O desfecho do caso da grávida, que havia desaparecido e foi encontrada morta numa represa em Ituiutaba, na mesma região, foi apresentado ontem pela Polícia Civil. Quatro pessoas estão presas, entre elas a mandante e mentora intelectual do crime, Shirley de Oliveira Benfica, de 39 anos. Outras duas estão foragidas.
Além de Shirley, foram presas em flagrante duas transexuais conhecidas como Mirele, de 22 e Yasmin, de 24, e a técnica em enfermagem Jacira Santos de Oliveira, de 48. A polícia tem ainda outros dois suspeitos, cujos nomes não foram divulgados para não atrapalhar as investigações.
Segundo as apurações, Shirley, uma ex-garota de programa que mora em Uberlândia, planejou tudo porque havia inventado para a família e o namorado uma gravidez, com o propósito de mantê-lo ao seu lado. Há oito meses, o companheiro, dono de uma agência de venda de carros em Araguari, na mesma região, queria a separação.
“Naquele momento, ela falou que ele não podia deixá-la, porque esperava um filho”, contou, durante coletiva de imprensa ontem, o delegado Regional de Ituiutaba, Carlos Antônio Fernandes, um dos responsáveis pelo caso, ao lado da delegada Roberta Silva Borges Ferreira, titular da Delegacia de Homicídios da cidade, que preside as investigações.
“Ela mostrava ultrassons que falsificou a familiares e ao namorado e dizia que o parto seria esta semana. Shirley chamou os autores e disse que precisava de uma criança”, relatou Fernandes. Sobre o fato de não ter uma barriga típica de uma gestante, ela teria usado a justificativa de que, por ter feito uma abdomenoplastia, a criança estava por baixo da costela.
“E eles acreditaram mesmo”, comenta o delegado. O namorado, que foi isento de participação nos crimes pelas investigações, passou mais de R$ 20 mil para Shirley comprar berço e o enxoval da suposta criança, segundo as investigações.
Enquanto sustentava a gravidez forjada, ela teria pedido à amiga Jacira que lhe conseguisse uma criança para adoção. Não tendo sucesso na empreitada, elas partiram para o tudo ou nada. De acordo com o delegado, as duas contaram com o apoio de Mirele, com quem mantinham estreita relação também – os outros teriam sido contratados. Mirele era amiga de Greiciara e a teria indicado como vítima.
As investigações mostram que, na quinta-feira passada, Mirele ligou para Greiciara, querendo encontrá-la, com o pretexto de entregar uma lembrança ao bebê. Ao se verem, teria convidado a garota para ir a uma festa, onde poderiam consumir entorpecentes.
Lá, depois de fumar maconha, ela teria tomado um refrigerante que havia sido “batizado” com medicamento. “Ela passou mal e começou a ficar sonolenta, momento no qual Shirley se ofereceu para levá-la em casa. Mas ela não entrou no carro, só os outros cinco acusados”, conta Carlos Antônio Fernandes.
O CRIME Greiciara foi levada para as margens da represa, distante 140 quilômetros de Uberlândia, na vizinha Ituiutaba. O delegado relata que, ao verem fracassada a tentativa de fazê-la desmaiar com éter, Jacira abriu a barriga da jovem e, ainda acordada, ela viu sua filha sendo retirada, ao mesmo tempo em que gritava pela vida.
Depois, foi enforcada até a morte. No lugar da criança, puseram uma pedra para que o corpo não emergisse, o enrolaram numa tela de arame e o jogaram na água. Mas, dois dias depois, o corpo flutuou e, no domingo, foi encontrado por duas pessoas que passavam pelo local.
No Instituto Médico Legal (IML) da cidade, constatou-se que ela estava grávida e, ao cruzar com a informação de uma mulher desaparecida, as polícias Civil de Uberlândia, Ituiutaba e Araguari desvendaram o caso.
Foram apenas 24 horas entre a descoberta do corpo e a prisão das acusadas, que podem pegar até 40 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado, sequestro, ocultação de cadáver e subtração de incapaz, segundo Fernandes.
As apurações revelaram ainda que, pelo crime, Jaciara receberia R$ 2 mil. As outras suspeitas, telefone celular e cortes de cabelo, pois Shirley também era cabeleireira. O bebê, uma menina com 5 dias de vida, foi encontrada na casa da babá contratada por Shirley, anteontem, mesmo dia em que a mãe da criança era sepultada.
As investigações mostraram que a babá também nada tem a ver com o caso. A criança estava aparentemente bem de saúde, mas, devido às condições do parto, foi levada ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. “Um dos momentos mais emocionantes foi quando encontramos essa criança com vida”, afirma o delegado. Segundo ele, a avó materna está pleiteando junto ao Ministério Público e à Justiça a guarda da menina.