Conhecer ou reconhecer parques de Belo Horizonte. Subir serras da capital ou se sentar pela primeira vez na Praça da Savassi. Febre que invadiu o país na última semana, o game Pokémon Go trouxe aos jogadores experiências que vão muito além de caçar “monstrinhos”. Para satisfação de muitos pais, os filhos, que antes viviam trancados dentro de casa “ligados” nos jogos de computador e passavam fins de semana sem olhar a rua, agora são companhia para caminhadas e passeios em família, pois passaram a enxergar o “mundo real” como uma possibilidade de encontrar os bichinhos virtuais. Embora haja riscos como acidentes e o vício na tecnologia, a mudança no comportamento, segundo especialistas, pode ser o primeiro passo para a nova geração deixar o sedentarismo e ampliar seu olhar sobre a cidade.
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Entretanto, ainda que os caçadores de pokémons andem mais, para o especialista isso não quer dizer que estejam fazendo uma atividade física. “O jogador não está concentrado no exercício e tampouco consciente sobre ele. Essa caminhada é de baixa intensidade e insuficiente para que se tenham ganhos objetivos em termos de condicionamento físico”, afirma. As crianças e os adolescentes – público-alvo da brincadeira – precisam, segundo ele, de exercícios mais intensos, e sair à caça de pokémons não vai cumprir essa meta. “Mas a grande vantagem é fazer com que eles saiam do estado inativo, de não fazer nada e ficar só no sofá.”
Lado bom que, segundo a empresária Sionara Freire, faz toda a diferença. Ontem, ela e os filhos Gabriela, de 11 anos, e Ruan, de 16, foram juntos para a Praça do Papa, na Zona Sul de BH. A empresária foi fazer sua atividade física e os garotos, caçar pokémons.
Num sábado de manhã, por exemplo, as irmãs Joana Woldaynsky, de 13, e Laura Woldaynsky, de 16, estariam em shoppings caso não existisse o game. “Agora, elas até toparam sair conosco e sugeriram a Praça do Papa”, comemora a madrasta das irmãs, Ana Paula Woldaynsky. Segundo Laura, além de passear mais pela cidade, ela tem feito novas amizades ao caçar pokémons. “Mas tudo tem que ter responsabilidade”, afirma Laura. E a madrasta completa: “Fico preocupada porque estão saindo por causa de uma motivação virtual.”
E esse é um ponto levantando pelo pediatra Paulo Poggialo, ex-presidente da Sociedade Mineira de Pediatria e ex-vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, além de coordenador do setor de Neonatologia do Hospital Mater Dei.
Embora seja uma novidade, a psicóloga e pedagoga Sheila França reconhece que a saída de casa é um benefício para crianças e adolescentes. Porém, alerta que é necessário fazer dessa brincadeira algo mais saudável. “Pode ser benéfico ir às praças e aos parques. Mas não adianta a criança ir sem interagir com a família, conversar, e ter uma vida social. O jogo não pode ser usado em excesso, como temos visto. As crianças estão o tempo todo usando o celular, na saída e na entrada da escola, e, com isso, ficam mais dispersas e propensas aos riscos”.
DESLIGAR-SE O ideal, de acordo com o cardiologista Marconi Gomes, seria que, ao sair de casa, os jovens pudessem, depois de jogar, descobrir o lugar onde estão por meio de atividades reais. “Quando acabar a bateria do celular e eles estiverem em uma praça, o bom seria se pudessem aproveitar a quadra de futebol, brincar de ‘pega-pega’ dos velhos tempos”, afirma, dizendo que o Pokémon Go pode ser uma engrenagem interessante para a sociedade, mas ir adiante é deixar o aparelho eletrônico de lado e curtir o espaço ao redor.
Na manhã de ontem, as irmãs Raíssa Avelino, de 19, e Aniele, de 13, moradoras de Contagem, conheceram a Savassi, em BH.