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Câmara dos Deputados discute degradação das veredas no cerrado brasileiroSérie do EM sobre degradação das veredas em Minas motiva debate na ALMG Pau-brasil, árvore que batizou o país, tem novo nome científicoProjetos de recuperação prometem resgatar veredas e salvar mananciaisVeredas são assoreadas por estradas construídas sem acompanhamentoDegradação das veredas complica a vida dos pequenos produtoresSem água e com veredas secas, produtores abandonam terras no sertão mineiroAssoreamento das veredas reduz volume e degrada mananciais no Rio UrucuiaQueimadas criminosas acabam com as veredas no cerrado mineiroAs veredas que mataram a sede do narrador da saga, de Diadorim e Zé Bebelo, hoje agonizam e perdem a capacidade de armazenar o líquido no período chuvoso para alimentar córregos e rios ao longo do ano, constatou o Estado de Minas.
No último mês, a reportagem percorreu 2,1 mil quilômetros em 11 municípios na rota dos personagens de Rosa no Norte e Noroeste de Minas Gerais para ver de perto a situação dos brejos, como é chamado pelos sertanejos esse importante ecossistema. O resultado dessa viagem, que incluiu passagens por locais de difícil acesso e entrevistas com dezenas de moradores e especialistas, será mostrado na série que o EM publica a partir de hoje.
O veredito é trágico. Setenta por cento das veredas estão ameaçadas de desaparecer em curto prazo, continuamente maltratadas pelas mãos do homem, revela a pesquisadora do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Maria das Dores Magalhões Veloso, a Dora, que há oito anos se debruça sobre o tema.
Praticamente todas já sofreram algum tipo de impacto e várias estão completamente secas, resultado de incessante degradação: desmatamento, queimadas, monocultura de eucaliptos, produção de carvão, abertura de estradas, projetos de agropecuária mal planejados, pisoteio do gado e assoreamento. Danos que deixam suas marcas nas dezenas de mananciais secos e no sofrimento de centenas de famílias, animais e aves.
Onde antes havia fartura, hoje falta água.
Destruídas as veredas – que funcionam como uma espécie de esponja –, falta reservatório para reter a água da chuva e, numa liberação lenta, perenizar os rios, explica o analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF) Jairo Wilson Viana, que monitora os brejos em Bonito de Minas.
“Qualquer processo degradante em veredas – fogo, abertura de estradas, pastoreio, agricultura no cerrado e na própria área do brejo – reduz o armazenamento de água, porque o solo turfoso, esponjoso, torna-se compacto e o líquido é escoado rapidamente, e não na hora certa, para o leito dos rios”, reforça Dora.
Jairo e Dora – a pesquisadora que integra o projeto “Vereda Vida”, desenvolvido pela Unimontes em parceria com o Ministério Público Estadual – acompanharam o Estado de Minas nas visitas à zona rural de Bonito de Minas. Com eles a reportagem percorreu cerca de 300 quilômetros no município, rompendo estradas em más condições, cheias de bancos de areia, acessíveis apenas por meio de veículos altos e com tração.
Na região, dezenas de veredas, como a sofrida Pindaibal (fotos acima), formam os cursos que deságuam no Rio Pandeiros, afluente do São Francisco. Citado na obra de Rosa, o Pandeiros concentra o chamado “pantanal mineiro”, considerado o mais importante berçário de peixes do Velho Chico.
“Esta região já teve muita fartura de água. Mas hoje os mananciais diminuíram muito por conta do secamento das veredas”, afirma Jairo.
MENOS VAZÃO O problema ultrapassa o Norte e o Noroeste de Minas, atingindo também o Centro-Oeste do estado, onde o fotógrafo Beto Novaes flagrou uma vereda seca, em fazenda da cidade de Pompéu. O impacto atinge a água ao longo de toda a bacia do Velho Chico, o maior rio que nasce e deságua no território nacional, com 2,8 mil quilômetros de comprimento e área de 641 mil quilômetros quadrados, afirma Leandro Gabriel da Costa, secretário-executivo do Conselho Federal da Bacia do São Francisco. Ao longo da viagem, a reportagem viu ainda os sinais da destruição causada pelo inimigo mortal das veredas: o fogo.
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