Flavio de Lemos Carsalade (*)
Muito já escrevi sobre a Pampulha do ponto de vista técnico e algumas vezes até fazendo, com ela, poesia. Mas hoje, sob o impacto alegre de seu reconhecimento como Patrimônio da Humanidade, quero falar dela de um ponto de vista pessoal. Na infância, como morador do Centro da Cidade, a Pampulha era o meu outro Belo Horizonte, o lugar do passeio, da amplidão, dos jogos de futebol, do parque de diversões, mas também o lugar do futuro. Um futuro diferente, parte de meu presente, mas construído no passado, na infância de meus pais, mas sempre futuro.
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Anos mais tarde, como profissional e administrador público, tive a honra e a oportunidade de cuidar deste meu futuro de infância consubstanciado nas águas e nos belos edifícios que bordejam o lago, nas qualidades de presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e de secretário de Administração Regional da Pampulha, mas também como técnico, atuando na restauração de seus principais monumentos.
Participei da desapropriação da Residência JK para torná-la um espaço de visitação pública após a morte de sua proprietária e grande cuidadora, a Dona Juracy, que certamente aprovaria minha atitude.
Associar-me às ações de apresentação da Pampulha para o mundo e de seu reconhecimento como Patrimônio da Humanidade se constitui, para mim, não em um epílogo feliz, porque ela sempre vai merecer meu terno cuidado, mas um momento singular de discreto orgulho, quando minha cidade é celebrada por todo o planeta e onde eu posso dizer, como se fora o poeta Fernando Pessoa, que os prédios da Pampulha são os mais belos do mundo, porque são os prédios da minha aldeia.
(*) Arquiteto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador técnico do dossiê de candidatura para a Organização das Nações Unida para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).