A floração começou este mês e algumas árvores já começam a perder flores, o que tem colorido calçadas e gramados da capital e levado muitos apreciadores dos ipês a “correr” para fazer fotos. Dona Cláudia Soares Coelho, de 53, saiu de casa, na tarde de ontem, com uma máquina fotográfica nas mãos. O destino? A Praça da Liberdade. “Vim somente para registrar os ipês. Em 2015, quando percebi as flores, já estava no fim da estação. Agora vim na época certa”, conta.
A família Balsiminelli, que mora em Joinville (SC) e curte férias em Belo Horizonte, elogiou aos ipês durante um passeio pela Região Centro-Sul. O diretor comercial Mário, de 39, a médica Ludimila, de 37, e a filha do casal, Camila, de 2, registraram, sobretudo, as árvores em frente ao condomínio Niemeyer, projetado pelo arquiteto mais famoso do país. “Nasci em BH e me mudei, aos 6 anos de idade, para o interior de São Paulo. Hoje, moro em Santa Catarina. É a primeira vez que retorno à terra-natal. Estou encantada. Estes ipês estão lindos”, disse a médica.
O doutor em ecologia Sérvio Pontes Ribeiro, professor na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e cujo doutorado trata da evolução de árvores, informou que, “provavelmente, haverá ipês rosas e roxos floridos até o fim de agosto ou início de setembro”, meses em que começa a flora de espécies da cor amarela. Entretanto, o professor ressalta que a previsão depende de fatores como o clima e a estiagem.
“As raízes são profundas, portanto, têm água até em época de seca. Quando há estiagem, causa o que chamamos de estresse hidráulico, que é a subida (do líquido) para as folhas. Quando a tensão fica forte (devido ao ar seco), a água sobe rapidamente”, explica. “Após a perda das folhas, a perda da água para. Esta água acumula nos botões da flores, o que permite a floração, de repente, numa época muito seca”, acrescenta Sérvio.
Mas a beleza notada hoje em muitos ipês, talvez, não se repita na mesma árvore em 2017. O motivo é uma estratégia para se defender de predadores de suas sementes, como maritacas e insetos. “Ipê que floresce muito num ano, floresce pouco no seguinte”, disse o professor, acrescentando que a estratégia é “ficar menos previsível para o inimigo”. “Se houver muitas sementes todos os anos, haverá muitos predadores todos os anos”.
Dona Myriam Moretzsohn, que estava no carro com a filha Gabriela, a economista que mora na Noruega, também ficou boquiaberta ao ver a floração dos ipês na cidade. Nas proximidades da Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, ela conta que várias flores caíram ao chão. “Ficou maravilhoso. Parecia uma nevada”. No caso, uma nevada roxa.