O baixo índice de elucidação de casos como esse é alvo de críticas das famílias que sofrem com o desaparecimento de um parente, mas também de especialistas. Para muitos, o problema é resultado da falta de tecnologia, infraestrutura e de profissionais qualificados e em quantidade suficiente para atender à demanda de todo o estado.
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Apesar de já considerar que as estatísticas revelam um quadro crítico no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes, o especialista avalia que o cenário é ainda pior. “Para além dos casos notificados, existe um sub-registro expressivo, especialmente no interior e em núcleos familiares em situação de vulnerabilidade social, em que as pessoas têm pouca instrução, o que colabora para que esses dados não apareçam”, diz. Robson Sávio reforça que, enquanto não for criado um aparato de segurança pública que possa aumentar a elucidação de casos – não só de desaparecimento de menores, mas de pessoas de qualquer faixa etária –, essas redes criminosas vão continuar tendo força. “Sem estrutura, a polícia age nos casos de maior repercussão e quando é motivada. Isso mostra claramente a incapacidade de elucidar os casos. Muitas vezes, é a família quem tem que ficar levando informações à polícia e não o contrário, como deveria ser”, afirma.
"NAS MÃOS DA POLÍCIA" Essa é a maior queixa da doméstica Luciene Dias de Carvalho Lopes e do marido dela, Paulo Carlos Lopes, pais da adolescente Ana Paula, desaparecida em Nova Lima em 25 de junho.
Porém, como as imagens não são de boa qualidade, não foi possível descobrir a placa ou o modelo, mantendo o mistério sobre o caso que, segundo a Polícia Civil, envolve investigadores e delegados de três delegacias da região metropolitana: o Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), a Delegacia Regional de Nova Lima, além da Divisão de Desaparecidos, na capital.
A mãe da adolescente diz ainda que “se tivesse como pagar, contrataria um investigador particular” e que, como não tem, “acaba ficando na mão da polícia”. Apesar da angústia alimentada a cada dia diante da falta de informações, Luciene acredita no retorno da filha. “Meu coração diz que ela está viva e está bem. E coração de mãe não se enganha”, desabafa.
Para delegada, falta retorno de parentes
À frente da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, a delegada Elizabeth de Freitas Assis Rocha confirma que o desaparecimento de crianças e adolescentes é desafiador para a polícia, mas diz que a estatística pode ser comprometida por episódios em que a família não informa à polícia quando o menor retorna para casa.
Questionada se não deveria ser responsabilidade da polícia ter acesso a esse tipo de informação, já que a corporação, em tese, está investigando o desaparecimento, a delegada limitou-se a dizer que “os casos são muitos e muitas vezes a polícia trabalha com vários ao mesmo tempo”. “Evidentemente, existem as investigações, mas assim que o adolescente retorna, cabe à família fazer o comunicado para que a investigação seja encerrada”, disse.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Polícia Civil informou ainda que todas as delegacias de Minas estão aptas a investigar ocorrências de pessoas desaparecidas, que têm apoio também da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida de BH. De acordo com o último levantamento da instituição, o estado conta com cerca de 12 mil policiais civis efetivos, mas o número oscila em razão de afastamentos e aposentadorias. Segundo a corporação, a partir do próximo mês haverá reforço de mil investigadores que estão em fase final de formação. Esses agentes serão designados para delegacias, de acordo com a necessidade de cada uma.
Sobre suposta existência de uma rede de tráfico de órgãos, considerando os dados existentes desde a fundação da Divisão Especializada, a Polícia Civil sustenta que não há registros capazes de sustentar essa afirmação. Porém, ocorrências de exploração sexual de crianças e adolescentes ainda se manifestam como crime continuado em todo o país, sendo combatidas pela Delegacia Especializada na Localização de Crianças e Adolescentes e pelas forças de segurança pública como um todo.
Ainda segundo a nota, Minas Gerais conta com a Delegacia Virtual, que recebe registros de desaparecimento e de localização via internet, além de sistema informatizado capaz de cruzar dados de registros de desaparecimentos com o banco de dados do Instituto Médico-Legal (IML).
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