Jornal Estado de Minas

Título de Patrimônio da Humanidade aumenta interesse pelo conjunto da Pampulha


Belo-horizontinos redescobrem a cidade, brasileiros chegam de longe para conferir a arquitetura e estrangeiros incluem a capital em seu roteiro. Desde a elevação do conjunto moderno da Pampulha a Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), as construções projetadas por Oscar Niemeyer (1906-2012) no início da década de 1940 e interligadas pelo espelho d’água não param de atrair visitantes. Basta ir à Igreja de São Francisco de Assis, à Casa do Baile ou ao Museu de Arte (MAP) para notar os olhares atentos, principalmente no fim de semana, ou conferir os levantamentos da Fundação Municipal de Cultural (FMC) e Belotur, vinculadas à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), e da Arquidiocese de BH.

Aberto ao público para mostrar uma exposição onde a estrela é “o próprio prédio”, como diz a gestora Carolina Andreazzi, o Museu de Arte da Pampulha, antigo cassino, recebeu no último domingo 3.010 visitantes, quase o dobro do anterior (1.522), quando houve a votação do Comitê do Patrimônio Cultural da Unesco, em Istambul, Turquia – na véspera, foram 738. Em junho, a média nos fins de semana era de 580 por dia. “BH está numa virada histórica, entrou para os principais destinos nacionais. Nem a Copa do Mundo trouxe tanta visibilidade no país e no mundo como agora com o título, o que vai demandar novas ações e um plano de negócios e eventos mais robusto”, informa o diretor de Promoção Turística da Belotur, Gustavo Mendicino. A expectativa é de que, com a Olimpíada, o turismo cresça ainda mais.

O título de Patrimônio Cultural da Humanidade é um poderoso chamariz para os sítios históricos em todo o mundo, como disse ao Estado de Minas o representante da Unesco no Brasil, Lucien Muñhoz, que estará na capital, no dia 17, para a entrega oficial do diploma, em cerimônia no MAP. A Casa do Baile, atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte, na orla Otacílio Negrão de Lima, não fica atrás em preferência.
No domingo passado, o número cresceu e surpreendeu os gestores: 1.386 pessoas, contra 447 do dia da vitória. O Iate Tênis Clube também está aberto à visitação, desde que o interessado se identifique na portaria.

Primeiro olhar

A partir de 25 de agosto, dentro da programação comemorativa da conquista do título, o MAP vai iniciar uma exposição sobre a prata da casa, que se traduz pelo acervo modernista da reserva técnica, totalizando  1,4 mil obras de arte, com trabalhos de Guignard, Volpi e outros artistas, diz Carolina. “Por enquanto, as pessoas estão vindo para ver o museu, que tem espelhos belgas, mármores amarelos portugueses, ônix argentino e o inox, uma inovação para a´época da construção. Estamos recebendo famílias inteiras, de 15 pessoas”, afirma a gestora. Para todo mundo ver melhor o prédio e caminhar pelas rampas, os carros não podem mais parar na frente do museu, havendo um estacionamento do outro lado da avenida.

Na tarde de quarta-feira, a técnica de enfermagem Enedina da Silva Barbosa Ramos, acompanhada das filhas Rayane, de 17 anos, e Rafaella, de 11, aproveitou as férias para um passeio diferente “Nunca tinha vindo ao museu, embora corra na orla com meu marido”, disse Enedina, residente em Venda Nova. As três se encantaram com as esculturas expostas nos jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994): O abraço, em mármore, de Alfredo Ceschiatti (1918-1989), Pampulha, de José Pedrosa (1915-2002), e Nu, do polonês Augusti Zamoyski (1893-1970), caminharam pela rampa de acesso e admiraram a lagoa na tarde ensolarada. “É algo diferente, inovador”, afirmou Rayane.
Para elas, só falta mesmo a despoluição das águas.

A construção, apelidada de Palácio de Cristal e que funcionou como cassino de 1943 a 1946 – o museu começou em 1957 –, foi parada obrigatória, na tarde de quarta-feira, para uma turma de 30 estudantes, na faixa etária de 14 a 17 anos, do Instituto Federal de Rondônia, câmpus Vilhena. “Viajamos três dias para conhecer a Pampulha. Depois, vamos a Ouro Preto”, contou o professor de história e chefe do Departamento de Extensão, Eder Carlos Cardoso Diniz, ao lado dos colegas Antônio Sérgio Florindo dos Santos, de matemática, Marisa Rodrigues de Lima, de física, e Maria Consuelo Moreira, de geografia. Celebrando a amizade, Marisa e Maria Consuelo deram um abraço imitando a escultura de Ceschiatti. Mas os seguranças já avisaram que não há problema em reproduzir a cena, desde que ninguém pise no jardim.

Os estudantes dos cursos técnicos de edificações, informática e eletromecânica percorreram o salão principal, que tem pé-direito de 7 metros, a área reservada para exposição (500 metros quadrados) e os gramados e jardins distribuídos por 14 mil metros quadrados. “A arquitetura moderna é cativante e inspiradora, pois muitos profissionais continuam se espelhando em Niemeyer”, afirmou a estudante de edificações Larissa Elisa dos Santos Oliveira, de 16. Pela primeira vez em BH, Tiago José Modena, de 15, de informática, considerou o patrimônio da Pampulha “impactante” e a viagem “uma experiência incrível”. Para o jovem, a arte deve ser sempre valorizada.

Pertencimento


Considerado um dos pontos de maior procura pelos turistas, embora nem todos visitem o interior do templo, a famosa Igrejinha da Pampulha, segundo dados da Arquidiocese, registrou 144 pessoas no dia 17, quase o triplo do domingo anterior (55).
No dia 18 (segunda-feira), atingiu 603 e, na terça, 593. “Há uma redescoberta da Pampulha pela população de Belo Horizonte, que está demonstrando um sentimento de pertencimento. Os números apontam esta nova realidade em relação ao patrimônio”, explica o presidente da FMC e interino da Belotur, Leônidas Oliveira.

As fotos de grupos e selfies na frente da obra de Cândido Portinari (1903-1962), sobre São Francisco de Assis, já viraram marca registrada na igrejinha da Pampulha – e não foi diferente com a moradora de Contagem Cláudia Lúcio, acompanhada da filha Deise Magalhães e da sobrinha Elaine Oliveira com a filha Maria Eduarda, de 5, residentes em Betim. “Conheço a Pampulha desde 1982 e sempre gostei. Era um lugar um pouco descuidado, mas melhorou”, disse Cláudia. Deise não tem dúvidas de que “está perfeito”. Há um ano e meio na capital, a enfermeira Viviane Aranda, de Governador Valadares, considerou a igrejinha“aconchegante”.

Enquanto isso...

...banheiros são readequados


Entre as ações para atender melhor ao turismo, que reclama muito da falta de banheiros, a prefeitura vai readequar os sanitários masculinos e femininos existentes sob uma construção na Praça Dino Barbieri, interligada à igrejinha da Pampulha. De acordo com a Belotur, a conquista do título deverá aquecer o mercado de turismo, já sendo sentidos os efeitos nos receptivos, hotéis e restaurantes. O gerente do restaurante Juscelino, Wanderson Cabral, aberto todos os dias, já nota um movimento maior de estrangeiros e brasileiros.
Considerando ainda cedo para falar a taxa de aumento, ele observa que “há muita gente diferente” no pedaço. Um vendedor de coco também comemora os novos tempos, certo de que a bebida geladinha é ótima pedida para turbinar o passeio.

ESTRANGEIROS NA ORLA

A empresa Uber, que oferece transporte por meio de aplicativo, fez levantamento mostrando a procedência dos passageiros estrangeiros que chegam a Belo Horizonte e vão conhecer a Pampulha. Eles são, por ordem, dos Estados Unidos, Reino Unido, México, França e Cingapura. A pesquisa foi feita no período de 15 de janeiro a 15 de julho. “Coletamos os dados de forma agregada nesse período e temos as ‘top 5 nacionalidades’. É a primeira vez que juntamos dados assim de uma região específica da cidade”, informa a empresa, via assessoria de imprensa..