O índice de alumínio na água fornecida pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, está além do limite estabelecido pelo Ministério da Saúde. Pelo menos é o que diz os dados apresentados nesta terça-feira pelo Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MPMG), Ministério Público Federal (MPF) e Defensoria Pública da União, afirmando que a água coletada na saída das estações de tratamento (ETAs) Central, Vila Isa e Santa Rita e em quase todos os pontos da rede de distribuição, está fora dos padrões de potabilidade, com risco de efeitos crônicos à saúde dos consumidores.
Laudo da Central de Apoio Técnico (Ceat) do MPMG, assinado por uma engenheira química, analista do órgão, teve por base resultados das análises da água coletada em 5 de julho último, junto com técnicos da Mineradora Samarco. Desde o rompimento da barragem de rejeitos de minério de Fundão, em Mariana, que pertence empresa, foi verificado que os níveis de alumínio estavam muito elevados na captação do Rio Doce.
Leia Mais
Esforços de recuperação da Bacia do Rio Doce ganham reforço de 29 projetos de pesquisas de universitáriosContaminação do Rio Doce provoca queda de 15% no consumo de água em ValadaresPor causa da lama de Mariana, valadarenses ainda temem consumir a água captada no Rio DoceNascente preservada abastece gratuitamente 20 famílias de SabaráO relatório do Ceat, destaca ainda que “inúmeros estudos demonstram que a presença do alumínio na água em concentrações superiores ao padrão de potabilidade pode contribuir para o aparecimento de algumas doenças no organismo humano, tais como a osteoporose, doenças neurológicas e alterações neuro comportamentais, incluindo a encefalopatia, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson, demência dialítica e mal de Alzheimer.”
De acordo com o MPMG, “considerando que os rejeitos das barragens apresentam em sua composição elevadas concentrações de alumínio, é bem possível que o metal tenha sido transportado ao longo do Rio Doce, ocasionando alterações na composição química em diversos trechos desse curso d’água, conforme a direção dos ventos, os índices pluviométricos e a vazão do rio”. Além disso, o laudo aponta a substituição do coagulante polímero de acácia-negra pelo sulfato de alumínio como outro motivo para a elevação dos níveis do metal na água.
Por meio de nota, a Samarco afirmou que coletas acompanhadas pela empresa indicaram que “não há alterações nos parâmetros de alumínio ou metais pesados”. Segundo o texto, foram colhidas pela Samarco amostras nas estações , enviadas para análise aos laboratórios Bioagri e Tommasi, ambos acreditados pelo Inmetro. “Os resultados comprovam que não há alterações nos parâmetros de alumínio ou metais pesados. Tais análises estão à disposição das autoridades”, diz a mineradora.
De acordo com a Samarco, ela ainda não foi notificada a respeito dos resultados das amostras colhidas pelo Ministério Público. “De todo modo, a empresa realiza o monitoramento constante da qualidade da água em 92 pontos ao longo de todo o Rio Doce e foz. Na região de Governador Valadares laudos recentes comprovam que o parâmetro químico alumínio está dentro dos limites estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e dentro do histórico do rio no que diz respeito à água bruta.
A secretária de Comunicação da Prefeitura de Governador Valadares, Nagel Medeiros, informou na noite de ontem que não há situação para alarmismo. “O Saae faz pelo menos duas coletas diárias para análise em seus laboratórios. A situação está normal e, se não estivesse, não estaríamos distribuindo a água”. A secretária destacou ainda que, em 5 de julho, data da coleta do laboratório que fez o laudo do Ministério Público, análises de técnicos do Saae apontaram índice de alumínio de 0,087%, abaixo do tolerável, de 0,2%. “Estamos aguardando laudos de laboratórios credenciados pelo Inmetro de exames mais completos. Mas hoje a situação está tranquila”, reafirmou..