Matheus Teodoro de Oliveira, de 7 anos, que luta desde o seu nascimento contra uma displasia neuronal intestinal, doença que o impede de se alimentar por vias naturais, embarcou na manhã desta sexta-feira para Miami, nos Estados Unidos, onde vai ser submetido a um transplante no hospital Jackson Memorial Medical. A viagem foi possível depois que a União quitou os custos do tratamento, cerca de R$ 4,1 milhões. O garoto chegou às 7h em um dos hangares do Aeroporto da Pampulha e foi recebido pelo Raposão, mascote do Cruzeiro, amigos e familiares sob clima de muita emoção e expectativa.
Ele saiu de Betim em uma ambulância UTI, acompanhado da família, que o seguiu em um comboio até o aeroporto. Matheus passou a última noite na casa de uma tia e fazia contagem regressiva para o embarque desde o início da semana. “Ele já levantou dizendo ‘partiu Miami’. Falava que faltava dois dias, depois um dia e que deveríamos aproveitá-lo”, lembra a prima do garoto Isabela Oliveira. “Perguntei se depois de ir a Disney e conhecer todos os personagens, ele voltaria. Ele me disse: ‘Ah Isabela, vamos ver, né? Se lá (EUA) for legal...’”, lembrou a prima.
Matheus viajou em um avião UTI, com toda a estrutura médica necessária para que ele chegue bem aos Estados Unidos.
O menino ainda encheu o pai de beijos e seguiu com a mãe, Gecilene Oliveira, para os Estados Unidos. “A gente conseguiu vencer a primeira de muitas batalhas que temos”, disse a mãe, momentos antes de embarcar. “Eu agradeço a todos que nos apoiaram e acompanharam até este momento”, completou. Márcio Teodoro, pai de Matheus, estava bastante emocionado e também agradeceu o apoio recebido na campanha #JuntospeloMatheus, com milhares de seguidores na internet e que chegou a arrecadar R$ 700 mil. “O coração fica apertado, mas vai dar tudo certo com o Matheus. Se tudo correr bem, ele volta em dois anos”, disse.
A chegada em Miami estava prevista para a noite de ontem e nos próximos 20 dias ele passa por uma bateria de exames. “Os exames vão analisar a condição de cada órgão para saber quais serão transplantados, depois ele vai para uma residência aguardar o procedimento. A espera pode levar de dois a seis meses”, contou Isabela, que é prima de Matheus. “Passada a cirurgia, ele fica internado no hospital por duas semanas e, assim que tiver condições, vai para casa se recuperar e não ter riscos de infecção”, acrescentou. Feito o transplante, a expectativa é de que o garoto fique mais um ano nos Estados Unidos, onde fará todo o acompanhamento médico.
Emoções Para a tia de Matheus, Sônia Oliveira, a viagem é uma “ficha que ainda não caiu”. “O barulho, a presença dele é muito forte, ele é 24 horas ligado. Esse momento é de mistura de emoções. É alegre porque ele vai se cuidar e triste porque vai ficar longe de mim”, resumiu. O último dia ao lado do Matheus também foi de alegria, marca registrada do menino, mas de muita ansiedade. “Ele estava apreensivo, muitas pessoas queriam falar com ele”, contou. Entre os planos para a volta, ela lembra uma travessura de criança, que é o sonho do garoto. “Quando voltar, combinamos que ele vai subir em árvore. Ele também diz que quer subir na porta até o alto e pular lá de cima. A minha esperança é que ele volte completo, com o intestino funcionando bem”, revelou.
Sônia também agradeceu o apoio recebido por anônimos e personalidades, entre eles o cantor Samuel Rosa e os jogadores Marcelo Moreno, Leandro Donizete e Fábio.
Cruzeirense, Matheus ganhou notoriedade nacional em outubro de 2015, quando entrou em campo com os jogadores do clube na partida contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro. Com o Mineirão lotado, ele teve o nome cantado pelos torcedores celestes. Desde então, a causa foi abraçada por jogadores, dirigentes, personalidades de diversas áreas e pessoas comuns, que fizeram doações para a campanha. Os recursos arrecadados, cerca de R$ 700 mil, são utilizados exclusivamente para a melhoria da qualidade de vida do menino. A família precisa prestar contas de todos os saques à Justiça.
Memória
Processo marcado por recursos da União
O advogado da família de Matheus, José Antônio Guimarães Fraga, lembrou, durante o embarque do garoto, a dificuldade do processo. “A gente teve dificuldade grande por parte do governo em implementar uma decisão judicial que foi proferida em meados de dezembro do ano passado. Foram vários recursos por parte da União. Perderam todos e, finalmente, depois de tanta luta e batalha, a gente conseguiu”, disse. Ele anexou ao processo a cópia do contrato, mostrando que está trabalhando no caso de maneira não onerosa, além de juntar os extratos da conta desde o início do processo. A conquista do Matheus foi destacada pelo advogado por ele ser primeira criança em Minas (ele mora em Betim, na Região Metropolitana de BH) a conseguir o tratamento e se tornar precedente para outras crianças em situação igual ou pior. A mãe de Matheus, Gecilene Oliveira, iniciou o processo para custear o tratamento em 16 de dezembro do ano passado. Dois dias depois, em 18 de dezembro, foi tomada uma decisão favorável à família, mas o governo federal tentava reverter a determinação, alegando que o transplante poderia ser feito no Brasil. Um parecer do médico Sérgio Paiva Meira Filho, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, afirmava não haver “equipe competente para a realização desse procedimento na população pediátrica do Brasil”. Em 29 de abril, a União chegou a acatar a decisão do juiz federal Daniel Carneiro Machado e se comprometeu a pagar o transplante, mas não fez o depósito. (Com informações de Sandra Kiefer)