Falta de bom senso e muitas reclamações. Essa é a realidade em um dos mais concorridos pontos da noite belo-horizontina. Entre sorrisos, bate-papo, cerveja gelada e boa comida nas dezenas de bares e restaurantes da Rua Alberto Cintra, no Bairro União, Nordeste da capital, muita gente se sente incomodada com a insistência de alguns donos de estabelecimento em colocar o som a todo volume, muitas vezes do lado de fora, o que tem afastado clientes dos comerciantes vizinhos e tirado o sono de quem mora no local.
Fernando Zanforlin, dono de uma delicatéssen e morador de um prédio na via, tem duplo motivo para reclamar. “Na área comercial perdemos aquela característica de ambiente família, ponto de encontro de amigos, local ideal para um happy hour. Há donos de bar que extrapolam com o som em alto volume. Fica um ambiente tenso, com pelo menos quatro bares no quarteirão disputando quem tem o equipamento mais potente. Isso acaba por atrair um público do tipo que coloca música alta no carro e fecha a rua. E, para os outros comerciantes, mesas vazias, pois seus clientes, que buscam um espaço agradável para bate-papo, são afugentados pela poluição sonora”, protestou.
Zanforlin diz que no outro quarteirão não é diferente. Ele conta que não tem como descansar em seu apartamento. “O estresse da poluição sonora que enfrento no trabalho se repete abaixo do prédio onde moro, com a disputa de quem coloca músicas em alto volume, em caixas de som nas áreas externas dos estabelecimentos, sem qualquer isolamento acústico.”
Na noite da quinta-feira, a reportagem do Estado de Minas esteve na Rua Alberto Cintra e constatou que nem a presença de fiscais da Regional Nordeste da Prefeitura de Belo Horizonte inibiu o som alto das caixas que ficam na calçada em frente aos bares. Jomilda Neves, gerente do restaurante de comida japonesa Yohei, um dos pioneiros na rua, disse que o ponto está anunciado para vender. “Não temos mais aquele espaço em que as pessoas vinham se divertir, com parentes e amigos, com música ambiente. Hoje é som alto, músicas que agitam as pessoas, do lado de fora, que atrai quantidades e tumultos. Falta bom senso de alguns donos de bares. Aqui está virando terra de ninguém, sem regras de boa convivência. Famílias e grupos de amigos, que gostam de um bom prato, não se sentem à vontade em meio a tanto barulho”, lamentou Jomilda.
Pelo menos três quarteirões da via concentram bares e restaurantes dos mais variado estilos. São dezenas de estabelecimentos no trecho entre as ruas Flor de Jequitibá e Pitt, onde três bares abusam do som em alto volume, com caixas em espaço externo ou direcionadas para a Rua Alberto Cintra. Num dos casos, o bar fica bem abaixo de um prédio residencial. Já no outro quarteirão, sem prédio residencial, entre as ruas Nelson e Arthur de Sá, a disputa de quem coloca o som mais alto envolve pelo menos cinco bares.
No local há dois imóveis residenciais, um fechado e à venda. No outro, o proprietário colocou um apelo no portão para que urinem nas árvores, para não corroer a estrutura de metal. Além do som alto, a sujeira nas ruas, mesmo com o esforço dos comerciantes com a instalação de lixeiras, é mais um problema na Alberto Cintra, que, nas noites de quarta-feira a domingo, fica com o trânsito complicado devido à quantidade de veículos, muitos estacionados de forma irregular.