Jornal Estado de Minas

Público no Parque Ecológico da Pampulha não reduz com risco de febre maculosa

No primeiro dia livre depois da morte de uma criança de 10 anos com suspeita de contaminação pela bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa, e passagem pelo Parque Ecológico da Pampulha, em Belo Horizonte, o número de pessoas na área de lazer não diminuiu. Os frequentadores se dividiram basicamente em dois grupos. Os que tiveram notícia do caso redobraram os cuidados na vigilância contra o carrapato-estrela, que transmite a doença ao homem, com atenção especial à conduta das crianças. Já aqueles que não sabiam do ocorrido mantiveram o costume e aproveitaram o espaço jogando futebol, correndo e até rolando na grama. Quando perguntada sobre a situação das capivaras, que são hospedeiras da bactéria da febre maculosa, a população é unânime em afirmar que a Prefeitura de BH precisa tomar uma providência que resolva o problema e deixe os frequentadores mais tranquilos para aproveitar o parque.

Ontem, durante o feriado da Independência do Brasil, a auxiliar administrativa Samilla Bragança, de 23 anos, já tomava cuidados especiais com relação aos três filhos, principalmente o mais novo, Leonardo Henrique, de apenas três meses. Ela vai ao parque com frequência e ontem esteve no local pela primeira vez depois da morte que está sendo investigada. “Eu costumava deixar o bebê deitar no forro por cima da grama, mas hoje (ontem) já ficou direto no meu colo. Fiquei com um pouco de receio.

Procuro sempre a área gramada mais baixa, longe da parte de vegetação mais densa”, afirma.

Ela também tem atenção especial aos dois filhos mais velhos, vistoriando a roupa da dupla na busca por carrapatos. Para deixar pais e mães mais tranquilos, ela acredita que é necessário uma ação da PBH para remover as capivaras. “Acho que o certo seria retirá-las. A gente sabe que existem entidades que defendem os animais, mas e a saúde das pessoas?”, questiona. O casal Roney Ramos Moura, de 37, e Elisângela Ferreira Moura, de 38, esteve ontem no parque com os filhos Manassés, de 3, e Esther, de 7. “A gente sempre dá uma vistoriada na roupa das crianças e nelas para ver se não tem carrapato. Há um mês, tirei um carrapato do meu corpo aqui no parque, mas não tive problemas”, afirma Roney.
“Também acho que deveriam dar uma solução para as capivaras”, diz Elisângela. Roney acrescenta que se novos casos aparecerem, o parque pode acabar perdendo seus frequentadores. “Esse é um dos melhores lugares da cidade. Se nada for feito, o público vai sair daqui”, afirma.

Já o metalúrgico Valter Ronaldo, de 33, e a operadora de caixa Emiliana Maria dos Santos, de 36, não estavam sabendo da morte de um garoto que pode estar ligada à contaminação pela bactéria da febre maculosa. Os filhos Erick, de 7, e Everthon, de 10, gostam de subir os montes gramados correndo e também de deitar na grama. “A gente dá uma olhada rápida nas crianças para ver se está tudo certo”, afirma Valter.



MORTE SUSPEITA A morte de T., de 10 anos, ocorreu depois que ele participou de uma atividade de um grupo de escoteiros em 20 de agosto no Parque Ecológico da Pampulha. Em 2 de setembro, deu entrada em um hospital de BH apresentando mal-estar. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o quadro se agravou e o menino apresentou machas no corpo (petéquias), cefaleia (dor de cabeça intensa), icterícia (coloração amarelada da pele), febre, mialgia (dor intensa) e dor abdominal.
A secretaria aguarda resultados dos exames da Funed para saber se o caso será confirmado como febre maculosa. Segundo a pasta, não há casos confirmados em 2015 e 2016 na capital.
 
Em 2014, exames feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) apontaram que 28 capivaras moradoras da Lagoa da Pampulha estavam com a bactéria Rickettsia rickettsii. Na época, cerca de 90 animais viviam na orla, sendo que 46 foram capturados para exames. Apesar de a sorologia positiva não significar que os bichos estavam doentes, eles eram hospedeiros da bactéria, que é transmitida ao homem pelo carrapato-estrela. Em setembro do mesmo ano, dentro do plano de manejo autorizado pelo Ibama, foram capturadas 52 capivaras. Elas foram levadas para dois recintos no parque ecológico com condições adequadas de tratamento, segundo a PBH. Ainda assim, 28 delas morreram. Em janeiro de 2016, por determinação judicial, a Fundação Zoo-Botânica (FZB) soltou 14 capivaras, que não apresentavam carrapato portador da bactéria de febre maculosa.

A FZB informou que desenvolve ações para evitar a incidência de carrapatos no Parque Ecológico. Toda a vegetação é podada e a grama é mantida rasteira, para facilitar a penetração dos raios solares, que não são favoráveis aos carrapatos. Também é feita a irrigação de toda a área de visitação do parque, principalmente na época da seca, quando ocorre a maior proliferação de carrapatos.
Neste momento, não há previsão de fechamento do parque ou restrição das visitas.

 

 

 

 

Memória

Morte em 2014

No início de 2014, o estudante Samir Assi, de 20 anos, morreu em decorrência da febre maculosa, doença transmitida pelo carrapato-estrela. Familiares do jovem acreditam que ele foi contaminado após um passeio de bicicleta na orla da Lagoa da Pampulha.
Samir apresentou os primeiros sintomas da doença no dia 31 de janeiro, 10 dias depois que ele andou de bicicleta pela orla da lagoa. Familiares do jovem disseram ainda que ele havia acabado de chegar de uma viagem pela Europa e estava bem de saúde. No dia 4 de fevereiro, os médicos de um hospital particular onde o estudante estava internado passaram a tratar a febre maculosa, depois de descartar as hipóteses de dengue, hepatite A, leptospirose, entre outras doenças. Apesar do tratamento, o rapaz morreu no dia 8 de fevereiro. O primeiro teste dando positivo para a doença foi confirmado no dia 11 de fevereiro pela Funed. No dia 14, uma análise complementar confirmou o diagnóstico.
Desde 2012, já foram confirmados cinco casos de febre maculosa na capital. Dois com registros de morte.
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