Depois de ter discutido com uma passageira insatisfeita, o motorista desceu do veículo no ponto da Avenida Getúlio Vargas, antes da esquina com a Rua Alagoas.
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Era por volta das 9h20 quando Paula Duarte, de 40 anos, vendedora de uma boutique de roupas em frente ao ponto da Getúlio Vargas viu a confusão. "Estava chegando na loja e os passageiros queriam convencer o motorista a voltar para o ônibus, dizendo que ele tinha razão e que a passageira que tinha brigado com ele estava errada, mas ele não quis", conta.
O motorista ainda não foi identificado nem pelo sindicato dos trabalhadores nem pelo das empresas de ônibus.
De acordo com as testemunhas, um ônibus da mesma linha que passou depois embarcou os passageiros e outro motorista foi ao local para tirar o veículo abandonado.
A vendedora que viu a confusão conta que o motorista é um senhor que aparenta ser de idade e que estava muito abatido. "Fiquei de coração partido por ele. Parecia que estava muito para baixo, desmotivado, apesar de estar calmo enquanto as pessoas tentavam convencê-lo a voltar", lembra.
De acordo com Patrícia, o veículo estava cheio, com cerca de 30 passageiros. "Tinha gente de tudo quanto é jeito no ônibus: mãe com filho de colo, idoso, estudante, trabalhador. Mas as pessoas, apesar da pressa, davam razão ao motorista", afirma.
Outra vendedora que trabalha em frente ao ponto diz que achou que o ônibus tinha enguiçado. "Está ficando cada vez mais frequente esse tipo de atitude. Nós, passageiros, estamos ficando com medo de um motorista desses nos abandonar no meio do caminho ou até sofrer um acidente antes de parar", disse Adriana Márcia Barbosa, de 44.
Jornada estressante
De acordo com o diretor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de Belo Horizonte (STTRBH), José Márcio Ferreira, fatos como esse voltarão a ocorrer devido às jornadas de trabalho estarem cada vez mais estressantes para os motoristas. Segundo Ferreira, 30% dos profissionais têm problemas de saúde principalmente de cunho emocional, stress e depressão, segundo dados do INSS.
"Os trabalhadores já passam 8 horas dirigindo nesse trânsito caótico, expostos a conflitos com outros motoristas e usuários. Agora, aos fins de semana, têm de trabalhar como cobradores, aumentando ainda mais sua carga. Se já estava ruim, agora isso deve piorar", afirma. De acordo com o diretor do sindicato, membros da entidade estão procurando o trabalhador para lhe dar assistência, mas ele ainda não foi encontrado.
A vendedora da loja em frente ao ponto onde o ônibus circular foi abandonado afirma já ter presenciado um motorista de linha metropolitana passando dificuldades por ter de trabalhar como cobrador também. "Minha mãe e eu estávamos indo do Barreiro para Ibirité e o motorista não conseguia nem dirigir nem trocar o dinheiro dos passageiros. Levamos mais de 2 horas e ela perdeu o compromisso", disse Adriana Barbosa.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que ainda apura o que ocorreu com a empresa Viação Getúlio Vargas que gerencia a linha SC-02A. A BHTrans informou que aguarda informações do Setra-BH para saber se abre um procedimento e informou que aguarda também reclamações ou denúncias de usuários para a abertura de um inquérito. A PMMG informou não ter havido ocorrência sobre o fato.