Outras suspeitas estão em investigação na capital mineira. No fim da semana passada, dois homens, de 36 e 84 anos, deram entrada no Hospital Eduardo de Menezes com sintomas da doença. O paciente mais novo é cozinheiro e mora na divisa com Sabará. Na noite da sexta-feira ele deu entrada na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Nordeste com febre, manchas na pele e dor no corpo. O homem relatou ter sido picado recentemente por carrapatos. Já o idoso mora em BH, mas estava em viagem pelo interior. Ele foi atendido na UPA Pampulha com febre, dor no corpo e manchas vermelhas. Ele relatou ter tido contato com cavalos na cidade de Guanhães, no Leste de Minas. Nenhum dos dois relatou ter ido à Pampulha.
Segundo a SES, Minas Gerais registrou 12 casos de febre maculosa neste ano, sendo que quatro pessoas morreram. Os casos confirmados ocorreram em Tombos (1), Divinópolis (4), Chiador (1), Belo Horizonte (2), Antônio Dias (1), Senador Modestino Gonçalves (1) e Mathias Barbosa (1). Já as mortes foram registradas em Divinópolis (2), Belo Horizonte (1) e Antônio Dias (1).
Hoje, o entorno da Lagoa da Pampulha será alvo de pesquisas em 11 pontos para identificar possíveis infestações do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. Ontem, trabalho semelhante foi realizado em 19 pontos do Parque Ecológico José Lins do Rêgo, na região. Dependendo dos resultados em laboratório, podem ocorrer novas interdições na unidade de conservação municipal – no dia 4, um menino de 10 anos, que visitou o local com um grupo de escoteiros, morreu em decorrência da febre maculosa, doença transmitida pela picada do carrapato-estrela infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii. No estado já somam 12 casos da doença, com quatro mortes.
Ontem, o parque ficou fechado para que equipe da Gerência de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) fizesse varredura, tecnicamente denominada monitoramento acarológico. Foram recolhidas amostras do parasita para identificação em laboratório. Até o começo da tarde somavam cinco amostras, mas a SMSA não tinha informações do total de carrapatos e a espécie, já que os trabalhos de pesquisa se encerraram no fim da tarde.
O objetivo dos exames entomológicos é identificar os carrapatos e verificar a quantidade estimada nos 19 pontos, disse o gerente de Controle de Zoonoses, veterinário Eduardo Viana. Na sequência, será feito um relatório a respeito da situação. “Sobre a bactéria Rickettsia rickettsii, nem vamos nos preocupar, pois já ficou provado que ela está no ambiente”, afirmou. O resultado dos exames, que serão feitos no laboratório da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), será divulgado em uma semana. As ações foram acompanhadas por Cláudio Faria, diretor de Educação Ambiental da Fundação Zoobotânica de BH (FZB-BH), instituição que administra a unidade de conservação. Na manhã de hoje, o trabalho de coleta será executado na orla da Lagoa da Pampulha.
COLETA Desde as 9h, o grupo formado por um veterinário e três agentes realizou dois tipos de ação nos 19 pontos do parque: a primeira, chamada de arrasto de flanela, consistia em passar um pedaço do tecido branco sobre a grama para que os “invertebrados artrópodes” ficassem agarrados na superfície. “Essa atividade imita o movimento humano, pois os carrapatos também se prendem à roupa, quando as pessoas caminham”, explicou o gerente de Controle de Zoonoses. Entre as 9h e as 10h45, a equipe encontrou carrapatos em cinco dos 19 pontos com o arrasto de flanela.
Viana explicou que as ações ocorrem tradicionalmente em 10 pontos, ao longo do ano. “Desta vez, foram incluídos mais nove, por onde o escoteiro teria passado durante o passeio do dia 4”, afirmou. Na segunda atividade, os profissionais espalharam armadilhas com gelo seco, também sob flanelas brancas, pelo gramado. A explicação é que, como o material libera gás carbônico, a exemplo do corpo humano, os carrapatos se aproximam e ficam sobre os pelos do tecido, facilitando a captura. Uma integrante da equipe lembrou que a prática de esporte, quando as pessoas transpiram muito, não é indicada para a área.
VAZIO TOTAL Desde a morte do escoteiro, a frequência vem caindo muito no Parque Ecológico e, ontem, nem nas imediações eram vistas pessoas caminhando ou pedalando. O vazio era completo. Segundo os técnicos da PBH, o trecho isolado da unidade de conservação compreende áreas do Parquinho 2 e do Memorial Japonês, limítrofes à reserva ambiental localizada nos fundos do Parque. Para as autoridades, a interdição total ainda não está nos planos e tudo vai depender dos resultados dos exames. Viana explicou que, para ocorrer o fechamento temporário, serão necessárias definições de vários setores da prefeitura.