Espera em UPA de Santa Luzia sacrifica pacientes

Unidade do Bairro São Benedito é a única do município que faz triagem para atendimento no SUS. Para piorar, a demora da transferência para outros hospitais leva pacientes ao desespero e até à morte

Sandra Kiefer
Para ser atendido no Sistema Único de Saúde (SUS), todo paciente precisa passar, antes, por uma triagem, que será feita em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA).
Em Santa Luzia, entretanto, a única UPA disponível está localizada no distrito de São Benedito, a quase 10 quilômetros do Centro. É preciso atravessar as ruas estreitas da cidade histórica para que o doente seja atendido no Hospital Municipal Madalena Calixto, na mesma região central. A distância – que acaba matando os doentes muito graves – é uma das razões para as 225 mortes ocorridas entre março e setembro do ano passado, que estão sendo investigadas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), conforme noticiou o jornal Estado de Minas na edição de anteontem.

A triagem dos pacientes urgentes ficou ainda mais prejudicada com o fim da parceria entre o hospital filantrópico João de Deus, localizado no Centro, desde que a administração municipal se negou a renovar o convênio com a unidade de saúde.

Na portaria da UPA, os relatos de demora nas transferências para hospitais mais próximos são inúmeros. “É uma carnificina. A avó do meu esposo, de 74 anos, quebrou a perna em dois lugares e ficou três dias aguardando vaga”, afirmou uma mulher, que ontem tentava internar o tio havia dois dias, com quadro de cirrose. “Cheguei enfartando aqui, por volta das 5h. Parecia que tinha um elefante no meu peito.
Eles me estabilizaram até chegar ao hospital. Só fui transferido às 19h”, revela o supervisor de logística Lourival Lourenço, de 37, que demorou nada menos de 14h para ser atendido.

A Prefeitura Municipal admite o gargalo da triagem no sistema de saúde de Santa Luzia, que poderia ser corrigido com a renovação do convênio com o hospital filantrópico ou com a construção de uma segunda Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), na região Central. A administração contesta o número de mortos divulgados pelo MP, que cairiam para menos de 189 óbitos se os cálculos fossem refeitos um a um. Na lista da promotoria, teriam sido incluídos casos de atropelamentos e de atingidos por balas perdidas, que já chegam mortos nas ambulâncias, mas são contabilizados inicialmente como sendo transferência.

O número de óbitos na UPA no período analisado foi levantado pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Saúde do MP, coordenado pelo promotor Gilmar de Assis, que estava ontem em reunião no Ministério da Saúde, em Brasília. A estatística levou em consideração os termos das declarações de óbito, mas as causas não foram informadas. As investigações prosseguem na esfera cível, mas o inquérito policial foi encerrado com a morte do prefeito de Santa Luzia Carlos Alberto Calixto, em 6 de janeiro último, vítima de aneurisma. A vice-prefeita, Roseli Pimentel, que assumiu o mandato, não teria sido notificada pelo MP, segundo informou a assessoria de imprensa..