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Estado de Minas

EM traz fotos inéditas das manifestações que incendiaram BH em 2013

Três anos depois dos atos de junho de 2013, veja fotos inéditas dos confrontos entre manifestantes e PM e mostra que cidade ainda guarda marcas dos protestos


postado em 28/06/2016 06:00 / atualizado em 04/12/2017 08:19

Chamas e bombas de gás marcaram o mês de junho de 2013(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 17/06/2013)
Chamas e bombas de gás marcaram o mês de junho de 2013 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 17/06/2013)
Três anos depois dos protestos de junho de 2013, o Estado de Minas mostra que ainda há marcas dos confrontos entre manifestantes e Polícia Militar (PM) nas avenidas Antônio Carlos e Abrahão Caram, nas imediações do Mineirão, e traz fotos inéditas da convulsão na Pampulha e em outras regiões da capital.  A área em torno do estádio, transformada em território sob a jurisdição da Federação Internacional de Futebol (Fifa) durante os jogos da Copa das Confederações, foi o local dos conflitos mais radicais. Por causa dos atos, uma concessionária de veículos fechou as portas desde então e em outras ainda há vestígios de pedradas. As grades instaladas no Viaduto José Alencar não deixam esquecer as quedas que causaram as mortes de Luiz Felipe Aniceto de Almeida, de 22 anos, e Douglas Henrique de Oliveira, de 21, respectivamente nos dias 22 e 26 de junho.


A multidão ocupou sucessivamente as ruas da capital de 15 de junho até o fim do mês, com protestos praticamente em todos os dias, mas o confronto do dia 26, data da partida entre as seleções do Brasil e do Uruguai, no entorno do Mineirão, onde a PM montou um bloqueio de segurança, ficou marcado como o mais violento da história de Belo Horizonte. Moradores e comerciantes das avenidas Antônio Carlos e Abrahão Caram, mesmo passado tanto tempo, lembram-se com detalhes do protesto.

Grupos de manifestantes e a polícia se enfrentaram em barreiras que limitavam o entorno do Mineirão(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 22/06/2013)
Grupos de manifestantes e a polícia se enfrentaram em barreiras que limitavam o entorno do Mineirão (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 22/06/2013)
As concessionárias apontam prejuízos financeiros causados pelo quebra-quebra, que resultou na demissão de funcionários. O diretor administrativo da Brasvel Antigos & Importados, Evandro Gonçalves Nunes, guarda as imagens das portas sendo atacadas por manifestantes. “Descemos as portas de aço, que aguentaram as pancadas. Vi tudo pelas câmeras de vídeo na minha casa. Não tinha o que fazer”, afirmou. Segundo ele, com a proteção das portas de aço, os vidros não se quebraram, mas os trilhos foram empenados e tiveram que ser trocados. “A estrutura ficou comprometida e tivemos que contratar alguém para consertar. O prejuízo foi de R$ 15 mil.”

Cenas que não serão esquecidas: vândalos atacam loja, manifestante é atendido no meio da rua e multidão ocupa a Avenida Antônio Carlos(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 23/06/2013)
Cenas que não serão esquecidas: vândalos atacam loja, manifestante é atendido no meio da rua e multidão ocupa a Avenida Antônio Carlos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 23/06/2013)

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 17/06/2013)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 17/06/2013)
Tão impactante como o dia 26, o 17 de junho, data do jogo entre Nigéria e Taiti, não sai da memória do gerente de vendas corporativas da Hyundai, na Avenida Antônio Carlos, Gilmar Seixas. Ele lembra que foi o primeiro dia em que grupo de mascarados atacou a concessionária. “Fechamos as portas, mas continuamos na loja. Foi um pânico geral. Vários vidros quebrados e carros danificados. Muito gás lacrimogêneo e bala de borracha”, recorda. A orientação foi para que as mulheres fossem para a parte interna da loja enquanto os homens faziam uma barreira. “Eles tentavam colocar fogo na loja e a gente tentava apagar com a mangueira. Falamos para eles que éramos trabalhadores, foi quando pararam”, relembra.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 23/06/2013)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 23/06/2013)
Depois do conflito do dia 17, a loja instalou tapumes para proteger os vidros, mas, ainda assim, não foi possível evitar os prejuízos: cerca de R$ 100 mil. A concessionária Hyundai teve que ser reconstruída, conforme lembra a gerente comercial Karina Santana Fontes Coelho. “Tivemos que refazer tudo. Só aproveitamos o telhado.” A loja ficou fechada cinco meses para a reforma, o que resultou, segundo ela, na dispensa de 30% do quadro de funcionários.

Morador da Pampulha, Henrique recorda do aparato policial montado nos arredores do estádio em dias de jogo(foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
Morador da Pampulha, Henrique recorda do aparato policial montado nos arredores do estádio em dias de jogo (foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
SEM SENTIDO Morador da Avenida Abrahão Caram, Bruno Henrique Silva Muniz, de 29, não esquece a dificuldade para conseguir chegar ao Mineirão, que fica a dois quarteirões de sua casa, para assistir à partida entre Brasil e Uruguai. “O sentimento era que estávamos numa guerra. A cada metro que avançava, tinha que apresentar o ingresso e minha identidade para poder prosseguir”, afirma. Ele lembra do sentimento de medo ao ver tanto aparato policial. “Os protestos eram necessários, mas perderam o sentido”, avalia. Chefe de almoxarifado de restaurante que fica a poucos metros do Mineirão, Vanilda Pereira Ferreira, de 55, trabalhou nos dias de conflito, mas não ficou amedrontada. “Tinha muitos policiais, que formavam fileiras nos dois lados da avenida”, lembra.

Funcionário de uma concessionária de veículos, Gilmar fala do pânico quando manifestantes tentaram invadir a loja(foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
Funcionário de uma concessionária de veículos, Gilmar fala do pânico quando manifestantes tentaram invadir a loja (foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
O tenente Cristiano Araujo, que responde pela Sala de Imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais, afirmou que as manifestações de junho de 2013 foram de aprendizado para a corporação. “Ninguém poderia supor que 20 centavos resultariam numa inflamação social daquela ordem”, afirma. Para ele, o confronto ocorreu pelo desejo dos militantes chegarem à delimitação do perímetro do Mineirão determinado pelo governo do estado e pela Fifa. A diferença na forma como os manifestantes estavam organizados, sem uma única liderança, na avaliação do tenente, dificultou as negociações. “Eram lideranças espontâneas, quase que individuais. Como avançar na conciliação se não há uma liderança como referência?”, questionou. “A insistência de irem até o Mineirão teve que ser cerceada pelo uso progressivo da força”,completa. O tenente, no entanto, defende que a maioria dos manifestantes colaborava.


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