Marquises sinuosas, jardins com plantas do cerrado, cobertura em forma de asa de borboleta e até mesmo uma ilha artificial. Cada novo olhar, uma descoberta na Pampulha, onde quatro construções, inovadoras para a década de 1940, formam o conjunto arquitetônico moderno agora Patrimônio Cultural da Humanidade. Como quinta maravilha desta região de Belo Horizonte está o espelho-d'água, que domina uma área de 309 hectares unindo a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile, atual Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design, o Iate Tênis Clube e o Museu de Arte da Pampulha (MAP), antigo cassino. “A Pampulha mudou a história da arquitetura brasileira, representou uma nova forma de fazer arquitetura”, diz o coordenador técnico do dossiê apresentado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), arquiteto Flávio Carsalade. Ele explica que a Pampulha foi concebida como obra de arte total: “Esse é o grande diferencial. No barroco mineiro ocorreu o mesmo, e um dos exemplos é a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto”. Obra de arte total significa que vários especialistas se uniram para trabalhar em um mesmo projeto – “gênios que atuaram conjuntamente, e não de maneira isolada”, observa.
Dessa forma, o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), autor dos projetos arquitetônicos, o paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), encarregado dos jardins, e o pintor Cândido Portinari (1903-1962), responsável pelos painéis e murais, ficaram na linha de frente, mas merecem destaque as esculturas, todas de 1943, do MAP – Nu, em bronze, do polonês Augusti Zamoyski (1893-1970), Pampulha, em bronze, do mineiro José Alves Pedrosa (1915-2002), e O abraço, em mármore, de Alfredo Ceschiati (1918-1989). Outro nome importante nessa história é Paulo Werneck (1908-1987) autor dos mosaicos que cobrem a estrutura da igrejinha. Na companhia de Carsalade, grande conhecedor da Pampulha, de onde foi secretário regional, a equipe do Estado de Minas revisitou o complexo reconhecido mundialmente pela importância. “Todos os elementos, aqui, foram concebidos integralmente e de forma inovadora na arquitetura brasileira”, diz o coordenador do dossiê. Ele cita a cobertura em forma de asa de borboleta do Iate, as abóbodas da igrejinha, as marquises sinuosas da Casa do Baile e os jardins de Burle Marx, que usaram plantas do cerrado “como se fossem uma pintura abstrata”, explica o arquiteto. Confira, a seguir, os detalhes marcantes dessa grande obra de arte.