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Estado de Minas

Artistas lamentam a morte precoce do músico Vander Lee

O cantor era apontado como generoso e agregador. "Era uma grande referência", resume o violonista Thiago Delegado. Enterro será na manhã deste sábado


06/08/2016 06:00 - atualizado 06/08/2016 07:52

No fim da noite, músicos se revezaram no violão e o grupo Tambores de Minas se encarregou da percussão enquanto o corpo de cantor e compositor era velado
No fim da noite, músicos se revezaram no violão e o grupo Tambores de Minas se encarregou da percussão enquanto o corpo de cantor e compositor era velado (foto: Ramon Lisboa/E.M/D.A Press)

“Ele era um cantor e compositor que preenchia a lacuna que todos procuram. Música simples, com poesia sincera e direta, que tocava grandes artistas e pessoas simples. Só o canto dele já passava muita emoção. Um artista completo”, resume o músico Eneias Xavier. Ele fazia parte, há três anos, da banda de Vander Lee, morto na manhã de ontem, e estava ao lado do artista em seu último show, dia 21 do mês passado, na sede social da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.


Xavier assinou arranjos e direção musical do último disco de Vander Lee, 9, e gravou com o cantor, também mês passado, o DVD ao vivo com o qual comemoraria, ano que vem, os 20 anos de seu primeiro disco. “Chegamos a ouvir o áudio dessa apresentação no meu estúdio e ficamos felizes com o resultado. Ele cantou muito bem e foi preciso pouca correção. Muito acima da média, com uma banda que toca junta há três anos. Nosso próximo plano era fazer shows desse trabalho”, revela.

O corpo de Vander Lee foi velado no saguão do Teatro Francisco Nunes. Foi preciso organizar um fila para que os fãs e amigos, entre eles Toninho Horta, Flávio Venturini e Juarez Moreira, se despedissem. No fim da noite, músicos se revezaram no violão e puxaram canções de Vander Lee, num clima de emoção e nostalgia. Integrantes do Tambores de Minas se encarregaram da percussão. O enterro será hoje, às 10h30, no Bosque da Esperança.

Artistas mineiros lamentaram a morte de Vander Lee. Entre eles, o produtor do disco Sambarroco, o violonista Thiago Delegado: “Ele era um músico atento à cena, dava força para todo mundo que estava começando. Generoso, agregador. Frequentava muito os lugares em que eu tocava, até que um dia me chamou para tocar com ele. Fazia música por ofício, era um poeta, era uma grande referência para os músicos daqui, tanto que ainda não dá para medir as consequências desta perda”.

O cantor, compositor e presidente da Rádio Inconfidência, Flávio Henrique, é da mesma geração de Vander Lee e teve trajetória semelhante à do amigo. “A gente sempre foi muito próximo porque dividimos os mesmos palcos, os mesmos microfones, projetos. É uma partida antes da hora porque ele tinha muito a fazer. Era um poeta nato, da linhagem de um Cartola, que sempre tinha alguma frase bonita, uma palavra delicada. Estou muito triste”, declarou.

Amigos, parentes e fãs se despedem de Vander Ler no Teatro Francisco Nunes
Amigos, parentes e fãs se despedem de Vander Ler no Teatro Francisco Nunes (foto: Juarez Rodrigues/E.M/D.A/Press)


Vizinho do artista durante anos no condomínio Retiro das Pedras, em Brumadinho, o cantor e compositor Flávio Venturini chegou a compor com ele Idos janeiros, canção que ambos gravaram em discos próprios. “Tínhamos planos de estreitar a parceria. Ele era talentosíssimo, surgiu com uma música mineira de uma nova vertente e grandes artistas reconheceram essa riqueza da música dele. Costumávamos fazer caminhadas e trilhas pelo condomínio e nunca pensei que fosse partir tão novo”, comentou.

São muitos os que  elogiam a humildade de Vander Lee. Histórias diferentes que apontam para essa mesma característica, como a do músico Robertinho Brant, que dois anos atrás recebeu convite inesperado: produzir Loa, penúltimo disco dele. “Ele sempre se mostrou aberto às minhas sugestões e me deu muita autonomia nesse trabalho. Uma pessoa fantástica, humilde e simples. Um grande artista”, desabafou. Como ele mesmo gosta de dizer, a intimidade era tanta que pareciam “noivos”.

Brant se referiu à notícia como “inacreditável”.  De fato, ninguém esperava por ela. Gente como o rapper Flávio Renegado, que se lembra com carinho do último encontro com o artista, dia 9 de julho, num dos palcos da Virada Cultural de Belo Horizonte. “Ele nos brindou com uma participação mais do que especial. Cantamos músicas dele, do Roberto Carlos. Nunca passou pela minha cabeça que seria uma despedida”, conta. Antes fã de Vander Lee, ele havia passado à condição de amigo dele, inclusive gravando num de seus discos.

Samuel Rosa, vocalista do Skank, não chegou a trabalhar com Vander Lee, mas guarda boas lembranças dele. “O mais interessante é que o trabalho dele não remete ao lado mais conhecido da música mineira, nem ao Clube da Esquina, nem ao pop rock. Era própria e genuína”, diz Samuel.

Último projeto

Sérgio Santos, Wagner Tiso e Vander Lee dariam início, na segunda-feira, aos ensaios para o show Palco de Encontro, marcado para o dia 12 no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Evento concebido pela Fundação Clóvis Salgado como uma homenagem a Cartola, será mantido pela instituição. Com a morte de Vander Lee, haverá também uma homenagem a ele. “A gente só tinha dividido o repertório, visto quem faria o quê. Então, o show será reestruturado”, comentou Santos. Ele se apresentaria com Vander Lee pela primeira vez justamente nesse projeto.

Repercussão


“Têm aparecido poucos artistas com tanta sensibilidade, que tocam o coração da gente. E ele era uma pessoa assim. Ótimo letrista e todas as músicas dele tinham uma coisa que a gente não via na dos outros”

Vanusa, cantora

“Torci tanto pra esse nosso Brasil todo escutar seu canto de amor, suas canções que fazem tão bem pra alma da gente. Mas não deu tempo amigo!”

Mariene de Castro, cantora e atriz

“O grande compositor e cantor Vander Lee morreu ontem. Era novo (50 anos) e ainda daria ao mundo
muitas canções”

Leoni, cantor

“Vander Lee, sinto imensamente a sua partida tão cedo de nossas vidas. Como falar da perda de um poeta, se não há palavra que caiba na tristeza”

Daniela Mercury, cantora

“Que tristeza meu Deus, o Vander Lee não. Vá em paz meu amigo tão querido e tão talentoso”

Luiza Possi, cantora

“Vander Lee, mineirinho maneiro. Gente fina, do mato. Gentil e preocupado. Passou uns dias com a gente no estúdio, pra gravar no disco do @leandroleo. Rimos muito, falamos besteira, viramos a noite a contar histórias e causos. Querido demais! Voa hoje pra outra dimensão e deixa a gente com saudades”

Maria Gadu, cantora

“É uma notícia muito triste perder uma pessoa jovem, tão talentosa. Ele era um compositor maravilhoso. Sempre que tinha oportunidade, ele ia aos meus shows. Nesse último show que fiz em BH, ele esteve presente. Muito triste mesmo”

Gal Costa, cantora

“Gostava demais dele, uma pessoa muito divertida, honesta e comprometida com o trabalho. Essa veia popular do Vander era muito honesta, e acho que iria combinar com a música do Cartola, que era um cara popular, original e honesto”

Sérgio Santos, cantor


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