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Universitária mineira rebate críticas ao cabelo afro e vídeo se espalha pela internetMineiras assumem cabelo crespo com orgulho e independênciaLições das crianças: saiba como meninas de cabelos crespos ajudaram suas mães a assumir os cachosEmpresário declara amor a BH e planeja livro com histórias sobre relações humanasMedicina da UFMG arrecada 400 mechas de cabelo destinadas a perucas de pacientes com câncerNas páginas do livro, ela adianta que os leitores encontrarão relatos de pessoas de todas as partes do Brasil. Histórias, como elas definem, de quem se aventurou a se descobrir pela via da transição capilar. “O livro é um espaço para se conectar e entender as dores e alegrias que nós, mulheres negras, trazemos em vida e em palavras. As histórias se complementam: que todas somos uma e uma somos todas.”
A ideia de criar o livro surgiu logo depois que Walkíria e a irmã Mikaela Gabriele tomaram a decisão de não mais alisarem o cabelo, retirando toda a química da cabeleira. Muitas meninas fazem um corte bem curto, o chamado big chop, para deixar o cabelo crescer de forma natural. Na época, as irmãs resolveram criar campanha para incentivar outras meninas a assumirem a textura.
A batalha não é fácil. Mesmo com a certeza de que querem usar o cabelo natural, as meninas precisam enfrentar comentários que desvalorizam o crespo. “Ia ao salão toda semana, gastava até R$ 120 por mês. Quando cortei, pensei: meu Deus, estou maravilhosa. Para as pessoas foi difícil, para mim foi de boa”, lembra a recepcionista de uma clínica médica Josimara Vieira, de 22 anos.
Walkíria afirma que cada menina vivencia de uma maneira a transição capilar, que é um processo de múltiplos sentimentos e descobertas. “Vai do se aceitar, reconhecer enquanto negra, criar a identidade própria, olhar no espelho, gostar do que vê, também é o de dor, de alegria. Do amar a si mesma”, afirma. E como nem sempre é fácil, muitas meninas foram para a web buscar referências. “A internet vem numa fase fundamental, em que buscamos inspirações em blogs, YouTube, entre outros sites. Para nosso projeto foi um abraço imenso. Foi onde tudo começou.
A poeta Nívea Sabino, de 36, há seis anos optou pelo cabelo crespo, deixando o alisamento para o passado. “Não conhecia o meu cabelo, desde a infância, ele era alisado”, lembra. Referência da ocupação do espaço público na cidade, Nívea usa as rimas para falar das questões raciais em diversos saraus de poesia na cidade. Também atua como arte-educadora levando a discussão sobre assumir a identidade negra para jovens e adolescentes. Nívea é a prova de que assumir o crespo é uma maneira de valorizar a cultura negra e lutar para que ela seja respeitada na sociedade. “Por sermos mulheres e negras, percebemos que temos que travar uma luta diária. Ao acordar e ao dormir”, completa Walkíria.
Três perguntas para
Walkíria Gabriele (à esquerda) e Mikaela Gabriele, autoras do livro Meu crespo, nossa história
Como surgiu a ideia de criar o Cachos da negra?
O Cachos da negra nasceu em 2014 com o desejo de empoderar e incentivar mulheres e homens negros no processo de pré-transição capilar e pós-transição capilar. A ideia surgiu quando estávamos eu Mikaela Gabriele e Walkiria Gabriele no processo de transição e buscávamos pelo site Instagram algumas páginas que divulgassem o cabelo crespo/cacheado para nos inspirarmos. Percebendo então certa carência na divulgação de mulheres negras, com cabelos crespos do tipo 4C (há uma gradação do liso ao mais crespo e o 4C é o mais crespo), resolvemos criar a nossa própria página no Instagram a @cachosdanegra .
Qual o propósito do livro?
Sabendo que o processo de transição capilar é uma fase difícil para quem decide voltar ao natural, pois se reconhecer negra numa sociedade extremamente racista e conservadora é uma luta de afrontamento constante. A motivação maior de continuarmos lutando para que as negras (os) se aceitem enquanto crespas (os) e cacheadas (os) vai muito além da estética capilar, vem com o cabelo a autoestima e o emponderamento.
O que é o empoderamento?
Quando pensamos em empoderamento, trazemos um rosto de uma mulher negra, confiante, resistente e de autoestima. Quando levamos essa palavra para o lado estético do cabelo, percebemos que define todo o processo de aceitação da raiz, da textura, da etnia e do próprio corpo em si. Empoderar é incentivar e buscar incentivo. Nesse processo lançamos a campanha resistência onde meninas e meninos mandavam textos contando seu processo de transição. Que resultou no livro Meu crespo, nossa história. .