Ontem foi um dia de alegria para a vendedora Valdete de Freitas, de 34 anos. Depois de 9 meses vivendo em Belo Horizonte, a 300 quilômetros da família, que mora em Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado, ela finalmente vai voltar para casa. E vai junto com seu caçula, Wellington de Freitas Santana, de 11, que desde janeiro faz tratamento contra leucemia em um hospital público da capital. A notícia da cura do filhote foi dada oficialmente ontem pelo médico. A partir de agora, Wellington fará apenas controle para monitorar seu estado de saúde. Ainda ressabiado, talvez pela notícia, talvez pela presença da reportagem do Estado de Minas, Wellington estava caladinho.
Mas as outras mães que passam pelo mesmo sofrimento que Valdete e dividem o mesmo teto com ela não escondiam a alegria e, muito menos, a certeza de que seus pequenos (mesmo grande, filho é sempre criança) terão o mesmo sucesso no tratamento. E se algum dia ocorrer algum revés terão novamente um lugar para se abrigar durante esses tempos difíceis. Valdete e outras 27 mães moram na Casa de Apoio Aura (Associação Unificada de Recuperação e Apoio), no Bairro Santa Efigênia, que abriga famílias do interior e seus filhos (de até 18 anos) que precisam ficar na capital para fazer tratamento contra o câncer. Sem nenhum custo, com assistência de enfermagem 24 horas, e toda a infraestrutura necessária para dar suporte às crianças e às mães. Tudo mantido com doações, serviços voluntários e muito amor e dedicação.
“Aqui acontecem muitos milagres. É uma mágica, mas a gente sabe quem faz”, brinca a psicóloga Ana Lúcia Aguilar Machado, diretora da Casa de Apoio Aura, que este ano completou 16 anos de funcionamento e logo estará em uma sede nova e própria. Ela conta que toda vez que a casa precisa de uma vaga para receber alguma família nova, alguém tem alta. Ou quando precisa de algo para completar o tratamento (próteses e equipamentos médicos), aparece uma doação. “É incrível”, conta.
A nova sede da casa vai ser em um prédio de 12 andares, no mesmo bairro, com escolinha, semissuítes para abrigar mães e filhos e ala separada para crianças transplantadas que precisam de cuidados especiais, além de estacionamento e outros recursos que garantem acessibilidade. A mudança para a nova sede ainda não ocorreu por causa de alguns entraves para a liberação do habite-se, mas de acordo com Ana Lúcia, um voluntário se encarrega dos trâmites administrativos para que a mudança logo possa ser feita.
VISITAS “As famílias que chegam aqui passam o tempo que for preciso até se curar. Já teve gente que ficou aqui três anos. E quem vai embora sempre volta para dar um abraço na gente”, relata Ana Lúcia, apontando Liliane Silva da Rocha, de 18, e sua mãe, Risete Silva da Rocha, de 50, que chegaram ontem de Minas Novas para fazer um controle e rever os amigos da Casa Aura. Liliane teve um linfoma em 2005 e viveu na casa durante 11 meses, tempo que durou seu tratamento. Uma vez por ano as duas vêm à capital para fazer acompanhamento. “Minha filha está ótima e curada. Voltou a estudar e tem uma vida normal”, conta Risete. Segundo ela, a experiência com a doença da filha pegou toda a família de surpresa, mas o apoio da Casa foi fundamental. “A gente tem de largar tudo para trás e começar uma vida nova, longe da família, longe de tudo. Então, ter um local de apoio é muito importante”, conta.
Além da moradia, as famílias têm acompanhamento psicológico, fonoaudiólogo, nutricional, fisioterapeuta. E ainda há os voluntários que aparecem sempre para brincar com a meninada, contar histórias, fazer mágicas e sair com as crianças para passear. As mães recebem também uma cesta básica para enviar para o interior, já que muitas abandonam o emprego para acompanhar o tratamento dos filhos. A maioria das acompanhantes das crianças em tratamento, uma exigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são as mães, mas vire e mexe aparece algum pai ou outro parente para também dar apoio.
DESCOBERTA A maioria das crianças que estão na Casa de Apoio Aura descobriram o câncer de repente. Vera Aparecida Miguel Santos, de 35, moradora de João Pinheiro, conta que o filho nunca ficou doente. De repente, no fim do ano passado, começou a reclamar de dores esporádicas de cabeça. “A gente dava um analgésico e passava. Cheguei a levar no médico, mas ele disse que podia ser problema de vista ou televisão demais”. Mas, segundo ela, como as dores se tornaram muito frequentes, ela voltou ao médico e pressionou por um exame mais detalhado e seu filho Luiz Fernando Santos, de 7, foi diagnosticado com um tumor na cabeça já em estágio avançado. Ele está em tratamento desde janeiro. O caso é semelhante ao de Kristian Gabriel, de 8, segundo relata a mãe Keila Alves, de 22. “Eu comecei a achar as mãos e os lábios dele muito brancos e percebi que ele não tinha mais o mesmo ânimo para brincar, vivia cansado. Quando fomos ver, ele estava com anemia e as plaquetas muito baixas”, relata. O resultado foi leucemia. Mesmo caso de Kevelli Rarielly, de 5, de Lassance, que começou a reclamar para a mãe, Katielle Lemos Lopes, de 27, de dores nas pernas. Manchas também apareceram pelo corpo. “Rapidamente ela quase não andava mais. Ficamos muito assustados”, lembra a mãe. Segundo ela, o tratamento começou a ser feito rapidamente, o que garante chance maior de recuperação.
Para discutir a importância desse diagnóstico precoce, a Casa de Apoio Aura realiza quinta-feira o simpósio “Setembro Dourado – Despertar para o câncer infantojuvenil”, que contará com palestra do oncologista Joaquim Caetano Aguirre Neto, que atua em hospitais de referência em Belo Horizonte. O seminário vai das 19h às 22h, no auditório da Fumec (Rua Cobre, 200, Bairro Cruzeiro). As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo e-mail inscrições@aura.org.br. A taxa é um litro de leite integral longa vida. A campanha “Setembro Dourado” tem por objetivo alertar a sociedade para a importância do diagnóstico precoce de câncer em crianças e adolescentes. Segundo os médicos, 70% dos casos da doença podem ser totalmente curados se descobertos no início.
Mas as outras mães que passam pelo mesmo sofrimento que Valdete e dividem o mesmo teto com ela não escondiam a alegria e, muito menos, a certeza de que seus pequenos (mesmo grande, filho é sempre criança) terão o mesmo sucesso no tratamento. E se algum dia ocorrer algum revés terão novamente um lugar para se abrigar durante esses tempos difíceis. Valdete e outras 27 mães moram na Casa de Apoio Aura (Associação Unificada de Recuperação e Apoio), no Bairro Santa Efigênia, que abriga famílias do interior e seus filhos (de até 18 anos) que precisam ficar na capital para fazer tratamento contra o câncer. Sem nenhum custo, com assistência de enfermagem 24 horas, e toda a infraestrutura necessária para dar suporte às crianças e às mães. Tudo mantido com doações, serviços voluntários e muito amor e dedicação.
“Aqui acontecem muitos milagres. É uma mágica, mas a gente sabe quem faz”, brinca a psicóloga Ana Lúcia Aguilar Machado, diretora da Casa de Apoio Aura, que este ano completou 16 anos de funcionamento e logo estará em uma sede nova e própria. Ela conta que toda vez que a casa precisa de uma vaga para receber alguma família nova, alguém tem alta. Ou quando precisa de algo para completar o tratamento (próteses e equipamentos médicos), aparece uma doação. “É incrível”, conta.
A nova sede da casa vai ser em um prédio de 12 andares, no mesmo bairro, com escolinha, semissuítes para abrigar mães e filhos e ala separada para crianças transplantadas que precisam de cuidados especiais, além de estacionamento e outros recursos que garantem acessibilidade. A mudança para a nova sede ainda não ocorreu por causa de alguns entraves para a liberação do habite-se, mas de acordo com Ana Lúcia, um voluntário se encarrega dos trâmites administrativos para que a mudança logo possa ser feita.
VISITAS “As famílias que chegam aqui passam o tempo que for preciso até se curar. Já teve gente que ficou aqui três anos. E quem vai embora sempre volta para dar um abraço na gente”, relata Ana Lúcia, apontando Liliane Silva da Rocha, de 18, e sua mãe, Risete Silva da Rocha, de 50, que chegaram ontem de Minas Novas para fazer um controle e rever os amigos da Casa Aura. Liliane teve um linfoma em 2005 e viveu na casa durante 11 meses, tempo que durou seu tratamento. Uma vez por ano as duas vêm à capital para fazer acompanhamento. “Minha filha está ótima e curada. Voltou a estudar e tem uma vida normal”, conta Risete. Segundo ela, a experiência com a doença da filha pegou toda a família de surpresa, mas o apoio da Casa foi fundamental. “A gente tem de largar tudo para trás e começar uma vida nova, longe da família, longe de tudo. Então, ter um local de apoio é muito importante”, conta.
Além da moradia, as famílias têm acompanhamento psicológico, fonoaudiólogo, nutricional, fisioterapeuta. E ainda há os voluntários que aparecem sempre para brincar com a meninada, contar histórias, fazer mágicas e sair com as crianças para passear. As mães recebem também uma cesta básica para enviar para o interior, já que muitas abandonam o emprego para acompanhar o tratamento dos filhos. A maioria das acompanhantes das crianças em tratamento, uma exigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são as mães, mas vire e mexe aparece algum pai ou outro parente para também dar apoio.
DESCOBERTA A maioria das crianças que estão na Casa de Apoio Aura descobriram o câncer de repente. Vera Aparecida Miguel Santos, de 35, moradora de João Pinheiro, conta que o filho nunca ficou doente. De repente, no fim do ano passado, começou a reclamar de dores esporádicas de cabeça. “A gente dava um analgésico e passava. Cheguei a levar no médico, mas ele disse que podia ser problema de vista ou televisão demais”. Mas, segundo ela, como as dores se tornaram muito frequentes, ela voltou ao médico e pressionou por um exame mais detalhado e seu filho Luiz Fernando Santos, de 7, foi diagnosticado com um tumor na cabeça já em estágio avançado. Ele está em tratamento desde janeiro. O caso é semelhante ao de Kristian Gabriel, de 8, segundo relata a mãe Keila Alves, de 22. “Eu comecei a achar as mãos e os lábios dele muito brancos e percebi que ele não tinha mais o mesmo ânimo para brincar, vivia cansado. Quando fomos ver, ele estava com anemia e as plaquetas muito baixas”, relata. O resultado foi leucemia. Mesmo caso de Kevelli Rarielly, de 5, de Lassance, que começou a reclamar para a mãe, Katielle Lemos Lopes, de 27, de dores nas pernas. Manchas também apareceram pelo corpo. “Rapidamente ela quase não andava mais. Ficamos muito assustados”, lembra a mãe. Segundo ela, o tratamento começou a ser feito rapidamente, o que garante chance maior de recuperação.
Para discutir a importância desse diagnóstico precoce, a Casa de Apoio Aura realiza quinta-feira o simpósio “Setembro Dourado – Despertar para o câncer infantojuvenil”, que contará com palestra do oncologista Joaquim Caetano Aguirre Neto, que atua em hospitais de referência em Belo Horizonte. O seminário vai das 19h às 22h, no auditório da Fumec (Rua Cobre, 200, Bairro Cruzeiro). As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo e-mail inscrições@aura.org.br. A taxa é um litro de leite integral longa vida. A campanha “Setembro Dourado” tem por objetivo alertar a sociedade para a importância do diagnóstico precoce de câncer em crianças e adolescentes. Segundo os médicos, 70% dos casos da doença podem ser totalmente curados se descobertos no início.