Professores de todo o Brasil se viram diante de um desafio quando o jogo Pokémon Go se espalhou como uma febre entre crianças e adolescentes, ao ser liberado no país. A novidade permite aos jogadores buscar as criaturas virtuais em todos os lugares – e claro que o ambiente escolar não ficou imune. De um dia para o outro, os profissionais de educação tiveram que lidar com o fenômeno que pegou muitos de surpresa. A prova do interesse que o jogo despertou entre estudantes é confirmada pelo fundador do AppProva, Matheus Goyas. O aplicativo com conteúdo das disciplinas curriculares é usado como plataforma de estudo para alunos e atende a mais de 8 mil escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Diante da “pokemania”, ele apresentou texto com recomendações (veja quadro) sobre o uso pedagógico do jogo para a comunidade do aplicativo. Resultado: em três dias, o conteúdo foi acessado por mais de 20 mil profissionais. “Nosso objetivo não é estimular o uso, mas orientar a gestão escolar sobre como se pode lançar mão do fenômeno de maneira pedagógica.”
O Estado de Minas entrou em contato com seis colégios particulares da capital que reconhecem o novo desafio e informaram que o fenômeno ainda está sendo avaliado do ponto de vista pedagógico. Como as praças públicas, os pátios das escolas também foram tomados pelos caçadores na hora do recreio. “O jogo realiza o sonho de muita gente de capturar pokémons na vida real. Também é uma forma de interagirmos com o ambiente. Temos que andar para conseguir cumprir objetivos”, afirma Vitor Fernandez, aluno do 7º ano do Colégio Santo Antônio. Como ele, dezenas de colegas dedicam parte do intervalo das aulas ao jogo. “Tem muita gente que não gostava do desenho, mas que agora joga”, completa.
O coordenador-geral do Colégio Santo Antônio, Olavo Sérgio Campos, entende que proibir o jogo no ambiente escolar não é a melhor opção, mas é preciso orientar os alunos sobre os riscos e para que usem sem que haja prejuízo para o aprendizado. “A preocupação de nossos coordenadores e professores é saber usar bem a tecnologia e disciplinar o uso”, diz. Para a estudante Anna Beatriz Sena da Mata Machado, de 18, a estratégia do colégio está correta. “Sabemos o momento em que podemos usar. O jogo tem sido uma válvula de escape na preparação para o Enem”, comenta a jovem.
Sindicato das escolas vai traçar estratégias
O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG) pretende realizar encontros com diretores e profissionais para traçar estratégias para lidar com o Pokémon Go nas instituições de ensino. O presidente da entidade, Emiro Barbini, prevê que o fascínio dos estudantes pelo jogo pode trazer problemas no ambiente escolar. “É uma febre que está apenas começando. Pretendemos nos reunir com as escolas para ver como vamos tratar”, afirmou.
Diante do fenômeno, um alerta foi colocado no Facebook pelo Colégio Loyola. Na postagem, a instituição orienta os estudantes a ficar atentos aos lugares em que jogam e a guardar o celular na rua. “Vai sair para caçar hoje? Tome cuidado! O Pikachu não vai te salvar de alguns perigos”, dizia mensagem postado no perfil do colégio.
Barbini lembra que já há orientações quanto ao uso de celulares pelos estudantes no ambiente escolar. As instituições orientam os alunos a desligar os aparelhos dentro da sala, mas liberamo uso nos intervalos e no recreio. Porém, não há nada em específico sobre o jogo recém-chegado ao Brasil. E mesmo antes da novidade, muitos docentes já precisavam lidar com a presença não-autorizado de aplicativos como WhatsApp, uma ferramenta que os estudantes usam para conversar entre si. “Dá muito trabalho o celular dentro de sala”, admite o representante das escolas.
Como o jogo tem monopolizado a atenção dos estudantes, Barbini acredita que é necessário pensar no uso pedagógico do game. “As escolas têm que sair de uma situação no passado para a atualidade, tentando acompanhar os avanços tecnológicos”, diz. Matheus Goyas, fundador do AppProva, sugere que o jogo pode ser incorporado, por exemplo, quando o professor trabalha coordenadas geográficas ou para estimular prática de exercícios físicos.
Na semana de lançamento do Pokémon Go, o Ministério da Educação fez um alerta nas redes sociais sobre o quanto o jogo pode desviar a atenção dos estudantes para as questões escolares: “O Ministério da Educação adverte: O Enem é mais importante do que o Pokémon Go”.
Pokemaníacos ficam presos em cemitério
A pokemania segue provocando episódios inusitados em Minas. Em Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado, por exemplo, quatro jovens que saíram para caçar pokémons acabaram presos dentro de um cemitério, na noite de domingo. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, o cemitério do Centro da cidade fica fechado aos domingos, e só abre para sepultamentos. Como houve uma cerimônia, o grupo de jovens aproveitou para entrar no local. Após o encerramento, o coveiro trancou o portão às 18h10. Pouco tempo depois, os três rapazes e uma garota perceberam que estavam fechados e pediram ajuda. Diante da situação, a administração municipal recomendou que os funcionários desses locais redobrem a atenção, para evitar novos incidentes do tipo. Desde que o Pokémon Go foi lançado, cemitérios de várias partes do mundo atraem jogadores do game, que usa locais públicos para criar pontos de captura de pokémons e disputa. As necrópoles acabaram entrando na lista.