O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) foi "falho e omisso" ao fiscalizar a segurança das barragens brasileiras, contribuindo para a tragédia de Mariana, em 5 de novembro do ano passado. A conclusão consta de relatório sigiloso da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso. O documento aponta que a autarquia não foi capaz de garantir a implementação, pela mineradora Samarco, dos padrões exigidos pela Política Nacional de Segurança de Barragens, em vigor desde 2010.
Leia Mais
Laudo pode liberar obra emergencial antes do período chuvoso em MarianaSamarco vai arcar com alta nas contas de energia de famílias atingidas por tragédia de MarianaEspecial do EM sobre Mariana é reconhecidoSamarco admite falha na barragem que causou tragédia em MarianaRenda de principal executivo da BHP é cortada em 50% após desastre em MarianaGoverno libera construção de novo dique da Samarco em Bento Rodrigues, MarianaTécnicos da Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Petróleo, Gás Natural e Mineração do TCU concluíram que o controle das documentações de segurança exigidas por lei das empresas - em especial o plano de ação de emergência - "não é realizado de forma sistemática e rotineira", denotando "fragilidade e precariedade" do DNPM, que teria uma estrutura "deficiente".
O relatório afirma que, nos últimos seis anos, as despesas discricionárias da autarquia, nas quais estão incluídas as relativas às atividades de fiscalização, estão em declínio progressivo. Além disso, o atual quadro de servidores equivale a apenas 62% do ideal. O maior déficit de pessoal está justamente na superintendência de Minas: para atender à demanda de trabalho da unidade, seriam necessários 384 funcionários.
Risco
Até os critérios de classificação de risco são questionados pelos técnicos do TCU. Eles argumentam que a catalogação das barragens em alto, médio ou baixo risco - como a de Fundão era qualificada - tem por base informações declaradas unicamente pelas mineradoras. "Sem análise crítica" dessas informações pela autarquia, os dados seriam pouco confiáveis. "Seguro alegar que o DNPM não detinha, à época do acidente, conhecimento acerca da situação real da barragem", continua o relatório, que critica ainda a falta de conhecimento especializado dos técnicos do órgão - o que impede avaliações mais aprofundadas das situações das barragens. Atualmente, as vistorias são simples check-list.
Apesar de sinalizar os pontos em que a atividade do DNPM tem sido insatisfatória, o relatório recomenda que não se individualize condutas e responsabilidades pela tragédia, que deixou 18 mortos e 1 desaparecido, além de causar danos ambientais irreversíveis ao Rio Doce. "A negligência no trato com os deveres previstos em lei está entranhada na instituição."
Também falta integração entre o órgão central do DNPM e as superintendências regionais.
Os auditores recomendam que se instituam novos procedimentos de acompanhamento, controle e avaliação das fiscalizações realizadas em todo o País, como a implementação de metas e indicadores de qualidade e a padronização de atividades como análises e pareceres técnicos. "Caso a fiscalização não seja aprimorada, o controle exercido pelo departamento não contribuirá para evitar ou mitigar eventuais consequências de novas tragédias, como a que se viu na Barragem de Fundão", conclui o relatório.
Nesta quarta-feira, a assessoria de imprensa do DNPM informou que as respostas serão fornecidas por meio do processo junto ao TCU (Com Estado de Minas). .