Moradora há 15 anos de Sabará, a empresária Valéria descobriu, há 12, a água brotando no meio das pedras. No início, viu que não seria fácil chegar constantemente ao local, que fica a 210 metros da estrada do chacreamento, num acesso com descidas fortes e pedras escorregadias, embora em meio a vegetação exuberante. Mesmo com o grau de dificuldade, ela passou a ir regularmente ao ponto, recolhendo na lata as folhas mortas, de forma a não impedir a vazão do precioso e cristalino líquido. “É potável, de ótima qualidade. Pode beber sem problemas, pois cuido muito dessa área”, conta a empresária, que “todo sábado e feriado”, conforme explica, segue até o seu “pequeno paraíso”.
Preocupada com a escassez de água em muitas regiões mineiras, e citando a seca do ano passado, Valéria explica – e mostra, com documento – que a nascente está cadastrada no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). “Tenho feito esse trabalho de preservação, sozinha. Uma vez, puseram fogo no mata, por causa de um enxame, e muitas árvores foram destruídas. Tive que replantar várias espécies”, conta, mostrando ipês-amarelos ainda com um restinho de floração, jatobás, coqueiros e outras, a exemplo das samambaias enormes, margeando o riacho que se forma no alto.
Com mais de 500 propriedades, o Chacreamento Ipê Amarelo ocupa as terras antes pertencentes à Fazenda Bernardo Monteiro, revela a líder comunitária. Do alto do caminho que leva à estrada BH-Sabará, via Marzagão, ela mostra a mata, de verde mais vivo, encravada num vale – o panorama destoa do restante da vegetação que esturrica ao sol e à falta de chuva. “Para mim, a mina d’água sempre será um paraíso. Se pudesse, moraria ali no meio, longe de todos os problemas”, brinca a líder comunitária.
Quem se beneficia da água da propriedade de Valéria não tem do que se queixar. Só agradece. É o caso de Nilza Monteiro de Assis, que vive na companhia da mãe, Geralda, e da filha Jéssica. Na casa, a cisterna com 28 metros de profundidade, está seca. “Essa água é tão clara que dá pena até lavar roupa”, afirma Nilza, com um sorriso, enquanto mostra o líquido saindo da torneira. Dizendo-se muito satisfeita por não pagar pelo consumo, a dona de casa lembra que, num domingo, a mangueira arrebentou e ela foi até perto da nascente, com Valéria, para fazer o conserto.
Valéria fica feliz com a cena, e faz o alerta para que todos economizem água, mesmo quando há fartura. E sabe que nunca é demais lembrar. “Precisamos cuidar da natureza, do planeta. E o principal é não desmatar”, orienta.