Quando o filho Tiago Quaresma Reis nasceu há seis meses, a professora Cíntia Morais Quaresma, de 34 anos, ficou tocada ao ver o sofrimento de mães de recém-nascidos internados. De um lado, a dor da separação e de não poder levá-los para casa. De outro, a dificuldade de amamentação pela falta de estímulo. Ela não teve dúvidas: precisava ajudar essas mulheres de alguma forma. Cíntia se tornou uma das 90 doadoras de leite materno do Sofia Feldman, na Região Norte de Belo Horizonte, hoje é uma ativista da causa e terá papel ainda mais fundamental a partir do fim do ano, quando o hospital vai inaugurar seu banco de leite, o segundo da capital.
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Amamentação em público vira direito garantido por lei em BHConheça o Banco de Leite da Maternidade Odete Valadares e saiba como doarHospital Sofia Feldman inaugura banco de leite humano para amamentaçãoRodoviária de BH recebe evento sobre a importância da doação de leite maternoAlém de doar, mulheres com dificuldade de amamentar poderão também procurar o banco para ajuda e orientações. A expectativa é firmar parcerias com postos de coleta, a exemplo o que já ocorre com o Centro de referência de gestantes privadas de liberdade de Vespasiano, na região metropolitana, cujas detentas são doadoras. “A partir do momento que começarmos a atender como banco, poderemos fazer parcerias com muitos lugares”, diz Cíntia.
O banco do Sofia Feldman poderá desafogar um pouco a demanda do Odete Valadares. Além de receber o leite materno para pasteurização, o serviço compreende assessoria técnica a outros bancos do estado, montagem de bancos e de postos de coleta e treinamento. No Brasil, foi pioneiro com a experiência dos postos. O primeiro em Minas foi em Betim, na Grande BH, hoje banco de leite. “A abertura desse banco no Sofia vai contribuir para ajudar a atender a clientela de BH e as crianças internadas lá.
O leite que chega à maternidade é destinado aos prematuros que nasceram no hospital e naqueles localizados a até seis horas de distância. Ao todo, são 12 municípios parceiros, de pequeno e médio porte, que podem atuar como posto de coleta, mas não como banco, pelo fato se ser necessário mais tecnologia e pessoal. “Como eles têm menos crianças, metade do leite que coletam resolve para eles”, diz.
O Odete capta de 250 litros a 300 litros de leite por mês. Mas, por causa da demanda, ao dividir com os parceiros, o número que parece alto acaba não representando tanto. Esse é um dos maiores volumes captados no país. Entre o Odete e os postos, são quase 300 doadoras cadastradas, que não precisam ir ao hospital nem aos postos. As interessadas em doar seu excesso de leite podem entrar em contato com a maternidade ou os postos de coleta, que têm seus respectivos serviços de busca do leite em domicílio. Para se cadastrar, as mães recebem visita de uma equipe de saúde e devem encaminhar para a médica responsável pelo banco exames que comprovem que está saudável.
Para Hercília, seriam necessários pelo menos mais quatro bancos para suprir a demanda da capital e de cidades do entorno.
A professora Cíntia Morais Quaresma diz que não tinha consciência de como funcionava a doação de leite até se deparar com a situação, no Sofia Feldman. Alguns meses depois de se tornar doadora, uma amiga do marido, o artista plástico Igor Reis, de 34, morreu após o parto e a menina dela, hoje com 1 mês e meio de vida, começou a receber leite de doadoras. “Nunca imaginei que algo tão próximo ocorreria, porque quando se está doando, você doa para qualquer pessoa. Vários amigos me pediram para doar leite para o Sofia, por causa desse bebezinho, e eu já era doadora. Foi mais um incentivo para continuar”, diz.
Ela acredita que, com o banco, mais mães se tornarão doadoras, já que o Sofia é uma das maternidades referência em BH, com média de 1 mil partos por mês. “Tenho várias amigas que, por causa dessa fatalidade, queriam doar, mas o Sofia depende muito do Odete, que não conseguia pasteurizar o tanto de leite que recebe. Veio a calhar esse banco, que será superimportante para suprir essa necessidade de BH”, destaca a professora.
Mais informações: (31) 3298-6008 ou 3337-5678 (Odete Valadares)
PASSO A PASSO
Quem pode ser doadora de leite humano?
Algumas mulheres quando estão amamentando produzem um volume de leite além da necessidade do bebê, o que possibilita que sejam doadoras de um banco de leite humano.
Como preparar o frasco para coletar o leite humano?
- Escolha um frasco de vidro com tampa plástica, pode ser de café solúvel ou maionese;
- Retire o rótulo e o papelão que fica sob a tampa e lave com água e sabão,
enxaguando bem;
- Em seguida coloque em uma panela o vidro e a tampa e cubra com água, deixando ferver por 15 minutos (conte o tempo a partir do início da fervura);
- Escorra a água da panela e coloque o frasco e a tampa para secar de boca para baixo em um pano limpo;
- Deixe escorrer a água do frasco e da tampa. Não enxugue;
- Poderá ser usado quando estiver seco.
Como se preparar para retirar o leite humano (ordenhar)?
O leite deve ser retirado depois que o bebê mamar ou quando as mamas estiverem muito cheias.
Como guardar o leite retirado para doação?
O frasco com o leite retirado deve ser armazenado no congelador ou freezer.
Na próxima vez que for retirar o leite, use outro recipiente esterilizado e ao terminar acrescente este leite ao frasco que está no freezer ou congelador.
O leite pode ficar armazenado congelado por até 15 dias.
Fonte: Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano/ Fiocruz .