Invasões urbanas ocupam área de risco e se alastram pela Antônio Carlos

Vizinhos denunciam novas construções irregulares próximo ao Viaduto Moçambique, na via que foi reformada para receber os ônibus do Move

Gustavo Werneck
Barracos estão instalados em área ao lado de viaduto - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS
Ontem eram quatro, hoje são cinco e amanhã podem ser seis, quem sabe mais. Antes de madeira e agora de alvenaria, barracões já tomam conta de uma área de risco ao lado do Viaduto Moçambique, na Avenida Antônio Carlos, no Bairro Cachoeirinha, Região Nordeste da capital.

Erguidos à revelia do poder público, os barracos começaram a surgir há um ano, conforme vizinhos, e estão em lotes da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e particulares. A mais nova de incontáveis invasões nos arredores da Antônio Carlos, cuja obra de duplicação foi inaugurada há quatro anos, irrita comerciantes, temerosos de que o cenário repita a situação do entorno do Anel Rodoviário, na rodovia BR-381, que foi dominado por invasões e passou em alguns pontos a abrigar grandes aglomerados, com ameaça aos próprios ocupantes, devido ao tráfego pesado da via.

Nesse caso, uma esperança: o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) começou no início da semana a identificar aproximadamente 600 imóveis na Vila da Luz, na Região Nordeste, no trecho em que estão previstas obras de ampliação da capacidade da via.

Enquanto isso, na Avenida Antônio Carlos, na tarde de ontem era possível ver ocupantes se movimentando nas imediações dos barracões vizinhos ao viaduto, onde uma escadinha escavada na terra serve de acesso entre a avenida e a Rua dos Operários. Um homem carregava uma lata de material de construção, enquanto uma mulher puxava uma criança pela mão, em direção à porta, levando lenha na outra. Além dos tijolos, as construções ganharam placas de madeira, semelhantes a pedaços de tapume, e, pelo visto, tendem a se expandir em progressão aritmética.

“É uma situação impressionante. Ontem mesmo, os invasores cavaram um novo pedaço do terreno, indicando que devem  fazer um alicerce.
Foi preciso até ameaçar, pois senão iriam, quem sabe, chegar ao quintal da gente”, contou uma mulher que vive na vizinhança.

Com medo de que a ocupação da área signifique não só irregularidade urbana, mas também violência, um comerciante disse que está no limite da paciência. “Tudo isso começou em junho do ano passado e já dá para ver que a Antônio Carlos está tomada por invasões, muitas delas camufladas de ferros-velhos. Gastaram tanto dinheiro público para dar nisso. A prefeitura envia técnicos, o caso está na Justiça, mas ninguém toma providência efetiva. Logo que começou, a Guarda Municipal deveria ter agido para impedir”, diz, com revolta, um comerciante. Ele conta que diariamente, em plena luz do dia, os ocupantes sobem com material de construção para ampliar a invasão, sem se incomodar com a fiscalização ou a lei.

EXALTADOS Pela conversa com vizinhos e comerciantes, nota-se que os nervos estão realmente à flor da pele. “Acho que esse povo só vai sair daqui na base da bala. Sei que são ‘profissionais da invasão’, gente que estava em outras áreas, conforme vi pessoalmente. Quando ‘muda o vento’, procuram outros terrenos em ponto nobre para levantar barracões. Onde será que isso vai parar? A cada hora aumenta mais. Teremos outro Anel Rodoviário?”, questiona outro comerciante da Avenida Antônio Carlos.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Hipérides Atheniense, explica que a Prefeitura de BH ajuizou ação para retirada das famílias ocupantes de parte da margem do Viaduto Moçambique, há um ano: “É uma situação perigosa, pois se trata de uma área de risco, um barranco. Depois acontece alguma coisa e vão culpar o município.
O processo judicial está tramitando, mas ainda não há definição”, diz o secretário, admitindo que essa é a “enésima” ocupação na Antônio Carlos.

“A política da PBH é, ao verificar a construção irregular de barracos, retirar de imediato as famílias. Mas, nesse caso específico, a invasão do terreno ocorreu durante um feriado prolongado. Foi da noite para o dia. Quando vimos, famílias já estavam lá, com as crianças, então tivemos que recorrer à Justiça”, argumenta o secretário..