Jornal Estado de Minas

Cidades mineiras com título de Patrimônio Cultural da Humanidade enfrentam problemas

Em Diamantina, o casario colonial é bem conservado, mas o trânsito ainda desafia - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press
Ouro Preto, Congonhas e Diamantina –
Trânsito caótico nas ladeiras históricas, poeira de mineração soprada sobre os monumentos e placas apenas em português para orientar os turistas. As cidades coloniais mineiras reconhecidas como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) esbanjam beleza por todos os cantos, embora enfrentem problemas que atravessam os tempos e desafios ainda longe de solução. Agora na companhia do conjunto moderno da Pampulha, de Belo Horizonte, com o título desde domingo passado, elas elevam Minas ao patamar de estado brasileiro com o maior número de bens na lista da instituição internacional.

Definidas pelos especialistas como estruturas do século 18 convivendo com os gargalos do século 21, Ouro Preto e Congonhas, na Região Central, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, viram o número de veículos dobrar nos últimos 10 anos, com perigo para muitas construções de pau a pique e adobe, entre igrejas, capelas, sobrados e prédios públicos. Ouro Preto, primeira cidade brasileira a receber o título, em 1980, já tem 32,7 mil veículos nas ruas, contra 15,7 mil em julho de 2006. Diamantina quase triplicou e Congonhas, onde fica o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, com os profetas esculpidos por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), mais que dobrou.


Na avaliação das autoridades, o título representa turismo, o que implica investimentos privados em hotelaria, gastronomia e serviços. Em Congonhas, o reconhecimento trouxe vários benefícios, como a abertura do Museu de Congonhas, que, em sete meses de funcionamento, já recebeu 40 mil pessoas. Para facilitar a vida dos visitantes estrangeiros, Diamantina precisa ter informações bilíngues nas placas, enquanto Ouro Preto luta também contra a ocupação dos morros e descaracterização de vias públicas. Os turistas elogiam a arquitetura e, movidos pelo encantamento das cidades, fazem descobertas nesse universo permeado pela história de mais de 300 anos.


Memória

Risco de perda


O título de Patrimônio Cultural da Humanidade pode não ser para sempre – para tanto, é preciso preservar os sítios históricos.
Em meados da década passada, uma ameaça pairou sobre Ouro Preto, que recebeu o título da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1980. Devido à falta de políticas e ações para proteger aquele que é considerado o maior conjunto arquitetônico colonial do país, o reconhecimento ficou na balança em função da degradação dos monumentos, ocupações irregulares de morros, incêndio de dois casarões, trânsito caótico, destruição de um chafariz, entre outras agressões. A população se manifestou, pendurou panos pretos nas janelas em sinal de luto, até que houve mais atenção das autoridades. Na época, o Morro da Queimada, considerado um dos pontos primordiais da história da ex-Vila Rica, estava invadido por 19 famílias, situação que mudou mais tarde com a proteção municipal..