Jornal Estado de Minas

Parentes de vítima de chuva forte em BH vivem entre a angústia e a esperança

- Foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESSAngústia, apreensão e um fio de esperança permeiam, nos últimos seis dias, os sentimentos de uma família do Bairro Tirol, em Belo Horizonte. Tanto sofrimento se deve ao desaparecimento do motorista de ônibus Wanderley Silva de Freitas, de 45 anos, que caiu no Córrego Tirol, no domingo à noite, durante o temporal que atingiu a Região do Barreiro. As ações de busca, pelos bombeiros, ocorrem ao longo do Rio das Velhas, em Sabará, na Grande BH. “Estamos muitos aflitos com a falta de notícias e preocupados com a saúde da minha avó, mãe do meu tio, que tem 87 anos e não sabe de nada ainda”, disse, ontem, a contadora Dalila Michele, de 33, sobrinha de Wanderley.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, militares do pelotão de Sabará percorrem o Rio das Velhas para tentar encontrar o motorista, que trabalha na linha de ônibus do percurso Estação Diamante- Centro de BH. Com um barco, os bombeiros estão descendo o Velhas até a divisa com Santa Luzia, também na Grande BH. A suspeita é de que o corpo tenha sido levado pela correnteza até o local.

O desaparecimento do motorista, que é solteiro e mora com a mãe, uma irmã, o marido dela e seus dois filhos, se deu quando Wanderley, vindo da igreja, tentava desatolar seu carro, então preso perto da calçada no cruzamento da Avenida Antônio Eustáquio Piazza com a Rua Um, no vizinho Bairro João Paulo. Nesse momento, teria se desequilibrado e caído no curso d’água. Testemunhas contaram que uma das rodas do carro ficou presa às margens do córrego.
Assim, ao tentar olhar embaixo do veículo, ele teria sido arrastado pela força das águas.

As buscas tiveram início na segunda-feira. Os militares percorreram as proximidades do córrego onde a vítima caiu. Em seguida, mudaram as ações para o Ribeirão Arrudas, dentro da empresa Mannesmann, também no Barreiro. No dia seguinte, os bombeiros também fizeram os trabalhos no Centro da capital. Do terceiro dia em diante, as ações se concentraram em Sabará.

Reunião
Na tarde de ontem, a família se reuniu na casa da matriarca, dona Maria, para unir forças e esperar por notícias. “Tio Wanderley é o caçula e a vovó, o xodó da família. Tivemos que inventar uma história: que ele passou mal, foi internado no hospital e teve o quadro de saúde agravado.
Falamos ainda que estamos indo visitá-lo diariamente”, conta Dalila. “O pior de tudo é que ninguém em casa está se alimentando nem dormindo direito. E nem podemos sofrer com o desaparecimento, para não despertar a atenção da vovó”, disse Michele, na companhia dos tios Valdeir, José Danair, Nair e Sônia Maia e das primas Maria Goreth e Cristiane.

“Moramos numa vila de casas, está tudo muito triste, e tem vindo muita gente aqui prestar solidariedade. Numa situação dessas, sem o aparecimento do corpo, não podemos nem dar o tratamento digno que meu tio merece. Ele é uma pessoa boa, amigo, cheio de alegria. Mas sempre fica a esperança de poder encontrá-lo”, afirmou Dalila. Católica, Nair acrescentou que se escora na fé, e se preocupa com a mãe, que tem taxa de glicose alta e pode se sentir mal, caso chegue de repente uma má notícia. Cristiane, de 36, ressalta que o tio não merecia uma situação dessas.
“Só Deus pode ter misericórdia”, disse Cristiane..