Serão longas horas de voo, conexões e escalas, países e paisagens. Mas nada preocupa o coração de um grupo de mineiros que seguirá, no próximo dia 28, rumo à Jordânia, no Oriente Médio, numa viagem humanitária para duas semanas intensas de ajuda a vítimas de guerra – famílias dilaceradas pelas bombas, sofridas pela perda do lar e sem muita esperança de futuro.
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Doação de cabelos para pacientes com câncer eleva autoestimaCampanha contra a fome arrecada 70,7 toneladas de alimentosPara voluntários, a maior recompensa é o bem do próximo Voluntariado incentiva jovens a pressionarem pela duplicação da BR-381“No campo de refugiados, só podem entrar as pessoas credenciadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Nós atuaremos no entorno, onde há cerca de 8 mil sírios e iraquianos, que foram obrigados a deixar seus países”, diz a pastora Kátia Vasconcelos Gonzalez, casada com um empresário, mãe de cinco filhos e entusiasmada com a viagem missionária.
Ela não teme eventuais perigos, que possam cruzar o caminho. “Medo é uma palavra que não conheço neste momento. Acho que vou amar tanto o lugar, que meu temor é não querer voltar”, brinca.
Na noite de domingo, o grupo formado por seis mulheres e quatro homens se reuniu no templo da Igreja Batista da Lagoinha no Bairro São Bento, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para mais uma reunião preparatória da jornada ao país que ninguém deles ainda visitou.
Kátia ressalta que todo o custo da viagem, incluindo passagem, hospedagem e alimentação, ficou a cargo de cada um.
FONTE DE RENDA Na bagagem, a turma vai levar uma quantia destinada à compra de cestas básicas; remédios para uma clínica médico-odontológica já existente em Fuhays e montada pela organização internacional Missão de Apoio à Igreja Sofredora (Mais), que dará suporte aos mineiros; e material (massinha de modelagem, cadernos, abedecedário colorido etc.) para crianças de até seis anos da escolinha de refugiados, além de equipamentos para montar um salão de beleza para as mulheres.
O Mais já atuou em outras situações-limite e catástrofes em diversas regiões do planeta, como os terremotos que atingiram o Haiti em janeiro 2010 e o Nepal, em maio do ano passado.
“Vamos levar secador de cabelo, cremes, pentes, escovas e chapinha para alisar os fios. E também linhas, agulhas e tecidos para que as refugiadas façam crochê, bordados e outros trabalhos manuais. O objetivo é dar oportunidade a elas de ter uma fonte de renda, vendendo seus produtos para as moradoras das cidades vizinhas ou atendendo no salão”, afirma Kátia.
TRABALHO SOCIAL Embora não conheça o Oriente Médio, a pastora conta que a ajuda humanitária sempre esteve nos seus planos e projetos, tanto que esteve várias vezes em Cuba desenvolvendo trabalho social. “Essas viagens não têm nada de turismo", revela, lembrando que a vida no país caribenho melhorou um pouco ultimamente, daí a mudança de rota para a área de refugiados.
Nas reuniões preparatórias, o grupo vem estudando costumes locais para interagir melhor com os refugiados, a maioria formada por muçulmanos.
“Sei que não podemos tocar nas pessoas, olhar nos olhos ou rir alto, da mesma forma que homens e mulheres não podem conversar sozinhos.
Para evitar surpresas com as altas temperaturas na região, os voluntários optaram pelo mês de outubro, quando o clima fica mais ameno na Jordânia.
Da caravana solidária farão parte o designer gráfico e fotógrafo Sandro Gonzalez, de 23 anos, filho de Kátia; a corretora de imóveis Graça Carvalho, com experiência em Cuba e pronta para comandar a oficina de trabalhos manuais; o casal Paulo Henrique Leal Soares, publicitário, e Fabiane Dias Lopes, médica; a estudante Marcela Albuquerque, de 17; a engenheira civil Izabela Ponzoni; os professores Maizel Rocha e Jônatan Ribeiro; e a blogueira Anna Barroso.
“Vamos levar carinho às pessoas e ensinar trabalhos manuais, para que as refugiadas tenham uma fonte de renda e saiam da depressão”, revela Graça com um sorriso de confiança. Izabela se diz em paz, revela que aceitou de imediato o convite para integrar o grupo e quer transformar os ensinamentos de Cristo em solidariedade.
Ela já participou da ação Varal Solidário, em BH, e esteve em Barra Longa, na Zona da Mata, ajudando na limpeza de casas atingidas, em 5 de novembro, pela lama da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central. “Muita gente me pergunta se estou com medo e respondo não: vamos levar o amor”, ressalta Izabela.
Com o coração aberto, a médica Fabiane está disposta a ajudar no que for preciso. “Energia positiva é fundamental”, conta, com simpatia. “Estou inteirada dos costumes e sei que não vou poder rir alto”, avisa com bom humor.
Mais experiente em viagens, pois já esteve na Índia e no Nepal, um mês depois do terremoto, Sandro lamenta a situação crítica vivida pelos refugiados, enquanto Anna se mostra feliz por levar a palavra de Deus..