Mudança de rumos, freadas bruscas na Justiça e fechadas entre taxistas e outros motoristas: a chegada a Belo Horizonte do Uber, que completou dois anos na última terça-feira, causou grandes impactos no trânsito, no serviço de transporte de passageiros como um todo e até na segurança pública da capital. Em 24 meses, a proposta do próprio aplicativo passou por grande transformação. Da promessa de oferecer um serviço semelhante aos de táxis luxuosos, com tarifas menores (modelo Black), a empresa agora só cadastra carros para a categoria X, cujos preços são menores – assim como os itens de conforto.
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Dirigir com o Uber vira opção para quem quer fugir da criseUber começa a operar em Uberlândia nesta sexta-feiraJustiça de Minas concede nova liminar a favor do Uber BHTrans diz a taxistas que não vai fiscalizar Uber até decisão final da JustiçaBHTrans vai receber taxistas que querem fiscalização contra UberCasos de violência entre taxistas e Uber podem parar no banco dos réusEx-motorista do Uber em BH vai à Justiça pedir direitos trabalhistasTaxistas preparam aplicativo único que vai reunir motoristas de BH e região metropolitanaDinheiro provoca medo e discórdia entre motoristas do UberNovo concorrente de táxis e Uber começa a operar em Belo HorizonteBHTrans divulga resultado da licitação para táxis de luxo na capital Táxi e Uber ganham um novo concorrente em Belo HorizonteConsiderando os dados informais, a frota do Uber seria praticamente a metade da dos táxis em BH, que soma atualmente 6.992 veículos. Mesmo assim, a disputa com a nova forma de transportar passageiros, sem controle do poder público, afetou a renda dos taxistas.
A crise econômica no país foi outro fator a contribuir para as quedas. Mas a fuga dos passageiros para o Uber levou o diretor do Sincavir a imaginar uma situação antes impensável, se a categoria não tivesse a concorrência do aplicativo e os indicadores econômicos fossem melhores. Dirceu não descarta a possibilidade de os taxistas abrirem mão do reajuste dos valores de bandeirada e de quilômetros rodados em fevereiro de 2017, data-base da categoria. “Há uma possibilidade de não ocorrer aumento. Afinal, não há demanda suficiente para isso”, considera.
A invasão de motoristas do Uber também causou impacto no trânsito, pois já há quem opte por deixar o carro na garagem e pagar pelo serviço do aplicativo, como acredita Frederico Rodrigues, sócio da Imtraff, empresa especializada em projetos para o trânsito.
Um dos poucos dados neste sentido são os apurado em pesquisa encomendada pelo aplicativo ao Instituto DataFolha, realizada no fim de julho, e à qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividade. A sondagem mostra que 21% dos entrevistados na capital mineira são usuários do aplicativo.
Mas alguns desses passageiros sentiram na pele os efeitos da disputa envolvendo a plataforma e os taxistas. Em agosto de 2015, o músico Marcel Telles e a jornalista Luciana Machado foram agredidos por três taxistas no Bairro União, na Região Nordeste da capital. A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais e o trio poderá ser julgado por tentativa de homicídio – o primeiro caso no país motivado pela disputa entre as duas categorias.
LIMINAR Apesar dos impactos causados pelo Uber, a situação do aplicativo continua a mesma perante a prefeitura. O município não concorda com o serviço da forma como é prestado. No início do ano, o prefeito Marcio Lacerda sancionou a Lei 10.900, estabelecendo que o transporte remunerado de passageiros por aplicativos seja feito exclusivamente por motoristas cadastrados na BHTrans. O texto prevê multa de R$ 30 mil em caso de desobediência. Porém, há duas semanas o Uber conseguiu no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) liminar para se desviar dos efeitos da nova legislação.