Vans escolares viram alvo de assaltantes em BH

Três assaltos a vans ou micro-ônibus registrados em quatro dias em BH acendem alerta entre motoristas e pais. Polícia sugere criação de "rede de proteção", a exemplo do que fazem taxistas

Valquiria Lopes
Leandro Borges, motorista de micro-ônibus assaltado ontem: "Ele (o ladrão) ameaçou me matar" - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press
Com uma arma apontada para a cabeça do motorista e gritos de ameaça de morte, dois assaltantes obrigaram crianças e adolescentes de dois micro-ônibus de transporte escolar a entregar celulares e pertences pessoais durante diferentes ocorrências registradas ontem na Região Nordeste de Belo Horizonte. Nas duas situações, os motoristas foram feitos reféns e os assaltantes, em motos, exigiram que eles desligassem o motor. No Bairro Nazaré, oito celulares foram levados de um grupo de 14 alunos na faixa de 15 a 17 anos, estudantes do Colégio Estadual Central. No Bairro Acaiaca, como a maioria do grupo de 25 alunos era de até 8 anos, as crianças começaram a chorar e apenas um aparelho foi roubado. Os assaltos de ontem, somados a mais um caso registrado na semana passada, acenderam o alerta entre condutores, pais e a polícia para uma possível nova modalidade criminosa.

Motorista que dirigia o micro-ônibus assaltado no Bairro Nazaré, Leandro Tadeu Pimenta Borges, de 35 anos, relata momentos de pânico pelos quais passou por volta das 6h30, desde que o bandido encostou a arma em sua cabeça pelo vidro do ônibus e pediu para desligar o veículo. “Ele deu a volta, com o revólver na mão, e entrou. Alguns meninos não queriam entregar o celular, então ele ameaçou me matar”, disse, lembrando que a ação durou entre dois e três minutos. “Em um primeiro momento, você acha que o bandido vai atirar.
Fiquei desnorteado, tive até uma dor no peito”, contou na tarde de ontem, pouco antes de fazer mais uma viagem. “A gente vai, mas, com o pé atrás agora.”

A suspeita é de que os dois crimes de ontem tenham sido cometidos pelo mesmo homem. Segundo militares da 24ª Companhia do 16º Batalhão da Polícia Militar (PM), o primeiro caso ocorreu na Rua Lauro Rodrigues da Cunha (Acaiaca). O outro assalto foi na Rua Déa Márcia Chalup (Nazaré). Na sexta-feira, o ataque a uma van com estudantes do Colégio Tiradentes, da Polícia Militar, foi registrado também na Região Nordeste de BH (Bairro União) e por volta das 6h30. De acordo com a Polícia Militar, o motorista contou que parou na Rua Edson para embarcar um aluno quando um motociclista armado parou na frente dele. O bandido exigiu que ele entregasse a chave, entrou no veículo e roubou quatro celulares. Os passageiros tinham entre 15 e 18 anos. Logo em seguida, o criminoso devolveu a chave e fugiu.

Presidente do Sindicato dos Transportadores de Escolares da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Sintesc), Carlos Eduardo Campos, afirma que a categoria está preocupada e avalia os fatores de risco que colocam escolares na mira de bandidos. “O transporte escolar é vulnerável. O motorista não anda armado, não vai e nem pode reagir. Os veículos transportam crianças, que entram em pânico e isso pode resultar em uma tragédia”, enumera. “Além disso, os escolares seguem uma rota e o ladrão pode programar a ação, em um horário em que as ruas ainda estão desertas”, acrescenta.

Para Campos, o fato de estudantes portarem celulares, tablets e outros eletrônicos cada vez mais caros também faz do transporte escolar alvo de bandidos.
Os três casos levam motoristas e donos de empresas de transporte escolar a cobrar mais policiamento. “É preciso mapear as regiões onde esses crimes estão ocorrendo e intensificar as operações de abordagem a motociclistas”, defende o empresário Anderson Gontijo Pascoal, de 37, dono do veículo assaltado ontem no Nazaré. Segundo ele, todos os aparelhos levados eram de valor superior R$ 500.

PROVIDÊNCIAS Sobre os casos em sequência, a assessoria de imprensa do Comando de Policiamento da Capital (CPC) informou que a corporação está aberta para discutir medidas de prevenção com o sindicato que representa o transporte escolar. Entre as medidas citadas para aumentar a segurança, o CPC listou reorganização de rotas e horários e orientações aos pais de alunos. O CPC informou ainda que redes protegidas como as que já existem em coletivos e no sistema de táxi podem ser adotadas pelos escolares.

Por meio de nota, o 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pela área dos crimes, informou que todas as providências foram tomadas para atendimento às ocorrências, como rastreamentos na região, coleta de imagens, entre outras, além do direcionamento do registro à Polícia Civil, que vai investigar os crimes. Ainda segundo o documento, o 16º BPM mantém policiamento constante nas áreas de sua responsabilidade, com patrulhas de prevenção ativa, de atendimentos comunitários, de operações, e também por meio de redes de proteção com comerciantes e moradores.

Entrevista

Ana Carolina Santiago,  dona de micro-ônibus assaltado ontem no Bairro Acaiaca

“As crianças começaram a chorar”

Como foi abordagem do bandido?
Vinte e cinco alunos estavam no carro, sendo 18 crianças. O escolar parou para pegar um estudante e o assaltante bateu na porta depois que ela já estava fechada. Como pais costumam chamar depois que o aluno entra, o motorista abriu e foi abordado com uma arma na cabeça. O bandido o obrigou a desligar o carro e gritou para os alunos entregarem os celulares, ameaçando matar o motorista.
O pânico foi geral. As crianças começaram a chorar e apenas um aluno entregou. Aí ele foi embora.

Qual sensação ficou depois desse assalto e dos outros registrados nos últimos dias?
Estamos apreensivos. Essa é uma situação muito complicada. Os pais não mandam os filhos de ônibus para a escola por medo da violência. Somos um serviço que oferece segurança e tranquilidade às famílias e esses assaltos comprometem esse objetivo.

O que pode ser feito para evitar esses ataques?
Difícil falar com os pais para não entregar um celular para o filho, porque o aparelho é útil para qualquer situação de emergência com as crianças na escola, para dar um recado, para se comunicarem de modo geral. É preciso que o policiamento seja reforçado, com ações específicas para motociclistas em atitude suspeita, já que eles estão agindo de moto..