Se falar sobre morte é um tabu para muitas pessoas, para o jovem Felipe Guirado, que morreu em acidente de trânsito aos 21 anos, isso fazia parte do diálogo dele com os pais. “Ele dizia que têm muitas pessoas precisando de doação e que queria ajudá-las”, lembrou a mãe, Rosimeire Guirado.
Na época, aos 14 anos, insistia no desejo de acrescentar a inscrição de que era doador de órgãos em seus documentos pessoais, procedimento que passou a não existir mais no Brasil. Nos dias de hoje, jovens como Felipe e adeptos das redes sociais podem incluir o dado de que são doadores no perfil do Facebook.
Para o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o nefrologista Roberto Manfro, a manifestação clara da vontade de cada cidadão é a melhor estratégia para mudar o alto índice brasileiro de recusa de doações: 43% dos familiares de possíveis doadores de órgãos não autorizam o procedimento ao receberem o diagnóstico de morte encefálica.
“Por maior que seja a dor da perda, o desejo pessoal de se tornar doador de órgãos é quase sempre respeitado pelos familiares”, pontua. Ele esclarece que em 1997, há quase 20 anos, foi feita uma tentativa de ampliar as doações no Brasil adotando o critério do consentimento presumido, como na maioria dos países desenvolvidos. Por esta regra, só não é doador de órgãos quem informar em documento, como na carteira de identidade.
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Ela ainda conta que se sente mais forte ao participar de campanhas e tentar mudar a cabeça das pessoas contrárias à doação. “Você não pensa em ser doador, mas e se amanhã você precisa de um órgão?”, questiona.”Os médicos não puderam fazer nada pelo meu filho, eu também não pude, mas ele salvou várias vidas”, disse Rosimeire.
“Quando a família se dispõe a conversar com a equipe do MG Transplantes, é porque ela já entendeu que não há mais dúvida no processo da morte encefálica, já entendeu que o paciente está em óbito”, explica Fernanda Marta Paizante Santos, psicóloga do MG Transplantes. Ela lembra que, em alguns países, o exame clínico basta para comprovar a morte. No Brasil, são feitos dois exames, além de um teste complementar (veja quadro).
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Como se tornar um doador de órgãos
O passo principal é conversar com a família e deixar bem claro o desejo, mas não é necessário deixar nada por escrito.
O que é morte encefálica?
É a morte do cérebro, incluindo tronco cerebral, que desempenha funções vitais, como o controle da respiração. Quando isso ocorre, a parada cardíaca é inevitável. Embora ainda haja batimentos cardíacos, a pessoa já não pode respirar sem os aparelhos e o coração baterá por pouco tempo. Por isso, a situação já caracteriza a morte do indivíduo. É fundamental que os órgãos sejam aproveitados enquanto ainda há circulação sanguínea. Se o coração parar, só poderão ser doadas as córneas
Requisitos para ser considerado doador
Estar comprovada a morte encefálica. É uma situação bem diferente do coma, situação em que as células do cérebro estão vivas, respirando e se alimentando, mesmo que com dificuldade ou debilitadas
Para isso, o paciente deve passar por dois exames neurológicos, feitos por dois médicos não participantes das equipes de captação e de transplante
Deve ainda submeter-se a exame complementar que comprove a morte encefálica, caracterizada pela ausência de fluxo sanguíneo em quantidade necessária no cérebro, além de inatividade elétrica e metabólica cerebral
No momento de definição do quadro, o paciente não pode apresentar hipotermia (baixa temperatura), baixa tensão arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do sistema nervoso central
Há deformação no corpo do doador após a retirada dos órgãos?
Não. A legislação é clara quanto a isso: hospitais autorizados a retirar os órgãos têm que recuperar a aparência do doador após a retirada
Fonte: MG Transplantes.