Jornal Estado de Minas

Pesquisas apontam soluções ecológicas para rejeitos de minério da Samarco

Milhões de toneladas de rejeitos de mineração que vazaram com o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas, poderão ser usados na construção civil por meio da criação de uma cadeia produtiva local de fabricação de tijolos, telhas, blocos e pisos. É o recomenda projetos aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fepamig), que apresentam soluções ecológicas para os rejeitos despejados na Bacia do Rio Doce em novembro do ano passado, devido ao rompimento da barragem da Samarco. A tragédia foi em novembro do ano passado e destruiu comunidades inteiras, matou 19 pessoas e causou o maior desastre ambiental da história do país.

Em abril deste ano, foi feita uma chamada pública para projetos que estudassem soluções para os rejeitos, que apresentassem propostas não-convencionais e sustentáveis para recuperar área afetada pelo tragédia.

Ao todo, 145 projetos foram submetidos a análise pelas Câmaras de Assessoramento da Fapemig, 29 propostas foram encaminhadas para contratação. Juntas, elas totalizam o aporte de R$ 4 milhões a serem investidos pela fundação. Das 29 propostas escolhidas, seis estão dentro da linha temática Recuperação do Solo, sete na Recuperação da Água, oito na Recuperação da Biodiversidade e oito na linha Tecnologias Sociais.

Um dos projetos aprovados é do pesquisador Rafael Farinassi Mendes, doutor em Ciência e Tecnologia da Madeira vinculado à Universidade Federal de Lavras (Ufla). O cientista já desenvolve um estudo sobre a aplicação de materiais lignocelulósicos (eucalipto, pinus, bagaço de cana, casca de café, entre outros) em artigos a base de cimento, como telhas de amianto, blocos, pisos e tijolos.

Rafael Farinassi vai expandir a pesquisa e estudar a adição destas fibras vegetais aos resíduos de mineração para produção de artigos ecológicos que possam ser usados com segurança na construção civil. Segundo ele, a mistura de eucalipto, pinus, bagaço de cana, casca de café e outros materiais nos rejeitos de minério vai permitir maior resistência à tração, tenacidade e isolamento térmico nos materiais produzidos.

“Minha linha de pesquisa trabalha com a substituição do amianto por compósitos de fontes renováveis. O cimento é muito quebradiço, pode trincar e quebrar.
Por outro lado, ele pode ser melhorado com a inserção das fibras vegetais, da mesma forma que os resíduos de mineração, agregando novas propriedades ao material e ampliando a sua utilidade”, disse Farinassi.

A medida, segundo o pesquisador, vai permitir a substituição de materiais de enchimento, como a areia, e também a substituir outros componentes de custo mais elevado, como o próprio cimento, assegurando o uso de resíduo de minério em grande escala. O material produzido a partir do rejeito de minério poderá ser comercializado em larga escala e, inclusive, usado na reconstrução de casas, estabelecimentos, ruas e calçadas da própria região da tragédia.


Outra pesquisa é de Fernando Soares Lameiras, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), cuja proposta é usar o resíduo depositado no leito do Rio Gualaxo do Norte e na Barragem de Candonga para fabricar blocos semelhantes ao tijolo maciço.

Lameiras espera atingir as especificações técnicas exigidas pelo mercado de construção civil, como resistência e absorção de água adequadas. “A intenção é de pegar o resíduo, formado por lama, argila, material arenoso e orgânico, e acrescentar um baixo percentual de fundente. Depois de colocar no forno, forma-se uma liga bastante resistente e assim conseguimos aproveitar o material. A matéria orgânica queima e não atrapalha a mistura. A ideia é fazer um agregado parecido com um tijolo, que pode ser usado em alvenaria, por exemplo”, disse Lameiras.

Além de permitir a destinação adequada dos resíduos, a proposta prevê criação de novas fontes de emprego e renda para a população afetada pela tragédia. .

Microempresas locais seriam criadas, para fabricação dos materiais de construção civil, promovendo economicamente a região da tragédia. (Com informações da Agência Minas Gerais).

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