O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é claro: nos cruzamentos sem semáforos, a prioridade de travessia é do pedestre. Em 26 anos de carteira de habilitação, o taxista Marcelo Duarte dos Santos, de 56, segue a lei à risca.
Mas, ao ver a pedestre, ele não teve dúvida. Na faixa da esquerda, parou, sinalizou com a seta, fez sinal para que ela passasse e ainda forçou o condutor que trafegava à direita a adotar a mesma iniciativa. “Se eu vir qualquer pessoa na faixa, paro. É do meu comportamento”, diz o taxista, com 14 anos de profissão. “Às vezes, até mato outros motoristas de raiva, porque acham que eu não deveria parar. Quem está atrás costuma interpretar mal, acha que estou fazendo gracinha. E buzina”, conta, acrescentando que não se deixa abalar.
A equipe do Estado de Minas passou duas horas observando vários cruzamentos com intenso movimento de veículos e pedestres na Região Centro-Sul. E, neles, além de Marcelo apenas outros três motoristas seguiram a lei. Um deles foi o eletricista Moisés de Paula Ferreira da Silva, de 42. Ele fez sinal para uma jovem atravessar a Rua Outono, esquina com a Grão Mogol, no Sion, e ainda esperou, com a maior tranquilidade, um senhor que vinha atrás. “Sempre ajo assim. Isso é respeito ao direito do próximo.
No mesmo local, o motorista de guincho Deiverson Ferreira, de 35, também obedeceu a prioridade e garantiu que age assim em qualquer circunstância. “Sempre deixo o pedestre passar, mas na maioria das cidades em Minas Gerais os motoristas não agem assim, talvez pela pressa”, afirmou. Na Rua Padre Odorico, esquina com a Rua Major Lopes, no Bairro São Pedro, os motoristas foram implacáveis com os pedestres, obrigando todos a esperar uma brecha para atravessar. A faixa parecia não existir. Houve condutores que avançaram sobre a faixa mesmo diante de alguém que já havia começado a travessia – cena comum pelas ruas e avenidas da capital. Apenas um veículo, uma BMW, cedeu a passagem.
DOR NO BOLSO Em cruzamentos da Avenida Bandeirantes, cenas de desrespeito se repetiram. Por isso, não adianta faixa de pedestre sem fiscalização intensa, na opinião do professor de engenharia de transporte e trânsito Márcio Aguiar, da Universidade Fumec. Ele considera que as multas são o meio mais eficaz para obrigar motoristas a cumprir a lei. “Tivemos mobilizações na implantação do Código de Trânsito Brasileiro, mas não houve continuidade”, critica.
O especialista defende que campanhas sejam feitas paralelamente a ações ostensivas.
Para o taxista Marcelo dos Santos, um dos motoristas exemplares de BH, há algo ainda mais precioso que envolve a decisão de adotar a conduta certa. “Isso tem que vir de berço. E não pode ser de vez em quando. Não quero para os outros o que não desejo para mim”, diz. Parar na faixa é uma questão simples: “É seguro para mim e para os pedestres. Temos que preservar o bem maior, que é a vida”.
.