O influenza está mais letal este ano. Em média, de cada 2,7 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) causada pelo vírus, um resultou em morte em Minas Gerais. No auge da epidemia, em 2009, a proporção era de uma morte a cada 5,9 casos graves. Além de uma mudança nas características do vírus, a contaminação de pessoas com doenças preexistentes e, portanto, mais suscetíveis, pode explicar o quadro, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Especialistas apontam uma melhora no sistema de notificação.
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Influenza A mata mais três pessoas em Minas GeraisBH tem mais três casos de H1N1 e diagnósticos graves de influenza chegam a 25Mortes por influenza sobem 27,7% em Minas Gerais e já chegam a 23Minas registra os primeiros casos de contaminação por Influenza em 2018PBH e Governo de Minas lançam campanha de vacinação contra gripe em BHMinas tem o maior número de mortes em decorrência da gripe desde 2009No Brasil, a Região Sudeste concentra o maior número de casos (6.051) de influenza A, sendo 1.121 óbitos. Os dados de Minas Gerais só perdem para São Paulo, que tem 799 casos da doença e 746 mortes decorrentes dela, segundo o Ministério da Saúde. “Quando as pessoas adoecem em maior proporção, sobretudo se comparado a períodos anteriores, pode-se inferir que a virulência está mais acentuada. Uma das características do vírus influenza é a sua capacidade de mutação a cada sazonalidade. Alguns fatores como a suscetibilidade dos indivíduos, e a globalização, por exemplo, podem potencializar tais alterações”, afirma a coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis da SES, Tatiane Bettoni.
Tatiane ressalta que a influenza é uma doença que pode trazer complicações e acarretar quadros mais graves, e até mesmo óbitos, principalmente quando associada a algum fator de risco. “É sabido que as comorbidades (ocorrência simultânea de dois ou mais problemas de saúde em um mesmo indivíduo), aumentam as chances de complicações pulmonares da gripe. E que a gripe, por sua vez, também pode levar ao agravamento de doenças crônicas, como cardiopatias, doenças pulmonares, diabetes, etc.”, acrescenta.
Fatores de risco Pessoas com doenças crônicas, uma vez acometidas pela influenza, têm mais chances de ser hospitalizadas. De acordo com o Informe Epidemiológico, 73% dos óbitos ocorridos por influenza são de pessoas com comorbidades. “Assim, podemos considerar que comorbidades se caracterizam como fatores de risco e que a gripe se caracteriza como fator de desequilíbrio de tais condições”, afirma Tatiane.
A circulação mais precoce do vírus este ano também pode estar relacionada ao alto número de casos, mas, segundo a coordenadora, não se pode cravar que esse fator foi determinante para o aumento no número de óbitos. Ela afirma que as circunstâncias que contribuíram para o cenário atual serão melhor conhecidas ano que vem, quando serão concluídas as análises. “Sabe-se que o vírus influenza sempre surpreende, dada sua capacidade de variabilidade genética”, diz. Tatiane destaca que as medidas preventivas são muito importantes na prevenção, dado que a transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada ao falar, tossir, espirrar ou pelas mãos.
Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Estevão Urbano, o aumento do número de mortes tem que ser investigado a fundo. Mas, citou algumas hipóteses. “Podemos ter o vírus mais agressivo e mais letal, mas também a melhora no modo de confirmação do diagnóstico, que incluem casos que antes não eram relacionados e agora são”, afirmou.
Segundo Urbano, o sistema de saúde precisa se capacitar para atender os pacientes com gripe e evitar a mortalidade.
Tatiane Bettoni ressalta que a vacinação contra a influenza é uma das medidas mais efetivas para a prevenção da gripe grave e de suas complicações. Segundo ela, o objetivo da vacinação é reduzir dramaticamente o número de casos graves, hospitalizações e mortes. “Cabe atentar que, em uma mesma temporada de influenza, podem ocorrer infecções por mais de um tipo ou subtipo de vírus e, dependendo da virulência das cepas circulantes, o número de hospitalizações e mortes aumenta substancialmente, não apenas por infecção primária, mas também pelas infecções secundárias por bactérias, por exemplo.”
Doutora em clínica médica, Télcia Vasconcelos Magalhães acredita que a melhoria do sistema de notificações e de identificação do vírus pode ajudar a explicar a situação de 2016. “Os médicos estão mais cientes da situação e, por isso, mais rigorosos no diagnóstico, pedindo mais exames. E, agora, a notificação é compulsória. Muitas pessoas morriam, por exemplo, de pneumonia, uma complicação da influenza, e em vez de notificar como H1N1 registrava-se a outra doença como causa da morte”, conta.
PEREGRINAÇÃO Um profissional da área de saúde que preferiu não se identificar, morador de Belo Horizonte, que contraiu H1N1 no fim de março, é um retrato do perfil traçado pela SES nos casos graves deste ano. Portador de doença autoimune, ele tinha acabado de chegar numa cidade do Centro-Oeste do país quando começou a passar mal. Dois dias depois, com febre acima de 39,5 graus, ele procurou um serviço de saúde e foi informado pelo médico de que a reação, uma suposta alergia ao calor, era comum em pessoas de outras cidades.
Ele foi orientado por um amigo de BH a voltar imediatamente e, de posse de uma receita do antiviral indicado nesses casos, dada por uma colega, passou por uma verdadeira via-sacra na tentativa malsucedida de encontrar o remédio no outro município e em BH. O protocolo do Ministério da Saúde recomenda tomar o remédio em até 48 horas, para reduzir os sintomas e a probabilidade de complicações da infecção. Dados da SES mostram que, dos óbitos ocorridos no estado, apenas 24% dos doentes receberam o medicamento. No caso do morador de BH, a consequência foi o agravamento da doença, que evoluiu para pneumonia. Ele ficou de cama por mais de 20 dias. “Há desconhecimento de parte dos profissionais para o diagnóstico e o tratamento”, reclama.
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Predomínio de cepas é variável
Na grande maioria das vezes, os casos de gripe são leves e se resolvem espontaneamente sem sequelas ou complicações. Mas, nos grupos mais vulneráveis, podem haver complicações e outras doenças graves – são de notificação compulsória os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A gripe pode ser causada pelos vírus influenza A, B e C. Os vírus A e B apresentam maior importância clínica. Estima-se que, em média, as cepas A causem 75% das infecções, mas em algumas temporadas ocorre predomínio das cepas B. Os tipos A e B sofrem frequentes mutações e são responsáveis pelas epidemias sazonais, também por doenças respiratórias com duração de quatro a seis semanas e que, frequentemente, são associadas com o aumento das taxas de hospitalização e morte por pneumonia. Já o tipo C causa problemas respiratórios leves e infecta humanos, cachorros e porcos. O H1N1 é um subtipo do vírus A.
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Predomínio de cepas é variável
Na grande maioria das vezes, os casos de gripe são leves e se resolvem espontaneamente sem sequelas ou complicações. Mas, nos grupos mais vulneráveis, podem haver complicações e outras doenças graves – são de notificação compulsória os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A gripe pode ser causada pelos vírus influenza A, B e C.