Jornal Estado de Minas

Mineiro ganha prêmio de melhor bailarino em evento de dança

Ao abrir os braços, o jovem parece adquirir asas poderosas, como se estivesse preparado para um longo voo na vida e na arte. Depois, em total concentração, ele se curva sobre as pernas musculosas, gira o corpo com elegância e se lança no ar, certo de que os sonhos, quando acompanhados de treino e trabalho duro, não têm limites ou chance de dar errado. Maximiler Junio Santos de Deus, de 23 anos, morador do Bairro Concórdia, na Região Nordeste da capital, foi escolhido o melhor bailarino do tradicional Festival de Dança de Joinville (SC), já na 34ª quarta edição e considerado o maior evento de dança no país. Com humildade e os olhos brilhantes, o belo-horizontino conta que há muito para aprender, embora tenha uma certeza absoluta: “Quero voar bem alto e sempre no mundo da dança. Esse é meu universo, é o que quero para mim”.


A recente conquista do prêmio na cidade catarinense, como representante do Harmonia Studio de Danças, onde também é professor, deixou o bailarino de jazz meio perplexo. “É inacreditável”, resume. Ontem, na sala de ensaios da academia, no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste, ele contava que até os 14 anos a dança tão querida não estava nos seus planos. “Comecei no projeto Valores de Minas, do governo estadual e, quando cheguei lá, meu objetivo era fazer circo”.
Mas, pelas surpresas que a vida prepara, o então adolescente foi fazer uma aula de dança, se apaixonou e viu que o futuro estava ali, ao som da música, no esforço coletivo da criação e nas batidas ritmadas do seu coração.

Com um sorriso simpático, Maximiler conta que 2016 tem sido particularmente produtivo, como se fosse a colheita do plantio de boas sementes. Começou a cursar licenciatura em dança na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ganhou o prêmio em Joinville, recebeu propostas de trabalho, convites para se apresentar e levou para casa um prêmio de melhor coreógrafo em outro festival. “Minha família sempre teve dificuldades financeiras, nada cai do céu, é muita luta. Eu não tinha dinheiro nem para a passagem de ônibus, ir para os ensaios a pé. Meu pai morreu quando eu tinha 16 anos”, diz o bailarino, que não tem medo de falar das barras mais pesadas.

SUPERAÇÃO
Neste ano de tantas alegrias, Maximiler se viu de repente no olho de um furacão, com a árdua missão de tomar as rédeas de um caso familiar. E diz “graças da Deus” por ter conseguido superar o mau momento e levar a vida de volta aos trilhos. A mãe desempregada e sem opção de trabalho foi internada por alcoolismo – “bebeu durante uma semana inteira, depois ficou no hospital mais sete dias” –, recorda-se com tristeza.

Enquanto estudava, trabalhava e dava conta do recado para manter a casa, Maximiler ainda tinha que cuidar da irmã de oito anos.
“A sorte é que uma tia me ajudava e ficava o dia inteiro com minha irmã”, diz o jovem, lembrando que a mãe já está trabalhando e a paz voltou ao lar. Além de dar aulas no Harmonia e integrar a companhia de jazz, ele leciona na Oficina de Dança, no Bairro Buritis, na Região Oeste, participa de um projeto social na Escola Leonora, no Bairro Cachoeirinha e dança no Balé Jovem Minas Gerais, de estilo contemporâneo.

Como consegue fazer tudo isso? Ele responde sem medo de errar: “Tudo é fruto da determinação. Em todos momentos, a dança foi um elemento fortíssimo, me tirava de todo esse turbilhão”.

SEMPRE A LUZ Em Joinville, onde já havia participado outras vezes do festival, Maxmiler apresentou um solo com a canção Ain’t no sunshine (Não há luz do sol) do norte-americano Bill Whiters – aliás, para quem quiser ver sua performance, ele se apresentará hoje e amanhã, às 19h30, no Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro de BH. “Estou sempre em busca da luz, mas não é a luz do sucesso fácil. Dança para mim é a emoção em estado bruto, parte de mim”, revela o bailarino, enquanto mostra alguns movimentos da coreografia criada por ele. As mãos cobrem os olhos e depois se abrem como se tocassem o sol.

Depois de posar para as fotos, Maxmiler retira a parte superior da malha e deixa à vista a palavra liberdade tatuada no ombro esquerdo. “É a única que tenho, mas traduz os meus desejos, liberdade de escolha, de viver”. Nesse momento, ele se lembra do momento em que decidiu ser bailarino.
“Minha mãe queria que eu fosse médico, dentista, como todas as mães, menos bailarino. A maioria das pessoas, por falta de informação, vê o bailarino vestido de cor de rosa, com o tule branco e as duas mãos sobre a cabeça. Não é nada disso. Atualmente tem muitos bailarinos no mundo e é bom destacar que o homem não tem a suavidade da mulher”, afirma.

Para a proprietária do Harmonia Studio de Danças, Simone Gouvêa, Maxmiler está pronto para voar. “Além de ser um bom bailarino, com técnica e talento, ele é uma pessoa maravilhosa, tem carisma e é feliz, mesmo tendo passado por tantas dificuldades financeiras. É um orgulho para nós, pois mostra dedicação profissional. Conversamos com jurados do festival de Joinville e muitos disseram que ele precisa ampliar seus horizontes e atuar numa grande companhia em São Paulo, por exemplo”. Satisfeito com os elogios, o mineiro não quer ir tão longe “geograficamente”, pelo menos por enquanto. O maior sonho dele é integrar a companhia de dança O Corpo, de BH. “Fiz audiência lá e não passei.
Espero ter mais sorte da próxima vez”, acredita com a determinação que parece ser sua marca registrada.

Frases

 

"Quero voar bem alto e sempre no mundo da dança. Esse é meu universo, é o que quero para mim"

"Minha família sempre teve dificuldades, nada cai do céu. Eu não tinha dinheiro nem para a passagem de ônibus"

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