Um professor de uma escola pública do Espírito Santo criou, com alunos do 8º ano, um filtro doméstico de baixo custo que descontamina água dos rios atingidos pelo rejeitos da Barragem do Fundão, que se rompeu em novembro do ano passado em Mariana, Região Central de Minas. O projeto surgiu da ideia de unir teoria e prática em sala de aula e prestar um serviço social à população ribeirinha, que depende do fornecimento de água dos rios Gualaxo do Norte, Doce e do Carmo.
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“A filtragem não deixa a água potável, pois as concentrações de manganês e arsênio são muito altas, restando cerca de 25% dos metais pesados. Contudo, ela pode ser seguramente usada para limpar a casa, lavar vasilhas, molhar plantas, tomar banho e muito mais. Alertamos todos que forem usar o filtro que a água é imprópria para beber e cozinhar", explica o professor Wemerson.
O filtro de retenção é composto, basicamente, por componentes químicos da própria natureza, como areia; materiais recicláveis, como bombonas e seixos; e materiais disponíveis em lojas de construção. O aparelho, que custa em média R$ 65, tem capacidade para 25 litros de água, que será purificada em até 40 minutos.
A areia, após a filtragem dos 700 litros, era descartada, inicialmente, no solo da região de Regência. Porém, os pesquisadores viram que esse manejo não era o ideal, pois também contaminava o solo com metais pesados. Daí surgiu a ideia de fazer uma parceria com artesões da região para transformar essa areia em artesanato, tornando assim seu descarte ecologicamente correto. Outra forma mais elaborada de reaproveitar os dejetos é por meio da peneiração dos metais pesados para a fabricação de bloquetes e tijolos.
A empresa Samarco, proprietária da barragem que se rompeu, tem projetos que visam à descontaminação dos rios como um todo; já o projeto dos alunos tem a preocupação de tratar a água de forma individual. Para isso, vão até a casa dos moradores atingidos, fazem a análise do antes e do depois de a água ser filtrada, para certificar o resultado da filtragem, instalam o filtro e explicam como ele funciona. “Muitos ribeirinhos estão comprando água mineral, mas isso é muito caro para eles, que são de baixa renda. Portanto, o filtro soluciona boa parte dos problemas”, afirma o professor.
PROJETO EM MINAS “Nosso objetivo é conseguir apoio e atender, gradativa e gratuitamente, aos 228 municípios atingidos pela Samarco. A lama está descendo o rio e nós estamos subindo com o projeto para ajudar essas pessoas”, diz o professor Wemerson da Silva Nogueira. Em 20 de setembro, os pesquisadores vão apresentar o projeto para a Assembleia Legislativa do Espírito Santo na tentativa de conseguir subsídios para sua expansão. Wemerson acredita que se aprovado pelo legislativo do ES, o diálogo com órgãos mineiros será facilitado. “Queremos muito levar para Minas, já que o estado foi o mais afetado pelo desastre.”.