A morte do estudante Thales Martins Cruz, de 10 anos, vítima de febre maculosa depois de ter contato com carrapatos no Parque Ecológico da Pampulha, em Belo Horizonte, completa hoje um mês sem que haja uma solução à vista para a ameaça. Além disso, as poucas ações adotadas recebem críticas de especialistas, havendo mesmo quem atribua a elas o agravamento do problema. A expectativa é de que medidas mais concretas de enfrentamento sejam divulgadas quinta-feira, quando representantes de órgãos ambientais e de saúde se reúnem novamente, na Promotoria do Meio Ambiente, para discutir a situação. Transmitida pelo carrapato-estrela, a doença tem mais dois casos confirmados e outros quatro sob investigação na capital.
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Pacientes com suspeita de febre maculosa em Belo Horizonte têm altaEscolas de BH cancelam excursões para a Pampulha devido à febre maculosaSobe para quatro o número de casos suspeitos de febre maculosa em BHConfirmado mais um caso de febre maculosa por contaminação na PampulhaSecretaria de Estado de Saúde confirma mais dois casos de febre maculosa em MinasFuned analisa 15 casos suspeitos de febre maculosa em todo Brasil, dois terços deles em MinasSecretaria de Saúde de Minas divulga alerta para prevenção da febre maculosaAlém da Pampulha, prevenção à febre maculosa se estende a outros locais de BH e do estadoMoradores cobram saída imediata de capivaras da PampulhaCapivaras devem ser retiradas da Pampulha até sexta-feiraExame determina áreas de maior incidência do carrapato-estrela na orla da PampulhaManejo de capivaras na Pampulha será discutido hoje no Ministério PúblicoCinco pacientes ainda aguardam confirmação de exames para febre maculosa em BHO professor Tarcísio Antônio Rêgo de Paula, do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa, responsável por um programa que conseguiu diminuir a população de capivaras e de carrapatos-estrela no câmpus da instituição da Zona da Mata, é um dos convidados para a audiência de quinta-feira.
O especialista considera “desastrosa” a retirada de 52 capivaras da orla da Lagoa da Pampulha, em setembro de 2014, como parte de um plano de manejo autorizado pelo Ibama. Na ocasião, os roedores foram levados para dois recintos separados no parque ecológico. Exames feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) apontaram que 28 deles eram portadores da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa.
“Realmente, já passou da hora de se fazer alguma coisa, há um ano atrás. Inclusive, a morte desse menino pode estar ligada ao recolhimento das capivaras. Ao removê-las, colocaram em risco muito mais as pessoas, pois retiraram uma fonte de alimento dos carrapatos e deixaram uma população de parasitas famintos no chão”, disse o professor.
LENTIDÃO Para a fundadora do Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais, Adriana Araújo, desde a década de 1930 há estudos comprovando que Belo Horizonte é região endêmica para o carrapato-estrela. “A prefeitura esperou acontecer uma morte para tomar providência”, reclama. Ela sustenta que, nas audiências públicas para discutir a questão das capivaras na Pampulha, a administração sempre demonstrou mais preocupação com os roedores atacando os jardins de Burle Marx – pensando no título de patrimônio mundial da Unesco – do que propriamente com a presença do carrapato-estrela e a ameaça da febre maculosa. “Houve uma audiência em que a prefeitura mandou o secretário de Cultura, e não o da Saúde”, denuncia.
Adriana está entre os que defendem a permanência das capivaras na Pampulha como barreiras biológicas ao avanço da doença. “Na Universidade de Viçosa, o Ibama retirou as capivaras a mando da Reitoria e os carrapatos começaram a migrar para os prédios, que precisaram ser interditados. Foi aí que surgiu o professor Tarcísio e resolveu o problema.
Ela sustenta que, se houver retirada dos roedores da Pampulha, os carrapatos podem migrar para vários outros hospedeiros. “A orla da Pampulha é rodeada por haras, hípicas e tem média de 250 carroceiros, conforme números da própria prefeitura. O cavalo é hospedeiro mais frequente do carrapato-estrela do que a capivara”, completa Adriana, lembrando que o foco do combate à doença não podem ser os hospedeiros, mas o próprio parasita.
Mobilização em secretarias
A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou que foi feita uma reunião na sede do Ibama em Belo Horizonte, com representantes do Ministério Público, da Fundação Zoo-Botânica, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, da Sudecap e do setor de Zoonoses, em que ficou decidida a formação de um grupo de trabalho envolvendo esses órgãos para a elaboração de um plano de ações conjuntas de combate ao carrapato-estrela em toda a orla da Pampulha e de manejo da fauna local.
“Inicialmente, a prefeitura avalia a possibilidade de inclusão das ações de combate ao carrapato-estrela e de manejo das capivaras em processo licitatório que está em andamento pela Sudecap, cujo objeto é a contratação de serviços especializados para a realização de monitoramento ambiental e de qualidade das águas na bacia hidrográfica da Lagoa da Pampulha”, informou a Secretaria de Obras.
Já a Secretaria Municipal de Saúde deve divulgar hoje o resultado de exames feitos na região para determinar a incidência do carrapato-estrela. Vários locais foram visitados para coleta do transmissor da febre maculosa. Uma das medidas que deverão ser tomadas é a interdição de áreas infestadas. Ainda de acordo com a Saúde, o relatório indicará as ações a serem adotadas..