Jornal Estado de Minas

Alta velocidade dos coletivos torna o trânsito mais mortal, diz especialista

A alta velocidade dos ônibus de Belo Horizonte torna o trânsito da capital ainda mais mortal, segundo a avaliação do especialista em transporte e trânsito e consultor Osias Baptista Neto. “A cada 5km/h que se aumenta a velocidade, se reduz em 30% a probabilidade de um pedestre atropelado sobreviver. Acima de 60km/h, quase 80% dos atropelados morrem. Mas essa é uma média geral. Se considerarmos veículos maiores, como ônibus, a chance de sobreviver é quase nula”, sustenta. Na avaliação de Neto, a alta velocidade se deve em grande parte ao fato de os condutores se sentirem pressionados a cumprir os quadros de horários estabelecidos pelas linhas e as companhias de transporte municipal (BHTrans), metropolitano e do aeroporto (ambos do DER-MG). “Essa cobrança é que leva os motoristas a cometer abusos. É um absurdo um veículo grande como um ônibus, que é contratado para prestar serviço de transporte, trazer perigo e desconforto aos passageiros, pedestres e outros veículos.
Nada compensa o risco do acidente que pode ser provocado. O tempo recuperado no trânsito não vale o risco”, afirma.

Para o especialista, há duas formas de inibir esse tipo de comportamento. “A primeira é o treinamento. Os permissionários (companhias de ônibus) precisam se comprometer a cumprir não só Código de Trânsito Brasileiro, como as regras da concessionária. A segunda é com fiscalização, e sou defensor de ampliar a fiscalização eletrônica em BH”, disse. Neto também destaca o fato de os ônibus terem sistemas de GPS e câmeras. “Ou seja, as empresas têm como saber quem está correndo, quem está sendo imprudente, mas não tomam atitudes”, critica.

Excesso de velocidade em até 20% do limite é uma infração grave, com multa de R$ 127,69 e perda de 5 pontos na carteira.
Acima desse limite, a infração passa a ser gravíssima, com multa de R$ 191,54 e 7 pontos perdidos. De acordo com a BHTrans as infrações dos ônibus são remetidas às companhias de transporte, mas a empresa municipal não dispõe de dados específicos sobre autuações de ônibus.

Segundo o sindicato das empresas dos ônibus municipais (Setra-BH) “os motoristas e agentes de bordo passam por treinamentos, são orientados quanto às suas responsabilidades e quanto ao comportamento adequado na condução dos veículos”. “Sua atuação é gravada diariamente pelas câmeras internas dos veículos”, informou. “É dever do motorista observar rigorosamente a legislação vigente e as normas que orientam sua conduta e estabelecem suas obrigações durante o período de trabalho, sob pena de responsabilização na forma da legislação vigente”, conclui o sindicato.

Até o dia 27, o DER-MG havia recebido 243 reclamações relacionadas a excesso de velocidade ou imprudência no trânsito das linhas metropolitanas. Em 2015, foram contabilizadas 656 reclamações sobre o mesmo assunto e, em 2014, 681 reclamações. “Todas as queixas dos usuários recebidas pelos canais de atendimento (telefone, e-mail, site e correspondência) são encaminhadas para a fiscalização do departamento. Nos casos de velocidade e imprudência no trânsito, as empresas são notificadas a orientar os motoristas a conduzir o veículo em velocidade compatível com a via, sem provocar partidas, freadas, conversões bruscas ou prejudicar a condição de conforto e segurança dos passageiros”, informou a assessoria do departamento..