Porém, ainda não foi desta vez que brasileiros com problemas semelhantes puderam saber como será o futuro. O ministro Teori Zavascki pediu vistas da ação (mais tempo para estudá-la) e com isso o STF suspendeu ontem a discussão que decidirá se o poder público tem obrigação de fornecer medicamentos que não constam da lista do Sistema Único de Saúde (SUS). E não há previsão sobre quando o julgamento será retomado.
Mas, para as famílias, o relógio não para. Nem o calendário.
Certa de que a Justiça poderá ser o caminho mais seguro, a família Rangel procurou na cidade uma advogada para tornar a batalha mais ágil. “Acho prudente esperar a decisão do STF, pois se o município se negar a custear o tratamento e pagar o remédio, vamos ajuizar a ação.
A adolescente de Santa Luzia não está sozinha nesse triste calvário, tecnicamente conhecido como judicialização da saúde, quando o poder público se torna réu em processos para custear medicamentos ou tratamentos não disponíveis na rede. Nunca na história de Minas Gerais tantas pessoas recorreram à Justiça para obter remédios, terapias, dietas e outros itens não fornecidos gratuitamente pelo SUS (veja quadro). A média por dia, conforme dados de 2015 divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), é de 42 ações. No período de 10 anos (2005/2015), houve uma explosão no número de processos, com crescimento de 24 vezes.
ESCALADA Os números que traduzem as angústias e sofrimento dos brasileiros são superlativos em Minas. Só este ano, de acordo com dados da SES, o valor total empenhado com judicialização na saúde foi de R$ 192,9 milhões.
No ano passado, esse tipo de gasto consumiu R$ 238,2 milhões, aumento de 7,7 % em relação ao ano anterior. O coordenador do Núcleo de Atendimento à Judicialização da Saúde da SES, Fabrício Simões, diz que o impacto é grande. “Esse valor sai dos recursos repassados pelo SUS, ou seja, não são gerados novos valores. Assim, este ano o estado deve deixar de investir R$ 250 milhões em outros aspectos da saúde”, afirma. “Esse tipo de ações, individuais ou coletivas, está crescendo cada vez mais. Há muita pressão para forçar a judicialização, inclusive da indústria farmacêutica. É uma situação muito preocupante. Em São Paulo, por exemplo, essa conta já está na casa de R$ 1 bilhão”, explica.
CONSCIENTIZAÇÃO Apesar da controvérsia, para o advogado José Antônio Guimarães Fraga, a judicialização da saúde decorre de maior conscientização dos brasileiros.
Expectativa no Supremo
O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu, pela segunda vez, o julgamento dos recursos extraordinários sobre fornecimento de remédios de alto custo não disponíveis na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) e de medicamentos não registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Trata-se de dois processos emblemáticos, um no Rio Grande do Norte e outro em Minas Gerais, que podem formar jurisprudência para decisões futuras relacionadas a esses assuntos. Desta vez, o adiamento ocorreu porque ministro Teori Zavascki pediu vistas do processo quando havia três votos favoráveis aos pedidos dos pacientes . Não há prazo para entrar na pauta novamente, mas o ministro adiantou que, por se tratar de algo com “repercussão geral reconhecida” sua análise será breve.
No primeiro caso, o estado do Rio Grande do Norte se recusou a fornecer medicamento para uma idosa e carente, alegando que o preço e a ausência de previsão no programa de dispensação de medicamentos seriam motivos suficientes para recusa. A mulher ganhou ação em primeira e segunda instância.
Já no segundo caso, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) negou o pedido da autora da ação, que precisava do medicamento cloridrato de cinacalcete, sem registro na Anvisa à época do ajuizamento.