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Estado de Minas

Nos EUA desde junho, Matheus Oliveira conseguiu entrar na fila do transplante

Em tratamento nos EUA graças a ordem judicial que assegura o pagamento de despesas pela União, garoto entra em lista para transplante de intestino que pode salvar sua vida


postado em 16/08/2016 06:00 / atualizado em 16/08/2016 08:01

Um mês e meio depois de embarcar para Miami, nos Estados Unidos, o pequeno cruzeirense Matheus Teodoro Oliveira, de 7 anos, entrou finalmente na lista de transplantes do hospital Jackson Memorial Medical. Como recebeu a indicação de transplante de intestino grosso e delgado, em vez do multivisceral, de maior complexidade, que estava previsto anteriormente, a expectativa é de que a cirurgia definitiva seja marcada em poucas semanas, embora o tempo de recuperação possa levar até um ano. Com sua doçura de anjo, que comoveu o país e também a Justiça, assegurando o pagamento das despesas pela União, Matheus quer se operar logo. “Papai do céu, prepare um órgão bem rápido para mim”, encomenda o menino todas as noites, ao fazer a oração antes de se deitar, segundo conta a mãe, a auxiliar de enfermagem Gecilene Oliveira, tentando acalmar seu campeão.

“Ainda estamos na primeira semana de espera, agora que o nome de Matheus está na lista oficial”, calcula Gecilene, avisada pelos médicos de que deve deixar perto o telefone, que poderá tocar a qualquer momento, comunicando a chegada do órgão. “Toda vez que o médico liga, acho que é o transplante. Pode ser hoje, amanhã ou qualquer dia, que estou preparado, papai do céu”, reza Matheus, sonhando com esse momento. Outro dia, acordou de madrugada pedindo à mãe para tirar o celular de debaixo do travesseiro: “Você está muito cansada e é capaz de não ouvir tocar. Põe em cima da mesinha para a gente vigiar”.

Mais seguros do procedimento, agora que mãe e filho convivem com outras crianças transplantadas no Jackson Memorial Medical, que seguem bem de saúde, Gecilene conversou com a reportagem do Estado de Minas, contando detalhes sobre a nova rotina dos dois.“Sosseguei meu coração. Penso que, do mesmo jeito que estou feliz, esperando a melhor hora para Matheus, do outro lado tem uma mãe tentando aproveitar ao máximo a companhia do filho, prestes a partir para o céu. Entrego essa decisão nas mãos de Deus”, afirma, emocionada, por telefone.

Passada a fase de exames e de substituição de medicamentos na unidade hospitalar, pagando diária média de US$ 1,5 mil, coberta pela União, Gecilene decidiu mudar com o filho para uma casa próxima ao Jackson Memorial, em sistema de homecare, apesar de estar sozinha, sem a ajuda de enfermeiras para cuidar da alimentação parenteral, sonda e horários dos remédios. “O Matheus fica muito mais tranquilo fora do hospital. Não tem comparação”, afirma a mãe, que contou com a ajuda dos brasileiros de Miami, que fizeram uma surpresa e montaram todo o apartamento, inclusive com comida na geladeira. “Eu me senti abraçada”, agradece Gecilene, instalada na residência desde 29 de julho.

“Acredita que o Matheus está até comendo? Já engordou 1,7 quilo com macarrão, biscoitos de arroz. Aqui, eles trocaram os medicamentos para fazer o intestino funcionar melhor e separam a concentração de açúcar da gordura que vai para o sangue. No Brasil, não existe essa tecnologia e qualquer coisa que Matheus ingeria fazia mal”, compara a mãe, que se esforça para repassar as dicas às outras brasileiras, que padecem do mesmo problema com os filhos, à espera de um transplante pediátrico de intestino, que ainda não é feito no país. “Ficamos conhecendo um dos garotos transplantados, que já está de alta há um ano, feliz da vida, mas não consegue voltar ao Brasil porque os médicos daí dizem que não têm como dar continuidade ao caso dele”, completa.

O pequeno Matheus pouco antes do embarque para Miami, em junho: o transplante é a chance do garoto de poder se alimentar por vias naturais(foto: Cristina Horta/EM/DA Press - 21/6/16)
O pequeno Matheus pouco antes do embarque para Miami, em junho: o transplante é a chance do garoto de poder se alimentar por vias naturais (foto: Cristina Horta/EM/DA Press - 21/6/16)
APOIO Matheus luta desde o seu nascimento contra uma displasia neuronal intestinal, doença que o impede de se alimentar por vias naturais. Ele embarcou na manhã de 25 de junho para Miami, nos Estados Unidos, onde vai ser submetido a um transplante no hospital Jackson Memorial Medical. A viagem foi possível depois que a União quitou os custos do tratamento, cerca de R$ 4,1 milhões. A família contou também com doações, por meio da campanha #JuntospeloMatheus, com milhares de seguidores na internet e que chegou a arrecadar R$ 700 mil.

Cruzeirense, Matheus ganhou notoriedade nacional em outubro de 2015, quando entrou em campo com os jogadores do clube na partida contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro. Com o Mineirão lotado, ele teve o nome cantado pelos torcedores celestes. Desde então, a causa do garoto foi abraçada por jogadores, dirigentes, personalidades de diversas áreas e pessoas comuns, que fizeram doações para a campanha. Os recursos arrecadados, são utilizados exclusivamente para a melhoria da qualidade de vida do menino. A família precisa prestar contas de todos os saques à Justiça.

Memória

Processo tortuoso

O processo que garantiu os recursos para que o Matheus Teodoro de Oliveira seja operado nos Estados Unidos foi tortuoso. A ação foi aberta pela mãe da criança, Gecilene Oliveira, em 16 de dezembro e, dois dias depois, saiu uma decisão favorável à família. O governo federal, no entanto, recorreu, alegando que o transplante multivisceral poderia ser feito no Brasil, o que foi contestado por parecer do médico Sérgio Paiva Meira Filho, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, que afirmava não haver “equipe competente para a realização desse procedimento na população pediátrica do Brasil”. Em 29 de abril, a União chegou a acatar a decisão do juiz federal Daniel Carneiro Machado e se comprometeu a pagar o transplante, mas não fez o depósito, o que só ocorreu em junho.


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