PRAZER EM AJUDAR

Parceiros ajudam a financiar brinquedotecas em hospitais, creches e instituições

Iniciativa ajuda crianças a enfrentar dificuldades por meio de atividades lúdicas

Junia Oliveira
A terapeuta ocupacional Karine Santos, na brinquedoteca do Hospital das Clínicas: o lugar de ser criança para pacientes muitas vezes internados por mais de um ano - Foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press
Num ambiente quase hostil, eles têm em comum a dor, seja por alguma patologia, seja pelo abandono. Em hospitais e casas de acolhimento, crianças e adolescentes travam uma luta diária. Longe de casa para tratar doença ou curar coração e alma da desestruturação familiar, aquele espaço se torna um verdadeiro lar, com cantinho especial para a infância passar como deve ser: ativa, sem pressa e com o doce sorriso da vida. É esse o gostinho que ganham as brinquedotecas em hospitais, instituições de acolhimento e creches. Construídas e financiadas por parcerias de peso, elas se tornam locais de aconchego e queridinhas da meninada.


No Lar Irmã Veneranda, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste de Belo Horizonte, cerca de 15 crianças carentes com idade entre 7 e 12 anos terão, a partir de hoje, livros e brinquedos para entrarem num mundo de encantamento. A instituição recebe a oitava brinquedoteca da Fundação CDL Pró-Criança. A antiga sala de televisão da casa lar foi o espaço escolhido para ser transformado em um lugar lúdico-pedagógico com brinquedos, livros, materiais escolares, tatames, cantinho da leitura, televisão e aparelho de DVD. “Nesse espaço, as crianças poderão brincar e desenvolver habilidades motoras e cognitivas, tendo um melhor aproveitamento de seu tempo na casa”, afirma o presidente da fundação, Vilson Mayrink.

Criado em 2011, o projeto Brincadeira é coisa séria é fruto da parceria entre a Fundação CDL Pró-Criança, CDL/BH e da CDL Jovem.

As outras brinquedotecas construídas em instituições de acolhimento, creches e hospitais de BH já beneficiaram 335 crianças e adolescentes. Mayrink explica que o espaço da diversão é sempre feito num cômodo do imóvel. “Você pega um ambiente sem nada e possibilita uma oportunidade para a criança brincar e ler, despertando o lado vocacional dela”, diz o presidente, que espera inaugurar ainda este ano mais uma brinquedoteca.

No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, em BH, o décimo andar também tem algo a mais. Lá, crianças internadas – algumas por longo tempo, podendo chegar a mais de um ano – veem na brinquedoteca o lugar de ser criança. É onde a dor passa, acaba, é esquecida. É onde se pode movimentar, criar e, dentro do possível, pular. Deixar ser criança, como todas as outras. Ali, sonda, soro, bombinhas parecem não existir, mesmo que junto a equipe médica e familiares tenham que ficar por perto para controlar tanto alvoroço e cuidar dos equipamentos que, infelizmente, alguns pequenos não podem deixar para trás. As brincadeiras são livres, observados os devidos cuidados.

O espaço para brincadeiras e leitura do Lar Irmã Veneranda, inaugurado hoje - Foto: Cristina Horta/EM/DA Press“A brinquedoteca se torna fundamental nesse ambiente hostil, no qual as crianças são privadas do lar, dos irmãos, do brincar. Traz um lugar próprio da infância, que é perdido quando elas entram aqui. Trocam com outras crianças, conhecem brincadeiras novas, têm alegria”, descreve a terapeuta ocupacional Karine Silva Santos, uma das responsáveis pelo espaço. Ela conta que, quando não há atividades, os meninos ligam alvoroçados querendo saber o porquê. “Outro dia havia duas funcionárias gripadas e, por isso, não pudemos abrir o local.
Um menino questionou: elas que estão gripadas e nós que pagamos o pato?”, contou, aos risos.

ALEGRIA A brinquedoteca foi construída com apoio da Fundação Sara Albuquerque Costa e do Instituto Ronald McDonald. Hoje, a manutenção conta com pessoas que conhecem o trabalho e querem colaborar. “O espaço ameniza o sofrimento da internação. Brincar tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança”, destaca Karine.

É o que reitera a gerente da assistência social da Fundação Sara, Fernanda Aparecida Araújo: “A brinquedoteca hospitalar é uma forma de trazer o universo infantil, das cores, dos brinquedos, da alegria, para um ambiente que normalmente envolve muita dor e sofrimento. O brincar é terapêutico na medida que possibilita a expressão e elaboração dos sentimentos. Por meio das brincadeiras, a criança fala dos seus conflitos e de seus medos. A brinquedoteca, além de contribuir na humanização do ambiente hospitalar, é fundamental na promoção de saúde”.

A fundação reforma e humaniza ambientes hospitalares onde as crianças e adolescentes assistidos pela entidade fazem tratamento, sendo o Hospital das Clínicas um deles. Fernanda diz que promover a melhoria do tratamento é um dos pilares da entidade. Por meio da parceria com o Instituto Ronald McDonald, foram reformados e equipados espaços da Santa Casa de BH e de Montes Claros (Norte de Minas). Todas as melhorias feitas são fruto da campanha McDia Feliz.
Este ano, a fundação pretende participar novamente, para fazer mais melhorias no tratamento oferecido pelas Santas Casas das duas cidades.

Vilson Mayrink, da Fundação CDL, diz que ajudar é fácil: basta ir e participar. “Ficamos no mundo da gente, com nossa pressa e compromisso e não vemos que à margem de nós há tanta dificuldade e sofrimento. A coisa mais difícil é o tempo que você não tem para se dedicar à causa social. Devolvemos para a sociedade um ser humano melhor, com mais educação. Por meio do nosso projeto, temos a oportunidade de servir a comunidade.”

TRANSFORMAÇÃO
Na Creche Padre Francisco, no Bairro São Geraldo, Região Leste de Belo Horizonte, o antigo quarto de despejos passou por verdadeira mágica, graças ao projeto Jornada Solidária Estado de Minas. Nem a viga principal impediu a proposta de transformar o espaço em uma brinquedoteca. Com alguma imaginação, o obstáculo virou uma pista de corrida para as crianças, que curtiram a novidade. “Para nós, é fundamental construir uma brinquedoteca nas creches, seja com o aproveitamento de um cantinho que já havia ou com a construção a partir do zero, algumas até com palco para teatro”, afirma a jornalista Isabela Teixeira da Costa, coordenadora da Jornada Solidária Estado de Minas. No novo formato do programa de responsabilidade social dos Diários Associados de Minas Gerais, já foram reformadas e/ou construídas 35 creches comunitárias, todas elas contendo brinquedotecas.

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