Jornal Estado de Minas

PRAZER EM AJUDAR

Feita de bioplástico, nova prótese pode ajudar crianças

Matheus com os pais: ele, que sonha em ser goleiro, pode ser a próxima criança a testar a prótese desenvolvida por incubadora mineira - Foto: Álbum de família“É uma sensação boa usar tudo o que você sabe para fazer a diferença na vida das pessoas”. A frase é de Daniel de Paula Lopes, de 28 anos, formado em engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São Paulo. Mais familiarizado com as descobertas científicas, o jovem não conteve o espanto ao ver uma menina de três anos manipulando a prótese fabricada na impressora em três dimensões (3D), a partir do bioplástico que está sendo testado por ele.


Sem experiência anterior no desenvolvimento de próteses humanas, Daniel e os sócios não tinham noção sobre como a garota receberia a ideia de ganhar uma nova mobilidade. “Tivemos apenas um mês para fazer as medições. Foi uma surpresa. Na primeira entrega, a criança começou naturalmente a mexer com a mão e a brincar de massinha e a colorir”, conta Daniel, que já recebeu outra encomenda. Desta vez, Marcelle Rodrigues Moreira, mãe do garoto Matheus Rodrigues Hubner Moreira, de 10, de Manhuaçu (Zona da Mata), que quer ser goleiro, deve ser presenteada com o equipamento. “Ele já é ótimo na posição, mas lhe faltam parte dos dedos de uma das mãos e ele quer ser capaz de agarrar melhor as bolas”, afirma a gestora do Laboratório Aberto do Senai, Márcia Andrade Carmo de Azevedo.

Na verdade, a peça é fruto da iniciativa da 3D Lopes, empresa especializada em prototipagem rápida, mas com o foco original de desenvolver o chamado plástico verde, que seria fabricado a partir do filamento da cana-de-açúcar.
Se der certo, o processo promete reduzir em até 20% os custos para o emprego da matéria-prima importada dos Estados Unidos, fabricada atualmente a partir do milho. “Como o polietileno verde vem de fonte renovável da cana-de-açúcar, a proposta é ficar menos dependentes do petróleo”, explica. Em seu mestrado no Ita, em dois anos e meio de estudos, Daniel Lopes iniciou o desenvolvimento do polietileno verde, em parceria com a empresa Braskem, para impressão 3D.

AMPLIAÇÃO A partir da ação humanitária, ele já estuda ampliar o foco da empresa, instalada na incubadora Nascente do Cefet/MG e participante de programas de incentivo à inovação como o Edital Sesi/Senai e Sebraetec. Para 2017, a empresa 3D Lopes ganhou mais um edital Senai de Inovação. “Percebemos que o mercado brasileiro ainda está defasado em relação à confecção de próteses por meio de impressoras 3D, que permitem ser bem personalizadas ao detectar as necessidades das pessoas com deficiência, além de ser mais leves”, compara ele, que também fabrica peças impressas para a área da saúde e odontologia.

A semente do projeto surgiu de um encontro inusitado. “Meus pais encontraram com a criança e a mãe dela no supermercado, em Belo Horizonte.
Eles disseram à mãe que a minha empresa trabalhava com impressoras 3D e que seria possível fabricar uma prótese para ela assim” conta Daniel, encantado. Ao longo da história, a menina revelou para a mãe ter o sonho de andar de bicicleta. “Por enquanto, a mãe deixa ela ir treinando segurando o patinete”, diz ele.

Bioplástico feito de álcool de milho 

A prótese desenvolvida por Daniel Lopes é feita de PLA (poliácido lático), um bioplástico feito a partir da extração do álcool do milho que, além disso, é mais forte e mais leve que o plástico comum. A peça é baseada no Hit Arm, iniciativa criada nos Estados Unidos para popularizar e dar acesso a projetos de próteses gratuitamente. Com menor custo de produção, por usar a impressora 3D, a ideia é que crianças beneficiadas troquem de peça uma vez por ano devido ao seu crescimento. “Se acrescentasse custos de mão de obra e material, cada prótese como essa sairia por volta de R$ 5 mil reais. Hoje, uma peça convencional custa entre R$ 12 mil a R$ 20 mil,” calcula Daniel.

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