Mais do que cobertores grossos, fogueiras e alimentos quentes, resistir ao frio rigoroso, que chegou a 10,5°C na semana que passou em Belo Horizonte, exigiu coragem das pessoas que não têm um teto. Nas ruas e praças, o vento gélido que entra nas casinhas de caixas de papelão se soma às preocupações de quem sofre violência diária, ameaças e reclama da perda de seus pertences para os guardas municipais.
A alternativa ao pernoite nas ruas não é menos perigosa. A noite nos albergues municipais sujeita quem não tem abrigo à transmissão de doenças infectocontagiosas, como a tuberculose, a infestações de insetos sanguessugas, a maus-tratos dos funcionários e à violência de grupos que ditam as regras quando as luzes se apagam.
Essa situação considerada “gravíssima” por especialistas em saúde pública e assistentes sociais foi constatada pela reportagem do Estado de Minas, que na última semana passou uma noite no Albergue Tia Branca, na Floresta, Região Leste de BH, entre os 360 homens que buscaram refúgio na construção. Pernoitou também entre as pessoas que transformam os bancos e gramados da Praça Raul Soares, no Centro, em leitos para sobreviver ao frio, contando com a solidariedade de doadores anônimos ou institucionalizados e a colaboração entre os próprios moradores de rua.
De acordo com o último censo realizado em Belo Horizonte pela prefeitura (PBH), em 2014, o número de pessoas em situação de rua chegou a 1.827, sendo 813 (44,5%) na Região Centro-Sul da capital mineira. Percorrendo essa região, foram encontradas várias colônias formadas em parede-meia com as fachadas de edificações, usando barreiras de caixas de papelão, camadas de cobertores e um labirinto de carrinhos de supermercados.
São grandes aglomerações de pessoas, em pelo menos 17 pontos encontrados pela reportagem, com destaque para a Rua dos Tamoios, entre ruas Araguari e Rio Grande do Sul, no Centro, onde se enfileiram nas fachadas de lojas mais de 70 pessoas enroladas em cobertores, e as ruas Itambé, Conselheiro Rocha e Aquiles Lobo, onde mais de 60 se aquecem em fogueiras rodeando o Abrigo Tia Branca, sem contudo entrar nas instalações.
Os relatos de violência são comuns e aparecem também no estudo municipal, que destaca que 65% já foram roubados ou furtados, 55% foram vítimas de preconceito, 50% sofreram ameaças, 50% foram agredidos, 44% foram alvo de maus-tratos, 35% acabaram removidos à força de onde estavam e 37,5% das mulheres relataram violência sexual. Um ambiente assim sugeriria serem os abrigos uma salvação para quem está tão exposto.
Mas não é bem assim. O próprio censo das pessoas em situação de rua mostra que mais de um quarto de quem está nessa situação (27,6%) não ingressa no serviço por causa da insegurança no interior das acomodações. Outros 33,5% não se adaptam ao horário e regras, enquanto 15% disseram ter sofrido maus-tratos no ambiente que deveria ser de acolhimento. “As políticas públicas para a população de rua infelizmente não podem se resumir à construção de abrigos.
Essas são estruturas emergenciais onde quem está na rua deveria encontrar condições para se reerguer com segurança, saúde e ter encaminhamento para emprego, renda, moradia, saúde e educação”, considera a educadora social da Pastoral de Rua de Belo Horizonte Claudenice Rodrigues Lopes.
A alternativa ao pernoite nas ruas não é menos perigosa. A noite nos albergues municipais sujeita quem não tem abrigo à transmissão de doenças infectocontagiosas, como a tuberculose, a infestações de insetos sanguessugas, a maus-tratos dos funcionários e à violência de grupos que ditam as regras quando as luzes se apagam.
Essa situação considerada “gravíssima” por especialistas em saúde pública e assistentes sociais foi constatada pela reportagem do Estado de Minas, que na última semana passou uma noite no Albergue Tia Branca, na Floresta, Região Leste de BH, entre os 360 homens que buscaram refúgio na construção. Pernoitou também entre as pessoas que transformam os bancos e gramados da Praça Raul Soares, no Centro, em leitos para sobreviver ao frio, contando com a solidariedade de doadores anônimos ou institucionalizados e a colaboração entre os próprios moradores de rua.
De acordo com o último censo realizado em Belo Horizonte pela prefeitura (PBH), em 2014, o número de pessoas em situação de rua chegou a 1.827, sendo 813 (44,5%) na Região Centro-Sul da capital mineira. Percorrendo essa região, foram encontradas várias colônias formadas em parede-meia com as fachadas de edificações, usando barreiras de caixas de papelão, camadas de cobertores e um labirinto de carrinhos de supermercados.
São grandes aglomerações de pessoas, em pelo menos 17 pontos encontrados pela reportagem, com destaque para a Rua dos Tamoios, entre ruas Araguari e Rio Grande do Sul, no Centro, onde se enfileiram nas fachadas de lojas mais de 70 pessoas enroladas em cobertores, e as ruas Itambé, Conselheiro Rocha e Aquiles Lobo, onde mais de 60 se aquecem em fogueiras rodeando o Abrigo Tia Branca, sem contudo entrar nas instalações.
Os relatos de violência são comuns e aparecem também no estudo municipal, que destaca que 65% já foram roubados ou furtados, 55% foram vítimas de preconceito, 50% sofreram ameaças, 50% foram agredidos, 44% foram alvo de maus-tratos, 35% acabaram removidos à força de onde estavam e 37,5% das mulheres relataram violência sexual. Um ambiente assim sugeriria serem os abrigos uma salvação para quem está tão exposto.
Mas não é bem assim. O próprio censo das pessoas em situação de rua mostra que mais de um quarto de quem está nessa situação (27,6%) não ingressa no serviço por causa da insegurança no interior das acomodações. Outros 33,5% não se adaptam ao horário e regras, enquanto 15% disseram ter sofrido maus-tratos no ambiente que deveria ser de acolhimento. “As políticas públicas para a população de rua infelizmente não podem se resumir à construção de abrigos.
Essas são estruturas emergenciais onde quem está na rua deveria encontrar condições para se reerguer com segurança, saúde e ter encaminhamento para emprego, renda, moradia, saúde e educação”, considera a educadora social da Pastoral de Rua de Belo Horizonte Claudenice Rodrigues Lopes.