No balanço do balaio, Vander Lee era um cronista sem medo de ser romântico, de torcer pelo Galo, de lembrar da mulher amada enquanto esperava aviões. Estava onde Deus e o seu público pudessem ouvir. E agora parte para o baile dos anjos. Seu farol ligado sobre o Brasil conseguia ser patriota sem ser ufanista.
Compositor iluminado que corria contra o tempo para tecer loas a quem merecia, entrou em liquidação quando foi preciso, andou de carro sambado, ficou entre o lenço e o lençol por mais de uma vez, realizou o sonho de morar no Sion. Foi considerado pela especialista Elza Soares o swing do ano 2000.
Passava horas dando atenção ao público depois do show. Uma plateia de poucos vips. A maioria era sempre de gente comum que chora com baladas, que ama sem vergonha e sem juízo e se emociona com versos de sofisticada simplicidade. E melodias fáceis, extremamente fáceis de cantar junto naquele verbo agora.
O Vanderly Natureza, que virou Vander Lee quando se formou na escola dos palcos e dos bares, angariou parceiros. Zeca Baleiro, Leo Minax, Diego Bemquerer, Murilo Antunes, Thiago Delegado, Tizumba, Flávio Venturini, Tambolelê... Foi de crowdfunding para o DVD que comemora os 20 anos de carreira e 50 de vida, já em fase de edição.
Cantou que gente não é cor e provou que o faro do sucesso não tem preconceito. De Bethânia a Roberta Campos, de Gal a Luiza Possi, de Alcione a Cesar Menotti & Fabiano, de Vanusa a Fábio Jr., de Fagner a Leila Pinheiro, a fila de suas intérpretes inclui Regina Souza, Elba Ramalho, Emilinha Borba, Paula Santoro, Raquel Coutinho, Rita Ribeiro e outras dezenas – de variados estilos e personalidades. Do sambarroco ao pop de tocar na rádio, ia subindo a ladeira e variando os caminhos. De alma nua, deixa seu fã clube alimentado com uma obra popular no melhor sentido do termo. Que fique na memória afetiva de sua cidade e seus vizinhos sua última imagem: o lago de águas calmas que achou para classificar o disco mais recente de estúdio, 9.