Faculdade de medicina capacita profissionais para atender mulheres vítimas de violência

Márcia Maria Cruz
Mulheres vitimas de estupro. L.P.L. sofreu estupro e faz tratamento por causa do trauma. - Foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS
O combate à violência contra a mulher será o tema do evento Para elas e para eles, promovido pela Núcleo de Promoção de Saúde e Paz da Faculdade de Medicina da UFMG. O objetivo é dar visibilidade para a violência como um problema de saúde pública. “A violência foi incorporada no escopo da saúde por ser a maior causa de adoecimento, transtornos e problemas de saúde das mulheres”, afirma professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Elza Machado de Melo, uma das organizadoras do evento. Ela reforça que os órgãos como a Organização das Nações Unidas, Organização Pan-americana de Saúde e todas as agências da área tratam a violência da mulher com um problema de saúde.

Em Minas, em média, 11 mulheres são estupradas por dia, segundo dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) referentes aos quatro primeiros meses deste ano. Só no Ambulatório de Saúde Mental de Mulheres do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que atende vítimas de violência sexual em Belo Horizonte, foram 21 denúncias de estupro entre janeiro e abril, sendo que, em cinco casos, as mulheres relataram ter feito ingestão de álcool e/ou drogas e sido estupradas a seguir, lembrando parcialmente do que ocorreu depois.

O evento será realizado no Parque Municipal Renée Giannetti a partir das 9h de domingo. Haverá oficinas de dança, roda de conversa e prática de atividades físicas como uma forma lúdica de abordar e refletir sobre a questão. “A violência, qualquer que seja sua forma de expressão, é um problema complexo.
Exigindo, dessa forma, a participação de todos os cidadãos e de todas as instituições brasileiras no esforço para construir opiniões e vontades coletivas, capazes de fazer frente ao problema”, afirma. As mulheres vítimas de violência são atendidas por equipe multidisciplinar no Hospital das Clínicas.

O Núcleo de Saúde e Paz atua na formação e capacitação dos profissionais. Cerca de 200 profissionais fizeram mestrado em saúde, 1 mil passaram por cursos de capacitação em Minas e outros 1 mil, de todo o Brasil, por treinamentos online. “Muitas vezes, esses profissionais tiveram formação voltada para a questão biológica, mas a violência tem repercussão biológica, psicológica e social”, pontua. A professora lembra que, apesar da existência da Lei Maria da Penha, ainda são muitos os casos de violência contra a mulher. “Apesar da Maria da Penha, ainda é um problema muito grave. Apesar de estarmos no século 21, a violência persiste.

A maior parte dos casos acontece dentro de casa de forma silenciosa. Muitas mulheres são violentas, mas não falam. O evento tem como objetivo trazer o debate para a esfera pública. A cada 4 minutos, uma mulher sofre algum tipo de violência em Minas Gerais. Por hora, o número chega a 15.
Por dia, são 353 agressões. Os dados – referentes a 2015 e divulgados ontem – fazem parte do Diagnóstico de Violência Doméstica e Familiar nas Regiões Integradas de Segurança Pública, elaborado pelo Centro Integrado de Informações de Defesa Social (Cinds) da Seds. No ano passado, 129.054 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência – física, psicológica e patrimonial.  

A violência física lidera as ocorrências, seguida pela psicológica e patrimonial, segundo o balanço de 2015. As mulheres submetidas à violência física sofrem agressões, estupros e homicídios. A psicológica compreende abandono material, ameaça, constrangimento ilegal, maus-tratos, perturbação do trabalho e do sossego, sequestro e cárcere privado e violação domicílio. Já os crimes patrimoniais se configuram quando parceiro se apropria de bens e objetos ou as explora financeiramente.

O evento é uma realização do Núcleo de Promoção de Saúde e Paz, o Mestrado Profissional de Promoção de Saúde e Prevenção da Violência, junto ao Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG. Para participar, não é necessário fazer inscrição prévia..