Investigado desde fevereiro, quando as jovens desapareceram no país europeu, ele foi detido enquanto trabalhava em uma obra da construção civil na capital.
O homem, natural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, também morava em Portugal na época do sumiço das brasileiras, mas voltou ao Brasil dias depois de a polícia portuguesa ser comunicada dos desaparecimentos. Monitorado desde então pela Polícia Federal, ele ficou em Belo Horizonte, de onde saiu poucas vezes, segundo a própria PF.
Ontem, durante a prisão, Dinai não ofereceu resistência. Ele foi ouvido pelo delegado responsável pelo caso, Roberto Câmara. A prisão foi necessária, segundo o policial, para facilitar o trabalho de investigação, diante da maior peça-chave do caso: no dia 26 de agosto, a Polícia Judiciária portuguesa localizou os corpos de Michele Santana Ferreira, Lidiana Neves Santana e Thayane Milla Mendes Dias no local de trabalho do suspeito, em Portugal.
Segundo fonte da PF, no depoimento de ontem, Dinai negou que tenha cometido o crime e disse não saber como os corpos foram parar no local onde ele trabalhava. A PF agora aposta na análise de dados de aparelhos de celulares apreendidos para comprovar a autoria do crime.
“Ele estava tranquilo no momento da prisão, mas não confessou (na hora em que foi preso) que tenha cometido os crimes. É direito dele falar ou não. Nas duas outras vezes em que prestou depoimento, antes da localização dos corpos, negou que tenha matado as mulheres”, afirmou o delegado.
Câmara diz que, antes da localização dos corpos, não tinha elementos para pedir a prisão do suspeito. A PF considera que o desaparecimento das três mineiras ocorreu em maio, mas as famílias afirmam que ficaram sem notícias em 2 de fevereiro, quatro dias depois de Thayane ter chegado a Portugal.
Na ação de ontem, além do mandado de prisão temporária, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na residência do preso e um mandado de condução coercitiva, todos expedidos pela Justiça Federal de Belo Horizonte. Dinai será encaminhado para a Penitenciária Nelson Hungria, onde permanecerá à disposição da Justiça.
Se confirmada a autoria do triplo homicídio qualificado e da ocultação de cadáver, ele poderá ser condenado a até 99 anos de prisão. A prisão tem prazo inicial de 30 dias.
A notícia da prisão repercutiu entre familiares de Thayane, que tinha 21 anos e nasceu em Ataléia (Vale do Mucuri), de Michele, de 28, e de Lidiana, de 16, irmãs e naturais de Campanário.
“Pelo menos temos o sentimento de que a justiça começa a ser feita. Ele era o maior suspeito e estava aí, solto, vivendo tranquilamente em BH, como se nada tivesse acontecido”, queixou-se o pai de Thayane, o caminhoneiro Galvany Palmela Galvão, de 52. Na semana passada, ele veio a BH para trazer provas que pudessem contribuir para a identificação dos corpos.
“Só queremos que ele diga por que fez isso. A polícia está fazendo autópsia dos corpos e vai apontar o que pode ter acontecido, mas só vamos saber quando ele abrir a boca”, disse Vinícius Santana Ferreira, irmão de Michele e Lidiana.
A mãe das duas, a auxiliar de serviços gerais Solange Santana Leite, de 50, pediu justiça. “Não sinto nada por este rapaz, nem ódio e nem pena. A única coisa que faço é pedir a Deus a justiça”, disse.
GRAVIDEZ Para os familiares das jovens, a gravidez de Michele, que esperava um filho de Dinai, pode ter levado o homem a cometer os crimes. Ele, que é casado, mantinha um relacionamento extraconjungal com Michele.
O Itamaraty informou no fim de agosto que o governo brasileiro não tem como arcar com o traslado dos corpos das jovens, podendo apenas ajudar a agilizar os trâmites burocráticos. Ontem, afirmou que somente a família pode dar informações sobre a transferência dos corpos.
Linha do tempo
28 de JANEIRO - A mineira Thayane Milla Mendes Dias chega em Portugal, na Europa. Natural de Ataleia, no Vale do Mucuri, ela foi para Portugal para morar com as amigas Michele, de 28, e Lidiana, de 16, que são irmãs e naturais de Campanário.
2 de FEVEREIRO - Os familiares das três brasileiras não têm mais notícias das três e acionam a polícia portuguesa, que começa a investigar o paradeiro das jovens.
23 de FEVEREIRO - Apontado como suspeito pelas famílias, o também mineiro Dinai Alves Gomes, de 34 anos, residente em Portugal, viaja de volta para o Brasil. Em Belo Horizonte, ele chegou a ser ouvido pela Polícia Federal duas vezes e negou que tenha matado as amigas.
28 de AGOSTO - A Polícia Judiciária Portuguesa comunica à Polícia Federal a localização dos três corpos em um tanque no hotel para cães e
gatos onde Dinai trabalhava,
no país europeu
5 de SETEMBRO - A Polícia Federal prende Dinai em uma obra onde ele trabalhava na capital mineira e também cumpre mandado de busca e apreensão na residência dele. Segundo a PF, suspeito se manteve em BH durante a maior parte do tempo desde a época dos desaparecimentos.