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Veredas de Guimarães Rosa agonizam no interior de Minas GeraisCâmara dos Deputados discute degradação das veredas no cerrado brasileiroCombate a incêndio em vereda no Norte de Minas ganha reforço nesta terça-feiraSérie do EM sobre degradação das veredas em Minas motiva debate na ALMG Projetos de recuperação prometem resgatar veredas e salvar mananciaisVeredas são assoreadas por estradas construídas sem acompanhamentoDegradação das veredas complica a vida dos pequenos produtoresSem água e com veredas secas, produtores abandonam terras no sertão mineiroAssoreamento das veredas reduz volume e degrada mananciais no Rio UrucuiaA destruição da vegetação da vereda permite a formação de pasto, um benefício imediato e passageiro, mas destrói as nascentes, um prejuízo permanente, explica o técnico do Instituto Estadual de Florestas (IEF) Jairo Viana.
A guerra é dura. Em Bonito de Minas, o Estado de Minas presenciou o combate ao fogo na Vereda da Ema, em 4 de outubro, numa ação que durou quatro dias e envolveu equipes de brigadistas com apoio de um avião do Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio) do IEF (foto acima).
“Uma vereda da região ficou queimando 128 dias e o fogo só se apagou depois que choveu”, conta Viana, ao explicar que as chamas atingem não apenas os buritis, mas também a turfa, a matéria orgânica acumulada no subsolo, a quatro ou cinco metros de profundidade. “Para extinguir o fogo abaixo da superfície é preciso que o solo fique encharcado e só a chuva pode fazer isso”, completa.
Os prejuízos são imensos. A queima da turfa leva ao secamento da vereda.
No local foram vistos bois se alimentando de capim-gordura, espécie nativa nas veredas, que brota após o fogo. “Infelizmente, produtores ateiam fogo na vegetação para depois usar o broto do capim para alimentar o gado.
O problema é que eles conseguem o pasto, mas destroem para sempre as nascentes”, diz o técnico, salientando que “99% das queimadas nas veredas da região são criminosas”. Outro impacto ambiental é provocado pelo pisoteio do gado, que entope as nascentes, destaca.
SEM ESPERANÇA A degradação gerada pelas queimadas é visível na região de Pandeiros, também no município de Bonito de Minas. Em veredas que já ocuparam grandes áreas inundadas, hoje há buritis mortos, vegetação seca e chão esturricado.
“Ela perdeu toda a sua caracterização. O solo foi totalmente modificado após um processo intenso de degradação provocado pelas queimadas”, afirma a pesquisadora Maria das Dores Magalhães Veloso, a Dora, do Departamento de Biologia da Unimontes, que acompanhou a reportagem ao local, de difícil acesso. Só é possível chegar até a Capivara em carro alto e de tração, pelo meio do mato, devido à falta de estradas.
O solo turfoso da vereda tornou-se arenoso após sucessivas queimadas. No lugar que já foi ocupado por buritis e a gramínea característica das nascentes, hoje são vistas plantas do cerrado. “A vereda está totalmente antropizada. Primeiro foi a ocupação das terras pelo homem. Depois, vieram as queimadas, seguidas da criação de gado.
Ainda no município de Bonito de Minas, a vereda do Pindaibal, que forma o córrego de mesmo nome, já foi cheia o ano inteiro. Agora, a fartura de água faz parte da história mostrada em fotos guardadas pela unidade do IEF do município. A vereda está completamente seca ao longo dos seus 18 quilômetros de extensão.
“É de cortar o coração da gente”, lamenta o agricultor Joaquim Barbosa dos Santos, de 67 anos. Sem nunca ter lido livros, Joaquim acaba confirmando que conheceu o “antigo brejo cheio d’água” no mesmo período do lançamento da obra-prima de Guimarães Rosa, que descreve a fartura hídrica da região naqueles tempos.
“Conheço esta vereda há 60 anos. Antigamente, era só água e brejo. Ninguém passava a pé, e cavalo só atravessava nadando. Isso aqui era um pântano com 10 metros de profundidade. Tinha lugar em que a água chegava a 800 metros de largura”, descreve o agricultor, debaixo de uma ponte no leito vazio do Pindaibal, que cinco quilômetros adiante alcança o Rio Pandeiros.
“Aqui tinha muito peixe”, diz Joaquim Barbosa, lembrando que a vereda Pindaibal começou a secar há 10 anos. O agricultor afirma que os danos ambientais foram provocados por empresas agropecuárias que fizeram plantios de arroz, reflorestamentos e criação de gado na região nas décadas de 1980 e 1990.
Na comunidade de Aldeia, perto do distrito de Serra das Araras, no município de Chapada Gaúcha, o agricultor Joaquim Lopo de Oliveira lamenta o quadro do Rio da Catarina, situado próximo a várias veredas e que, muito assoreado, ficou praticamente seco na maior parte deste ano. “É triste ver as veredas secando enquanto a gente passa dificuldades pela falta d água.” .