O nome dela traduz a luta e a superação que conquistaram uma medalha para o Brasil, a única de esporte individual de um mineiro. A senhora Vitória de Andrade Siqueira, de 66 anos, não é apenas a mãe do medalhista de bronze do tae kwon do, Maicon Andrade Siqueira, de 23. É uma mulher obstinada e de muita fé, que criou oito filhos em Justinópolis, distrito de Ribeirão das Neves, um dos mais carentes municípios da Grande BH. Em 2014, encarou uma cirurgia para câncer e venceu também o tratamento quimioterápico que levou dela os cabelos, mas não o vigor. Depois de tudo isso, ainda que com seu filho agora sob os holofotes devido ao feito esportivo improvável, considerando a sua origem, ela ainda lhe dá os mesmos conselhos de quando era um adolescente: “Não se esqueça nunca de que você é de Justinópolis, que veio de Neves, que é um mineiro. Nunca deixe de cumprimentar as pessoas e de ajudar os humildes. Isso é tão importante quanto conquistar nossos sonhos”.
A luta dela e do filho para vencer no esporte é uma trajetória de muitas dificuldades e que começou com uma teimosia, já perdoada pela dona Vitória. “Com 13 anos, Maicon entrou escondido para um projeto da prefeitura com os amigos e aprendeu tae kwon do lá.
No projeto social, Maicon continuou por muito tempo, mesmo com seus amigos abandonando as aulas. “Quando o projeto fechou por falta de apoio, ele procurou academias, mas não lhe deram uma oportunidade. Com isso, meu filho foi trabalhando de ajudante de pedreiro e de garçom, quando tinha serviço, para pagar pelas trocas de faixa”, conta Vitória. Para manter a forma, treinava na garagem de casa, onde amarrava sacos de laranja com travesseiros e enchimento no telhado para poder chutar.
Foi depois dessa competição que Maicon chamou a atenção da equipe de tae kwon do da cidade paulista de São Caetano, que, por fim, o chamou para morar lá e treinar até se classificar para os Jogos Olímpicos. “Tive de ensinar a ele como fazer comida, pelo telefone, porque Maicon só ficava sozinho. Mas nesses quatro anos ele viajou para várias partes do mundo. Antes de competir, me disse que ia trazer uma medalha para colocar no meu peito. Achava que era sonho, mas como sempre o incentivei a sonhar, ia com ele nesse sonho. Quando ele ganhou, pulou para cima de mim e dos amigos na arquibancada, uma vitória que nunca vou esquecer”, afirma a dona Vitória.