Um problema urbano, um desafio para a saúde pública, uma batalha judicial e uma controvérsia entre especialistas, tudo concentrado em uma única espécie de animal: as capivaras da Pampulha. Depois que a contaminação por febre maculosa matou uma criança de 10 anos em Belo Horizonte, intensificou-se a polêmica em relação ao destino dos animais, hospedeiros da bactéria que causa a doença e do carrapato que a transmite. O futuro dos roedores deve ser debatido hoje em reunião no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na capital, e o tamanho da lista de convidados dá a dimensão não só da gravidade da questão, como da dificuldade de solucioná-la. Devem participar do encontro em busca de uma solução representantes das secretarias municipais de Saúde e do Meio Ambiente, da Fundação Zoo Botânica, do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil Municipal, da Polícia Militar do Meio Ambiente e do Ministério Público estadual.
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Mãe de menino morto por febre maculosa em BH critica demora no diagnósticoSaúde de BH defende ação da rede em caso de febre maculosaPBH abre guerra contra o carrapato transmissor da febre maculosa no Parque EcológicoHospedeiras da bactéria que causa febre maculosa, capivaras viram desafioCapivaras devem ser retiradas da Pampulha até sexta-feiraDemora para retirada de capivaras da Pampulha pode gerar multa e até prisão de secretárioJustiça determina que a Prefeitura de Belo Horizonte isole capivarasExame determina áreas de maior incidência do carrapato-estrela na orla da PampulhaManejo de capivaras na Pampulha será discutido hoje no Ministério PúblicoAlém da Pampulha, prevenção à febre maculosa se estende a outros locais de BH e do estadoCarrapatos espantam usuários do Parque Ecológico da PampulhaBH investiga dois casos suspeitos e novo foco de febre maculosaPBH vai estender combate a carrapato da febre maculosa a toda a orla da PampulhaO professor explica que a retirada ou extermínio das capivaras não garante o fim do carrapato-estrela, que transmite a doença.
O especialista lembra ainda que o transmissor da doença é o carrapato-estrela, que, na ausência dos roedores, poderá se hospedar em outros animais de convívio mais próximo com o ser humano, como cachorros, cavalos e até aves. Isso aumentaria o risco de epidemia de febre maculosa. Além disso, a remoção da população de capivaras deixaria o território livre para a chegada de outros bandos à Pampulha.
No câmpus de UFV, Tarcizio orientou trabalho de controle das capivaras e dos carrapatos. A população, então de 68 animais, se reduziu para quatro. As ações envolveram vasectomia dos machos e a ligadura das tubas uterinas das fêmeas.
DESEQUILÍBRIO Outro que defende o manejo das capivaras na lagoa é o especialista em animais silvestres Leonardo Maciel, professor da PUC Minas. Ele também perga a esterilização dos animais adultos. “Elas vivem de 8 a 10 anos. Com a castração, o poder público terá esse tempo para controlar os carrapatos”, diz. Porém, o especialista condena a aplicação indiscriminada de inseticida ou carrapaticida. “Não é viável.
O Movimento Mineiro pelo Direitos dos Animais também é contrário ao extermínio das capivaras. Adriana Araújo, umas das representantes do grupo, defende, além do controle reprodutivo, a implantação de chips nos animais, para que sejam monitorados. Outra medida importante, segundo ela, é a conscientização da população. “O cidadão que encontrar um carrapato no corpo tem que se dirigir a um posto de saúde ou hospital e avisar sobre a situação”, defende. A ambientalista ressalta que o carrapato-estrela é endêmico, ou seja, sua ocorrência é natural na região da Pampulha, e que a retirada das capivaras não eliminaria o parasita. “Seria um desperdício de dinheiro público e abriria espaço para outros grupos migrarem para a região”, afirma.
O debate sobre a situação dos animais na Pampulha já ocupa até a Justiça Federal. Depois de intervenção da prefeitura, que iniciou a retirada das capivaras da lagoa, o Ministério Público entrou com ação no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que concedeu liminar para que os roedores voltassem a ser soltos na orla. O processo seguiu para Brasília e ainda não houve análise do mérito.
ponto crítico
Você é a favor de eliminar as capivaras da Pampulha?
SIM
Romário Cerqueira Leite,
professor de doenças parasitárias dos animais da Escola de Veterinária da UFMG
“Minha posição é pela da eutanásia das capivaras. Na Pampulha não se consegue nada em termos de limpeza pública se elas não forem retiradas.
NÃO
Leonardo Maciel,
especialista em animais silvestres e mestre em medicina veterinária, professor convidado da PUC Minas
“A questão tem que ser tratada como assunto de saúde pública, em termos científicos. Órgãos como Ibama, Secretaria do Meio Ambiente e universidades têm que assumir responsabilidades. A lagoa da Pampulha é um lugar aberto, portanto, retirar as capivaras pode abrir o território para outros animais. Virá um número muito maior do que as que hoje estão lá.