perigoso, mas, se não for assim, não pode cursar a faculdade e investir no nosso futuro. Não temos condições de encontrar outro lugar para morar em BH só para estudar”, disse Guilherme.