Depois de testar um ônibus elétrico em linhas convencionais de Belo Horizonte, a BHTrans apresentou ontem um modelo menor, para ser testado no transporte suplementar, que também é 100% movido a energia elétrica e não emite poluentes para a atmosfera. Serão três meses de operação em diferentes itinerários da cidade, mas ainda não há nenhuma perspectiva de incorporação dos veículos à frota da capital mineira.
O prefeito Marcio Lacerda, que fez um test drive do ônibus pelas ruas do Bairro Buritis, Oeste de BH, acredita que a chance de penetração do novo modelo é maior nas linhas suplementares, já que os motoristas são os próprios donos e poderiam se entender mais facilmente com a fabricante, uma empresa chinesa com indústria em Campinas (SP). Lacerda apontou que os processos desenvolvidos pelas empresas que oferecem o serviço de transporte público em BH já seguem padrões ligados à operação dos veículos a diesel, um obstáculo na entrada dos coletivos elétricos.
“No caso do suplementar, se a empresa oferecer um sistema central de manutenção, para que os operadores não tenham que se preocupar com estoque de peças, penso que seria mais viável a introdução do que nas grandes empresas. Pelos números apresentados é possível, em tese, pagar as prestações de um ônibus com a economia de combustível gerada”, afirma o prefeito.
Porém, o representante da BYD, fabricante chinesa dos veículos elétricos no Brasil, Silvestre de Sousa, avalia que é importante a pressão do poder público caso os governos acreditem que a mudança é necessária para preservação do meio ambiente e melhoria do conforto para os usuários. “Achar que vamos conseguir implantar a nova tecnologia de uma forma natural partindo dos empresários pode demorar. Para que ocorra uma aceleração do processo, precisamos ter vontade política”, afirma. Atualmente, há uma licitação em andamento para o serviço de transporte suplementar, que não impõe o uso do veículo elétrico em BH.
EMISSÃO ZERO Silvestre destaca que o modelo tem autonomia de 240 quilômetros e alcança o nível máximo do conjunto de baterias com duas a três horas de carga. Um motor fica acoplado a cada uma das duas rodas traseiras, o que elimina consideravelmente o barulho no interior do ônibus, facilita a vida do condutor e aumenta o conforto do passageiro. Outra facilidade para o motorista é o câmbio automático, que diminui os trancos e também a intensidade de ruídos. “Você chega em casa muito mais descansado”, afirma Jaércio Fernandes, de 35 anos, motorista designado para o período de testes nas linhas S51, S63, S80, S22, S10, S55 e S31. Como não há queima de combustível, a emissão de dióxido de carbono, principal vilão do efeito estufa, é zero.
Outro ponto destacado por Silvestre é o custo operacional, bem menor no veículo elétrico do que no ônibus movido a diesel. Segundo ele, os valores envolvidos na operação de um quilômetro em um ônibus convencional podem viabilizar até cinco quilômetros de funcionamento de um ônibus elétrico. A diferença é que o preço de um modelo ecologicamente correto é duas vezes maior do que o dos veículos usados atualmente, o que justifica os estudos para saber o tempo necessário de operação que viabilize economicamente a novidade. O prefeito Marcio Lacerda disse ainda que os estudos são muito importantes para que decisões erradas não sejam tomadas. “Como toda decisão empresarial que trabalha com números sempre com muita responsabilidade, é preciso que haja realmente uma viabilidade econômica bastante evidente. Possivelmente, a melhor maneira de viabilizar isso seria o governo federal conceder subsídios nos impostos para que haja uma atratividade maior”, completa o prefeito.
RAIO-X
As características do ônibus elétrico
Roda até 5 km com o mesmo valor para operação de 1 km no ônibus a diesel
Emissão zero de poluentes que contribuem para o efeito estufa
Pouco ruído
Transmissão automática
Não tem líquidos refrigerantes nem óleo no motor
Autonomia de 240 quilômetros
Até três horas para fazer a recarga da bateria
Custa duas vezes mais que um modelo convencional